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Edições Anteriores 166 A IES S/A Chegou, e pra Valer!
A IES S/A Chegou, e pra Valer! PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Samuel José Casarin   
Qua, 16 de Julho de 2008 21:00
Deu na revista Veja "A Educação vai à bolsa de valores" e complementa "Faculdades abrem o capital para crescer - e os estudantes também podem ganhar com isso".

Está em pleno vapor um fenômeno que se anunciou na década passada e agora ganha força: é a inserção de grandes grupos educacionais no mercado de ações. Com isso, assumem de vez que a educação é sim um negócio, apresentam-se como uma organização com fins lucrativos (e porque não?) e passam a oferecer um ensino voltado, preferencialmente, mas não exclusivamente, para as classes C e D. Copia-se um modelo de sucesso dos Estados Unidos.

Há dois aspectos para se analisar com base no título da matéria da revista.

O primeiro refere-se ao crescimento da IES em função da abertura de capital. Considerando dados do INEP/MEC, estão credenciadas no país mais de 2.500 instituições de ensino superior, entre públicas e privadas. Considerando-se que cerca de 90% são privadas, temos algo em torno de 2.250 IES privadas que, independente de serem com fins lucrativos ou não, brigam por um mercado que tem potencial para crescer (alunos, no caso), mas que encontra barreiras na questão socioeconômica da população. O número de vagas oferecidas é maior que o real número de novos alunos ingressantes, o que tem gerado uma enorme ociosidade. Até o PROUNI tem resultados ociosos.

Devemos lembrar também que, seja a IES com fins lucrativos ou não, ela tem que obter resultados positivos: acadêmicos e financeiros. No caso dos resultados financeiros, estes têm que ser positivos para a sobrevivência da própria instituição.

Quando se fala em crescer, em expandir dentro de previsões feitas pelo PDI da IES, tal expansão fica muito comprometida quando depende única e exclusivamente das receitas oriundas das mensalidades e matrículas dos alunos. A abertura de capital passa, portanto, a ser positiva porque permite a IES captar recursos advindos dos investidores (sócios) e, assim, melhorar sua infra-estrutura e sua área de abrangência. Vide o caso do Grupo Anhanguera Educacional que em pouco mais de um ano passou de 17 para 47 instituições.

Outros grupos conhecidos estão também se aventurando nesta modalidade de abertura de capital: a Estácio de Sá Participações (que controla as unidades da Universidade Estácio de Sá), o Grupo Kroton Educacional (das Faculdades Pitágoras) entre outras. Recentemente a UNIP recebeu uma oferta de 2,5 bilhões de reais feita pelo grupo norte americano Apollo que controla, entre outras, a Universidade de Phoenix nos EUA. Isto também não chega ser uma novidade, visto que há alguns anos atrás a Universidade Anhembi-Morumbi foi negociada com o Grupo Laureate, também dos EUA, que passou a ser sócio acionista da instituição.

Mas aí são duas coisas distintas: ser sócio de um grupo internacional de investimentos e a outra é fazer parte do pregão da bolsa de valores, que é o que estamos discutindo. E como vimos, essa abertura de capital é positiva para a IES quando se trata de ampliar opções de captação de recursos financeiros para sua expansão. Mas como ficam as médias e pequenas instituições de ensino superior? Vão desaparecer? Falir?

Claro que não, vão ter sim que se reposicionar. Isso será fundamental.

O fato de surgir mega-corporações de ensino superior não vai fazer com que as médias e pequenas instituições venham a falir (embora isso, de fato vá ocorrer com algumas). Não é porque as Casas Bahia dominam o mercado de eletrodomésticos e móveis que a pequena loja de comércio de eletrônicos e móveis deixou ou deixará de existir. Não é porque grandes redes de hipermercado como Pão de Açúcar, Extra, Wall Mart, Carrefour dominam o setor supermercadista que pequenos supermercados, empórios e varejões deixaram de existir. Não é porque grandes redes de lanchonetes existem tal como MacDonald's, Bobs, Burguer King, entre outras, que as pequenas casas de lanches e os famosos "carrinhos de lanches" deixaram de existir. O mesmo deverá ocorrer com as médias e pequenas IES na área do ensino superior.

O segundo aspecto a se discutir refere-se à outra parte do título da matéria da revista: "os estudantes também podem ganhar com isso". Será que ganharão mesmo?

Em boa parte ganharão, pois com a receita advinda das ações o investimento, em expansão, não fica limitado somente em comprar ou construir novas unidades, mas sim, pelo menos é o que se espera, deverá haver um maior investimento em laboratórios e equipamentos, bibliotecas, salas de aulas, áreas de convivência, espaços administrativos e infra-estrutura tecnológica.

Por outro lado, há a questão da qualidade do ensino e do investimento em novos cursos. Esses grupos continuarão a priorizar a abertura de cursos do tipo "cuspe e giz" ou cursos que de fato contribuem para o desenvolvimento tecnológico do país também serão ofertados?

Fala-se na facilidade em se produzir material didático - as velhas apostilas, porém remodeladas. Com isso, se uniformiza os conteúdos em todas as unidades do Grupo Educacional. Mas isso funciona? Não fica parecendo aqueles velhos cursinhos preparatórios para vestibular? Haverá um ensino padronizado que não respeita diversidades regionais? O tempo dará as respostas.
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Revista Veja, 2 de julho de 2008, ed.2067
 

Autor deste artigo: Samuel José Casarin - participante desde Qui, 16 de Junho de 2005.

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