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Cursos de Engenharia – Perspectivas e Desafios PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Samuel José Casarin   
Qua, 05 de Março de 2008 21:00
INTRODUÇÃO
Os anos passam e um dos comentários que mais se destaca nos artigos sobre as engenharias é que os profissionais formados por esses cursos são versáteis, adaptáveis a outras funções não específicas da engenharia, que recebem uma formação sólida em ciências exatas (matemática e física, mais especificamente) e que, portanto, desenvolvem uma capacidade de raciocínio lógico privilegiada, daí serem muito desejados por empresas variadas no mercado de trabalho.
Mas a questão que fica é: até quando os cursos de engenharia continuarão formando profissionais engenheiros para atuarem em áreas tão distintas da própria engenharia?
Essa pergunta nos remete a algumas possíveis hipóteses, a serem discutidas:
1 – Os cursos das áreas distintas das engenharias, cujo mercado de trabalho absorve os engenheiros estão inadequados, formando profissionais de baixa qualidade e, portanto, precisam ser reformulados;
2 – O desenvolvimento tecnológico brasileiro, que tanto depende de profissionais competentes da área de engenharia, está atrasado como constatado por muitos especialistas porque os cursos de engenharia perderam o foco e a qualidade específica das engenharias ou porque não está havendo uma expansão adequada da oferta de vagas e de novos cursos de engenharia.
Da hipótese 2, caso as engenharias tenham perdido de fato o seu foco/qualidade, a exemplo dos demais cursos de graduação das áreas que absorvem engenheiros, precisam também ser urgentemente reformulados. Porém, caso o problema esteja na tímida expansão da oferta de vagas e novos cursos de engenharia, há a necessidade de uma política nacional (via MEC) para estimular a criação de novos cursos de engenharia tanto em instituições públicas como nas particulares.
Neste artigo pretendemos discutir os seguintes tópicos:
1.As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) dos cursos de graduação de engenharia e seus Projetos Pedagógicos.
2.A diversificação de especialidades (antigas habilitações) dos cursos de engenharia e os cursos de engenharia no Brasil
3.O mercado de trabalho para os profissionais de engenharia
4.Parecer final.

1 – As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) dos cursos de graduação de engenharia e seus Projetos Pedagógicos.
Após ficarem submetidos por um longo período aos antigos currículos mínimos, os cursos de graduação, entre eles os de engenharia, passaram a ser regulamentados por suas Diretrizes Curriculares Nacionais que, em linhas gerais, estabelecem o mínimo necessário para que um curso de graduação funcione com a autorização do Ministério da Educação (MEC) dentro de um tipo de padrão de qualidade.
No caso dos cursos de engenharia, a Resolução CNE-CES no. 11 de 11 de março de 2002, publicada no Diário Oficial da União (DOU) número 67 de 09-04-2002, seção 01, estabeleceu as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Engenharia. Essa Resolução substituiu a Resolução CFE no. 48/1976 que estabelecia o currículo mínimo para os cursos de engenharia.
Em seu artigo segundo, a Resolução 11/2002 deixa claro que ela pretende orientar a organização, o desenvolvimento e a avaliação dos projetos pedagógicos dos cursos de graduação em engenharia das instituições do Sistema de Ensino Superior. Sejam elas públicas ou privadas.
Fica explícito, portanto, que o projeto pedagógico de um curso (PPC) de graduação em engenharia deve ser pautado pela Resolução 11/2002. No entanto, como veremos pouco mais adiante, tais DCN’s dão ampla liberdade para que a IES construa um projeto pedagógico flexível, não-engessado como aqueles vinculados ao antigo Currículo Mínimo. A instituição de ensino tem a oportunidade de desenvolver um projeto onde algumas variáveis como metodologias de ensino e de avaliação podem ser diferenciadas (por habilidades e competências), a estruturação das matrizes curriculares podem obedecer ao padrão tradicional de disciplinas ou no formato modular, com ou sem certificações parciais. Caso a IES ofereça mais de um curso de engenharia, os cursos podem ser agrupados em um núcleo, onde os primeiros anos podem ser comuns a todos os cursos (trata-se de um resgate de um velho modelo). A legislação, por sua vez, permite ainda ampliar tal flexibilidade no desenvolvimento do PPC, com a utilização de até 20% da carga horária do curso em Estágios Supervisionados e Atividades Complementares. Indo mais além, para os cursos já reconhecidos pelo MEC, há um teto de 20% da carga horária do curso que pode ser oferecido na modalidade não-presencial. Entenda modalidade não-presencial como qualquer forma de ensino/aprendizagem que utilize tecnologias de ensino a distância (EaD) ou outra forma não-presencial, lembrando, porém, que a avaliação será, sempre, presencial.
O artigo 5º da Resolução 11/2002 é emblemático e assim o reproduzimos:

“Cada curso de Engenharia deve possuir um projeto pedagógico que demonstre claramente como o conjunto de atividades previstas garantirá o perfil desejado de seu egressos e o desenvolvimento das competências e habilidades esperadas. Ênfase deve ser dada à necessidade de se reduzir o tempo em sala de aula, favorecendo o trabalho individual e em grupo de estudantes.”
Ainda segundo o artigo 5º da Resolução 11/2002:

TCC é atividade obrigatória, como requisito para a graduação em engenharia (independente de sua modalidade) (cf. §1º do art. 5º e parágrafo único do art.7º);
Deverão também ser estimuladas Atividades Complementares (...) (cf. §2º do art.5º)

Independente da modalidade os currículos dos cursos de engenharia devem obedecer a seguinte distribuição (cf. art. 6º):

Núcleo de Conteúdos Básicos – 30% da CH Mínima (3.600 horas x 0.30 = 1.080 horas)
Núcleo de Conteúdos Profissionalizantes – 15% da CH Mínima (3.600 x 0.15 = 540 horas)
Núcleo de Conteúdos Específicos da Modalidade – restante da CH do curso.

OBS:
1.3.600 horas é a carga horária mínima estabelecida para os cursos de graduação de engenharia, conforme a Resolução CNE-CES no. 2 de de 18 de junho de 2007.
2.CH do curso é a carga horária do curso estabelecida pela IES como requisito necessário para integralização do curso de engenharia (CH do curso tem que ser igual ou maior que a CH mínima estabelecida pela Resolução 02/2007).

Tópicos que versam sobre os Conteúdos Básicos: I.Metodologia Científica e Tecnológica
II.Comunicação e Expressão
III.Informática
IV.Expressão Gráfica
V.Matemática
VI.Física
VII.Fenômenos de Transporte
VIII.Mecânica dos Sólidos
IX.Eletricidade Aplicada
X.Química
XI.Ciência e Tecnologia dos Materiais
XII.Administração
XIII.Economia
XIV.Ciências do Ambiente
XV.Humanidades, Ciências Sociais e Cidadania

Obs:
Nos conteúdos de Física, Química e Informática é obrigatória atividades de laboratório.

Tópicos que versam sobre os Conteúdos Profissionalizantes: Devem obedecer a 15% da CH mínima do curso, atendendo a especificidade do mesmo, selecionando conteúdos de uma relação de 53 tópicos (cf. §3º, art.6º).

Tópicos que versam sobre os Conteúdos Específicos: Estes são de livre escolha da IES, conforme a modalidade do curso, e se caracterizam por se constituírem em extensões e aprofundamentos dos conteúdos do núcleo profissionalizante, bem como outros destinados a caracterizar a modalidade.

Estágio Curricular Obrigatório: CH mínima = 160 horas. Supervisão
Avaliação/relatórios
Regulamento
Convênios/parcerias

Atividades Complementares Supervisão
Validação das Atividades
Regulamento
Convênios/parcerias


2 - A diversificação de especialidades (antigas habilitações) dos cursos de engenharia e dos cursos de engenharia no Brasil
Segundo o art.3º das DCN’s dos cursos de engenharia:

“O curso de graduação em engenharia tem como perfil do formando egresso/profissional o engenheiro, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a absorver e desenvolver novas tecnologias, estimulando a sua atuação crítica e criativa na identificação e resolução de problemas, considerando seus aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais, com visão ética e humanística, em atendimento às demandas da sociedade”.
Em linhas gerais, o texto das DCN’s vislumbra formar um profissional generalista, embora com conhecimentos profissionais específicos.
O grande problema das engenharias é que estão sendo criados novos cursos de engenharia muito especializados, demasiadamente focados em um segmento profissional. Isso é prejudicial para o aluno, pois o mercado de trabalho não tem como absorver todo profissional formado por esses cursos e o aluno fica muito limitado em termos de competências e habilidades designadas pelo CREA. Devemos lembrar que hoje existem os Cursos Superiores de Tecnologia que tem como objetivo atender as demandas focadas em áreas/segmentos específicos. Assim, não cabe aos cursos de graduação de engenharia atender este nicho.
Como exemplos de cursos demasiadamente focados podemos citar Engenharia de Fundição, Engenharia de Plásticos, Engenharia de Automação Empresarial entre outros. Outro dia li em um classificado de jornal1 a oferta de uma vaga para Engenheiro Clínico (?). Vejam por aí, onde está indo a engenharia.
Esses cursos seriam excelentes opções para um egresso fazer uma Especialização (lato sensu) ou até mesmo um Mestrado Profissional. Alternativamente, tais cursos poderiam ser formatados como cursos tecnológicos, de menor duração e menor carga horária, focados nessas áreas específicas.
Em um trabalho muito interessante realizado por V.F. de Oliveira2, o número de cursos de engenharia em 1996 era de 545 cursos (ano de publicação da LBD), saltando para 1.251 cursos no ano de 2005, ou seja, um crescimento de 78 novos cursos/ano, em média, no período em questão. Considerando que no ano de 1966, quando a profissão de engenheiro foi regulamentada por uma nova lei (a primeira lei que regulamentou a profissão data de 1933), havia no Brasil 144 cursos de engenharia, podemos observar que em 30 anos (1966 – 1996) o crescimento observado foi de 401 novos cursos, o que dá uma média de 13.36 cursos/ano, enquanto que em apenas 10 anos (1996-2005) tal média foi 5.8 vezes maior que no período anterior que abrangeu 30 anos.
De acordo com o Portal do SiedSup/MEC (http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/curso.stm)3, há o registro de 1.674 cursos de engenharia no país. Logo, entre 2005 e 2007, o número de cursos de engenharia aumentou em 423 novos cursos, ou seja, um “boom” de 211,5 cursos/ano. A distribuição destes 1.674 cursos no país, por região geográfica, encontra-se assim:


Figura 01: Distribuição geográfica dos cursos de engenharia (ano 2007). (Fonte: Portal SiedSup/MEC).

Ainda segundo os dados de V.F. de Oliveira, entre os 1.251 cursos existentes em 2005, havia cerca de 50 denominações distintas e, quando consideradas as ênfases, registrava-se mais de 160 denominações distintas.
É interessante constatar que no período entre 1996-2005, o curso que apresentou maior número de oferta foi o de Engenharia de Produção. Considerando um crescimento médio de 80 cursos/ano neste período, a Engenharia de Produção foi responsável por 20% dessa média.
Alguns fatores que explicam o crescimento dos cursos de engenharia no período 1996-2007:
  • A “nova” LDB publicada no DOU em 1996;
  • Flexibilização das Diretrizes Curriculares Nacionais (fim das ênfases);
  • Fim da estagnação econômica que caracterizou a década de 80 até meados da de 1990;
  • Mudança do perfil profissional – novas áreas de informática, telecomunicações, meio ambiente, materiais, biomédica entre outras;
  • Novos modelos de gestão – cursos de Engenharia de Produção
  • Cursos no período noturno – perfil de aluno mudou.

Quadro 01: Distribuição dos cursos de engenharia por Estado (fonte: Portal SiedSup/MEC) – ano: 2007.

ESTADONr. CURSOS%
Acre30,18
Alagoas100,60
Amazonas342,03
Amapá20,12
Bahia824,90
Ceará231,37
Distrito Federal191,14
Espírito Santo412,45
Goiás362,15
Maranhão110,66
Minas Gerais18511,05
Mato Grosso do Sul140,84
Mato Grosso181,08
Pará342,03
Paraíba191,14
Pernambuco271,61
Piauí201,19
Paraná1106,57
Rio de Janeiro20112,01
Rio Grande do Norte160,96
Rio Grande do Sul1368,12
Rondônia40,24
Roraima30,18
Santa Catarina895,32
São Paulo51530,76
Sergipe160,96
Tocantins60,36
TOTAL1674100,00

Figura 02: Os cursos superiores por área de conhecimento no Brasil – Ano 2007 – Fonte – INEP/MEC

Quadro 02: Os dez cursos com maior procura no Brasil (Ano: 2005/2006) – Fonte – INEP/MEC

CURSOVAGASCANDIDATOSC/V
Administração4196896447981.5
Direito2127395541692.6
Engenharia1257433297952.6
Medicina1466131368321.4
Pedagogia2300972796571.2
Comunicação Social1317962306051.7
Enfermagem833672234972.7
Letras994181866601.9
Educação Física812871735342.1
Ciências Biológicas532941679673.2

3 – O mercado de trabalho para os profissionais de engenharia.
A economia de mercado afeta diretamente todas as categorias profissionais, mas a engenharia, em particular, sofre de maneira singular aos altos e baixos da economia nacional e mundial. A globalização (termo que eu tento evitar ao máximo) de certa forma veio a favorecer o profissional da área de engenharia.
Lembro muito bem que no final da década de 80, quando conclui meu curso de graduação em Engenharia Mecânica, a economia brasileira ia de mal a pior e, consequentemente, a profissão estava um tanto quanto desvalorizada.
Hoje em dia temos situação totalmente diversa, com a economia aquecida a engenharia está em alta. Pelo menos segundo muitos especialistas que pesquisam o mercado de trabalho. Entre as áreas que demandam maiores oportunidades destacam-se:

  • Refino de petróleo
  • Indústria sucroalcoleira
  • Veículos automotores
  • Máquinas e equipamentos

Destacam-se também os setores de:
  • Informática
  • Telecomunicações
  • Meio Ambiente
  • Bio e nanotecnologia

Considerando que de acordo com dados da CNI – Confederação Nacional da Indústria, o setor produtivo alcançou o índice de 82.4% da capacidade instalada, no terceiro trimestre de deste ano, a demanda por profissionais da engenharia cresce na mesma proporção, embora este mesmo mercado reclame da falta de pessoal qualificado que, infelizmente, inclui engenheiros.
O atual desempenho do setor de construção civil é um outro exemplo de setor que vem apresentando um acelerado crescimento e com aumento de oferta de oportunidades para engenheiros civis. Aqui o problema novamente esbarra na dificuldade de se encontrar profissional qualificado.
O maior problema da atualidade, seja na engenharia seja em outras áreas, está situado na qualificação exigida. Estima-se que quase um milhão de vagas estão sendo criadas em usinas de açúcar e de álcool, na indústria do petróleo, na construção e no mercado financeiro, onde todas absorvem engenheiros, porém estas mesmas empresas tem dificuldade em preenche-las.

4 – Parecer Final
Ao que tudo indica podemos depreender que:
  • Os cursos de engenharia, na sua maioria, necessitam de uma reformulação de seus projetos pedagógicos, tanto em sua estrutura curricular, como no uso de mecanismos de flexibilização curricular aplicando até 20% da carga horária em Atividades Complementares e Estágio Supervisionado, além da possibilidade de usar outros 20% na modalidade não-presencial, aplicando, dessa maneira o previsto no artigo 5º da Resolução 11/2002.
  • A diversificação de especialidades dos cursos de engenharia trás sérios prejuízos para o egresso do curso excessivamente focado que, com certeza, encontra limitações para seu ingresso no mercado de trabalho.
  • A oferta de cursos de engenharia está concentrada na região sudeste, tendo São Paulo como destaque. Por outro lado, as regiões Norte e Centro-oeste são aquelas com mais carência na oferta de cursos nesta área profissional.
  • Segundo dados do INEP/MEC do total de cursos de graduação oferecidos no Brasil em 2007, apenas 7,1% desse total são cursos da área de engenharia, produção e construção. Isso contrasta fortemente com os cursos da área de Ciências Sociais, Administração e Direito, que juntas são responsáveis por 31.2% da oferta de cursos de graduação. Com todo o respeito aos administradores e advogados, esse quadro contribui, em parte, para explicar nosso atraso tecnológico.
  • Apesar dos números não serem muito animadores, o curso de engenharia é o terceiro curso mais procurado quanto ao número de candidatos inscritos em processos seletivos. Fica atrás somente dos cursos de administração e direito.
  • Quanto a oportunidades na área da engenharia, destacam-se os setores de refino de petróleo, indústria sucroalcoleira, veículos automotores, máquinas e equipamentos, informática/computação, telecomunicações, meio ambiente, bio e nanotecnologia além da construção civil.
 

Autor deste artigo: Samuel José Casarin - participante desde Qui, 16 de Junho de 2005.

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