A UTILIZAÇÃO DO FACEBOOK COMO FERRAMENTA ALTERNATIVA DE ENSINO-APRENDIZAGEM Imprimir
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Escrito por Diego Henrique Magrin   
Sex, 01 de Fevereiro de 2013 00:00

Diego Henrique Magrin[1]

1. INTRODUÇÃO

O envolvente mundo da internet está cada vez mais presente em nossas vidas – blogs, podcasts, wikis, redes sociais – plataformas que possibilitam a interação com o mundo em tempo real criando novas maneiras de se comunicar, de pesquisar e de aprender.

Muito se fala hoje sobre os impactos da internet, principalmente das redes sociais na mídia, especialmente no mundo dos negócios, porém seu uso e impacto na educação é pouco explorado pelos autores.

A Web 2.0 e as crescentes tecnologias para a internet estão redesenhando a maneira de fazer educação criando novas oportunidades de ensino e aprendizagem através de ferramentas e redes sociais que não foram desenvolvidas com o propósito inicial de e-learning.

Nesse cenário, ganha destaque a rede social Facebook, criada em fevereiro de 2004 por Mark Zuckerberg, ex-estudante da Universidade de Harvard. Desde sua criação, o Facebook veio conquistando espaço em diversos países do mundo, e no Brasil em 2012, tornou-se a rede social mais acessada com mais de 36 milhões de usuários ativos segundo pesquisa da comScore[2].

O objetivo deste artigo é analisar como as redes sociais podem complementar o aprendizado dentro e fora de sala de aula, apresentando seus benefícios, as barreiras para sua implantação e apresentando uma proposta de implantação a rede social Facebook como ferramenta de apoio no processo de ensino-aprendizagem.

 

 

2. WEB 2.0 E EDUCAÇÃO

 

Com o surgimento da World Wide Web no final dos anos 80, surgiram os primeiros websites que permitiram ao mundo o acesso a informação de maneira simples e rápida. Porém o conteúdo gerado nesta época era read-only (somente leitura), todo conteúdo era gerado pelos detentores da informação e consumido pelos internautas, não havendo neste processo nenhuma forma de conteúdo interativo ou colaborativo (Web 1.0). Na educação a web neste período era utilizada por professores para disponibilizar apenas conteúdo para seus alunos.

O ano de 2004 marcou a transformação da web de somente read-only(somente leitura) para a assim chamada Web2.0 referida como read-write (leitura e escrita) (Richard,2005). Aplicações como Google Docs, Orkut, Skype, entre outras ganharam destaque pois possibilitavam aos internautas interagirem e colaborarem entre si expressando seus pensamentos e opiniões de maneira online.

Segundo O’Really (2005), a Web 2.0 marcou a evolução de como nós utilizamos a internet. Ao invés de serem apenas consumidores passivos de informação, os indivíduos hoje contribuem e compartilham conteúdos online com outros indivíduos de maneira rápida e fácil.

A habilidade de aproveitar  o conhecimento coletivo, aumentar a comunicação e promover interação conteúdo-usuário são características fundamentais da Web 2.0, e estas características também complementam as práticas educacionais (Maloney, 2007). Segundo Ebner (2007), as ferramentas e características da Web 2.0 passaram a ser integradas em Sistemas Gerenciadores de Aprendizagem de modo a facilitar a construção do conhecimento compartilhado entre os alunos.

Richardson(2006) argumenta que com a web 2.0, as publicações de professores e alunos deixam de estar limitados somente à turma limitada em um espaço territorial e passam a ser disponíveis para toda a rede em qualquer lugar do mundo.

 

3. BENEFÍCIOS DAS REDES SOCIAIS PARA A EDUCAÇÃO

Plataformas de redes sociais tais como Facebook possibilitam inúmeras oportunidades para o setor educacional  facilitando a comunicação, a criação de comunidades de aprendizado e promovendo a Alfabetização do Século XXI.

Segundo Kolowick (2011), o uso do e-mail está diminuindo a cada dia pelo fato dos alunos utilizarem mensagens de texto via celular e as redes sociais para se comunicarem. Para os alunos, é mais interessante e divertido se comunicar através das redes sociais do que as formas tradicionais de comunicação.

As redes sociais facilitam a construção de aprendizado coletivo. O processo de aprendizagem é criado a partir de diálogos encontrados em comunidades, ao criar diálogos no processo de aprendizagem, os alunos complementam ideias e argumentos previamente constituídos.

A base para um ambiente de aprendizagem eficaz se constrói através de comunicação e principalmente de interação entre aluno e professor. Sturgeon e Walker (2009) afirmam em sua pesquisa que alunos têm mais vontade de se comunicar com seus professores quando eles já os conhecem no Facebook.

De uma forma geral, podemos destacar como benefícios das redes sociais para a educação:

  • Promover a integração e o grau de confiabilidade entre alunos e professores;
  • Possibilitar o compartilhamento e ampliação de conhecimento fora da sala de aula;
  • Serem plataformas alternativas de comunicação tanto professor-aluno, quanto Instituição-alunos;

 

4. BARREIRAS PARA IMPLANTAÇÃO

A utilização das redes sociais aplicadas a Educação é um assunto que traz grandes discussões e opiniões adversas. De um modo geral, há diversas barreiras que impossibilitam a adoção das redes sociais como o Facebook em sala de aula, as quais podemos destacar:

4.1 PRIVACIDADE

As redes sociais de um modo geral contém diversas informações pessoais de seus participantes, informações que devem ser configuradas para que não se tornem públicas, tornando-se um “prato cheio” para bandidos praticarem crimes ou ataques cibernéticos. Baseado nesta premissa, muitas pessoas possuem receio de ter um perfil em uma rede social e acabam não participando, perdendo grandes oportunidades de interagir virtualmente com outros colegas.

Outro fator relacionado à privacidade em redes sociais como o Facebook é o fato de usuários não adicionarem seus professores e demais figuras autoritárias pelo fato de publicarem fotos inadequadas em seus perfis caracterizando o uso excessivo de álcool ou má comportamento, condutas que poderiam comprometê-los como suspensões ou até mesmo perda do emprego.

As redes sociais em sua grande maioria possuem diversas configurações de privacidade, que protegem seus dados e informações, cabe a cada internauta saber utilizar de forma correta cada rede social.

 

4.2 QUESTÕES ADMINISTRATIVAS

Outra barreira encontrada em diversas Instituições de Ensino que impossibilitam a aplicação do Facebook como ferramenta de ensino-aprendizagem é o fato de muitas IES restringirem o uso do Facebook e outras redes sociais do gênero dentro das redes de computadores da Instituição, devido a possibilidade de propagação de vírus e outros malwares[3] causando danos aos equipamentos, ou pelo simples fato do uso excessivo pelos alunos causar congestionamento nas redes de computadores.

Por outro lado, diversas Instituições de Ensino possuem políticas e diretrizes para a utilização das redes sociais tanto academicamente como até mesmo no ambiente administrativo, onde seu uso excessivo poderá comprometer o desempenho do funcionário.

As redes sociais fazem parte de nossa vida e estão cada vez mais presentes em contextos como a Educação e outros setores. Com aplicações de políticas formais e diretrizes de utilização, podem sim ser ferramentas que complementem as práticas educacionais dentro e fora da sala de aula.

4.3 DIFICULDADES NA INCLUSÃO DIGITAL

Outra barreira encontrada que impossibilita a implementação das redes sociais no contexto educacional é a dificuldade dos indivíduos com o uso da tecnologia. Esta barreira também é muito comum na realidade de Cursos a Distância. Segundo COELHO(2007), a falta de conhecimentos em tecnologia pelo docente e discente é uma das principais causas da evasão em cursos superiores a distância.

Para (Salaway,et al, 2008; Raccke and Bound-Raacke,2008) as razões mais populares que dificultam a adoção das redes sociais no contexto educacional são: a falta de interesse, a sobrecarga de trabalho, falta de internet e pouca habilidade com recursos tecnológicos.

 

5. PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO FACEBOOK x SALA DE AULA

O Facebook possui diversas ferramentas para indivíduos se conectarem e relacionarem entre si. Algumas dessas ferramentas possuem caráter similar a ferramentas tradicionais encontradas em sistemas de e-learning. Neste artigo estaremos abordando a funcionalidade “Grupos” do Facebook.

O Grupo pode ser criado no Facebook para representar determinado curso ou disciplina. Para criar um curso basta o instrutor designar um nome, determinar a visibilidade se será público ou restrito. Neste caso a opção restrito é a mais indicada para o instrutor adicionar somente os alunos que fazem parte  daquele curso.

A ferramenta Grupo oferece uma aba chamada Documentos, que permite que os membros do grupo criem documentos de forma colaborativa, todos os membros podem abrir, editar e salvar, como uma espécide de wiki[4].

Mais do que isso, com os Grupos, os estudantes podem comunicar-se entre si, compartilhar materiais e criar um sistema colaborativo de estudo com seus colegas de classe.

A Tabela 1 abaixo apresenta uma lista com a definição das ferramentas pertencentes a funcionalidade Grupo e como seria seu uso no contexto educacional.

Tabela 1 – Características das ferramentas do Facebook: Definições e seu uso no ambiente educacional. Adaptado de Tower e Muñoz (2011).

Característica

Definição

Uso educacional

Mural

O mural é um local público de publicações. É o local de abertura quando se acessa um determinado grupo.

Postar comunicados importantes, mensagens em geral e anúncios. Alunos podem responder os posts diretamente ou curtir uma postagem.

Eventos

A função eventos permite criar lembretes para os membros do grupo.

Lembrar os alunos de provas, reuniões ou sessões de estudo.

Documentos

A ferramenta Documentos permite submeter arquivos para download, ou a criação de documentos de texto compartilhados.

Instrutores podem compartilhar matérias para leitura e estudos tais como documentos, apresentações, etc.

Bate-papo

O Bate-papo é uma ferramenta síncrona similar aos comunicadores instantâneos tradicionais.

Comunicar com os estudantes em tempo real.

6. CONCLUSÃO

Este artigo apresentou os benefícios das redes sociais para o contexto educacional e demonstrou como o Facebook pode ser aplicado neste contexto como ferramenta de ensino-aprendizagem com a utilização da ferramenta grupos.

O uso do Facebook e de redes sociais nas práticas educacionais não devem ser vistas como uma substituição completa dos sistemas de aprendizagem tradicionais (Ex. Moodle, TelEduc, BlackBoard). Ao invés disso, eles devem ser vistos como ferramentas alternativas que complementam a experiência educacional fora da sala de aula.

 

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COELHO, M. de L. (2007). A evasão nos curso de formação continuada de professores universitários na modalidade de educação a distância via internet.  Disponível: . Acesso em 21 de julho de 2012.

EBNER, M, “E-learning 2.0 = e-learning 1.0 + web 2.0? Availability, Reliability and Security,” In Proc. of the The Second International Conference on Availability, Reliability and Security, 1235-1239, 2007.

KOLOWICH, S. “How will students communicate?” Inside Higher Ed (6 January), Disponível em http://www.insidehighered.com/news/2011/01/06/college_technology_officers_
consider_changing_norms_in_student_communications, Acesso em 14/09/2012

MALONEY,E. “What Web 2.0 can teach us about learning” Chronicle of Higher Education, volume 25, n.18. Disponível em: http://chronic.com/article/What-web-20-can-teach-   us/8322. Acesso em set/2012.

MUÑOZ, C. TOWER T. – Back to the “wall”: Facebook in the college classroom. Peer-Revied Journal on the internet. Volume 16. n12. Disponível em http://firstmonday.org/htbin/cgiwrap/bin/ojs/index.php/fm/article/viewArticle/3513/3116. Acesso em 08/2012

O’REALLY, T. “What is Web 2.0? Design Patterns and business models for the next generation of software”. Disponível em http://oreilly.com/web2/archive/what-is-web-20.html Acesso em out/2012.

RAACKE, J.,BONDS-RAACKE, J. “MySpace and Facebook: Applying the uses and gratifications theory to exploring friend-networking sites”, Cyberpsychology & Behavior, volume 11, number 2, pp. 169-174. 2008

RICHARDSON,W, “The educator’s guide to the read/write web,” Educational Leadership, 63(4):24, 2005.

RICHARDSON, W. (2006). Blogs, Wikis, Podcasts and other powerful Web tools for classroom. Thousand Oaks, California: Corvin Press.

STURGEON, C.M; WALKER,C. Faculty on Facebook: Confirm or Deny? 14th Annual Instructional Technology Conference. Tennessee. 2009.

 

 


[1] Mestre em Tecnologia e Inovação pela UNICAMP. Aluno do MBA em Gestão Acadêmica e Universitária pela Carta Consulta. Coordenador de web e mídias digitais do Centro Universitário Claretiano – Este endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo. .

[2] comScore Media Metrix, Dec-2010 to Dec-2011. Visitors in Brazil Age 6+ Home/Work location

[3] Malware: Qualquer software com finalidade de causar dano a um computador, servidor ou rede.

[4] Wikis – Sistemas web colaborativos de criação e edição e conteúdo.

 

Autor deste artigo: Diego Henrique Magrin - participante desde Seg, 07 de Maio de 2012.

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