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Ética - Do moderno ao pós-moderno - Um rito ou um mito?! |
Escrito por Simone Zattar |
Ter, 19 de Fevereiro de 2008 21:00 |
Nos últimos anos, quando se fala em cultura, economia, política há sempre o debate sobre a ética. Na expressão ‘ética’ o homem define seus caminhos. Segundo Valls (2003, p. 07), "A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta”. A Ética encara a virtude como prática do bem e esta como a promotora da felicidade dos seres, quer individualmente ou coletivamente, onde são avaliados os desempenhos humanos em relação às normas comportamentais pertinentes, é "o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto” (HOLANDA, 1975). O caminho da virtude é sempre possível. Enquanto o homem existir, tem ele a possibilidade de modificar sua conduta e imprimir direção diferente às suas ações. E todos os homens orientam-se na vida por um critério valorativo, conferindo assim um sentido pessoal em suas vidas. Aristóteles (384-322 a.C.) fundamentou a maior parte de seu postulado teórico no empirismo onde, baseado no tipo de sociedade, desenvolveu algumas obras que enfoca as questões Éticas daquele tempo: Ética a Eudemo, Ética a Nicômaco e uma Magna Moral . Aristóteles não descarta a relação entre Ser e o Bem, porém enfatiza que não é um único bem, mas vários bens, e que esse bem deve variar de acordo com a complexidade do ser. Para o homem, por exemplo, há a necessidade de se ter vários bens, para que este possa alcançar a felicidade humana. A virtude em Aristóteles, está entre os melhores dos bens. Diz ainda que o homem não pode apenas viver, “mas ele precisa viver racionalmente, isto é, viver de acordo com a razão”. (VALLS, 2003 p. 30) O apreciar individual propicia nortear adequadamente a procura de felicidade própria , que não será integral se não se harmonizar com a de todos os homens, isto é, a prática do bem é a felicidade e como ela deve ser praticada como ideal e como ato consciente. Platão (427-347 a.C.), postula em sua teoria que a questão central da ética está na busca da felicidade pelo homem. Platão era um poeta. A sabedoria para Platão, não está expressa no saber pelo saber, ou melhor, não se identifica o sábio pela sua grandeza de conhecimentos teóricos, mas pela sua grandeza de virtudes. O homem virtuoso tende a encontrar e contemplar o mundo ideal. A prática da virtude como Sumo Bem. Historicamente a civilização tem períodos de ascendência e descendência aonde é possível identificar crises éticas. Sempre que a questão ética entra em crise, a civilização tende a desaparecer. Não são somente as questões políticas ou econômicas que forçam uma civilização ao declínio, mas também seus valores. Kant no final do séc. XVIII, nega a existência da "bondade natural". Nos corações dos homens só existem sentimentos negativos e para conseguirmos superar todos esses males, devemos almejar uma Ética racional e universal identificada no dever moral. Hegel encara a questão Ética de um outro prisma. Opondo-se ao argumento do coração como determinante da vontade individual e a da moral racional de Kant, Hegel diz que somos seres indissociáveis. O ser humano é histórico e vive o coletivo em todas as suas ações, associado aos seus costumes e as suas manifestações culturais. É por esse ângulo que Hegel argumenta sobre a vontade coletiva que guia nossas ações e comportamentos. A família, o trabalho, a escola, as artes, a religião etc. norteiam nossos atos morais e determinam o cumprimento do dever. Podemos seguir a linha de pensamento de Hegel para tentar direcionar nosso raciocínio enfocando as relações éticas no contexto político-social expondo a relativização do comportamento ético na direção do dever à responsabilidade? A ética como conjunto de normas e valores que rege uma sociedade deve necessariamente refletir a consciência e as ações das pessoas e trazer um tipo de organização sustentável. Na pós modernidade nos deparamos com situações que não refletem valores de uma ética universal, onde pessoas injustiçadas perdem a vida, morrem de fome, passam as piores necessidades e situações de constrangimento por serem negras ou pobres. A sociedade do século XX atingiu um alto grau de desenvolvimento tecnológico e científico. Nos últimos 100 anos a humanidade evolui mais tecnologicamente do que em toda a história humana. No pós-moderno podemos observar o paradoxo entre o grande desenvolvimento tecnológico e a decadência dos valores humanos. A falta de ética se instaura a partir do momento em que o homem utiliza de sua tecnologia para a destruição em massa e, no âmbito social, fomenta a exclusão. De um lado os avanços inegáveis da ciência e da tecnologia e do outro lado mais da metade da população passando fome. Estamos em declínio? Estamos passando por uma grande crise ética? Em termos de ética a sociedade não evoluiu. Nos tempos atuais, não há mais afetividade, sentimento solidário. Hoje, pode-se dizer que tudo tem um preço. O ser humano perdeu a referência ética. A pós-modernidade é inerente às sociedades industriais, porque é inimaginável sem a mercadoria e o consumo. O significativo avanço tecnológico foi condição sine qua non para a massificação da informação, conforme pondera Santos: “o ambiente pós-moderno significa basicamente isso: entre nós e o mundo estão os meios tecnológicos de comunicação, ou seja, de simulação (....) hiper-realizamos mundo, transformando-o num espetáculo.” (SANTOS, 2000, p. 13) A mercadoria exerce um poder de sedução sobre o indivíduo, que muitas vezes compra o produto porque gostou da imagem desse produto e não por se tratar de uma real necessidade. Adquiriu o simulacro, pois acreditou que aquele objeto foi criado especialmente para ele. Com característica consumista, volta-se para o prazer, para o modismo, cuja principal preocupação é consigo mesmo. Só interessa a imagem, pois o indivíduo é aquilo que usa. No pós-moderno o coerente é ser incoerente. Santos (2000) admite que o pós-moderno está inserido em um contexto no qual o indivíduo se encontra fragmentado, pois caos e ordem se mesclam de tal forma que não podemos distinguir o que é um e o que é outro. Não há uma definição precisa, um único estilo que possa definir a pós-modernidade; tudo é multifacetado, múltiplo. A arte busca “inspiração” em mais de uma fonte, elimina fronteiras entre o erudito e o popular, utiliza a intertextualidade, imbrica estilos. Santos (2000, p. 12) fala sobre a essência da pós-modernidade quando “preferimos a imagem ao objeto, a cópia ao original, o simulacro (a reprodução técnica) ao real. (...) Mas o simulacro, tal qual a fotografia a cores, embeleza, intensifica o real”, fabricando algo mais interessante que a própria realidade. O que separa real e imaginário é o ponto de vista estético. No pós-modernismo verifica-se uma dificuldade do homem em representar o mundo confuso e complexo, fragmentado, repleto de informação, onde as contradições ocupam lugar de destaque. Com a perspectiva de crise ética qual é o papel conferido a educação, considerando que enquanto o homem existir, tem ele a possibilidade de modificar sua conduta e imprimir direção diferente às suas ações? Podemos dizer que os processos de mudança envolvem os paradigmas, que por sua vez influenciam as ações, pois “Fazem-nos acreditar que o jeito como fazemos as coisas é ‘o certo’ ou ‘a única forma de fazer’. Assim costumam impedir-nos de aceitar idéias novas, tornando-nos pouco flexíveis e resistentes a mudanças” (VASCONCELLOS, 2003 p. 31) Devemos enfatizar neste momento o papel relevante da educação com base no proposto pela Unesco: A educação deve tentar vencer estes novos desafios: contribuir para o desenvolvimento, ajudar a compreender e, de algum modo, a dominar o fenômeno da globalização, favorecer a coesão social. Os professores têm um papel determinante na formação de atitudes — positivas ou negativas — perante o estudo. Devem despertar a curiosidade, desenvolver a autonomia, estimular o rigor intelectual e criar as condições necessárias para o sucesso da educação formal e da educação permanente. (DELORS, 2001, p. 152) Morin (2002, p.23) afirma que no processo educacional “A verdadeira racionalidade, aberta por natureza, dialoga com o real que lhe resiste. Opera o ir e vir incessante entre a instância lógica e a instância empírica; é o fruto do debate argumentado das idéias, e não a propriedade de um sistema de idéias”, o que contrapõe a que Santos considera como essência da pós-modernidade quando “preferimos a imagem ao objeto, a cópia ao original, o simulacro”. E é sobre essa essência da pós-modernidade que, ao falar sobre o aprender a ser, neste mundo aonde o processo globalizador que começou na economia, realçou as diversas culturas e permeia o processo educacional aponta para a preocupação da educação no sentido de evitar incorrer em riscos como: — Risco de alienação da personalidade patente nas formas obsessivas de propaganda e publicidade, no conformismo dos comportamentos que podem ser impostos do exterior, em detrimento das necessidades autênticas e da identidade intelectual e afetiva de cada um. — Risco de expulsão pelas máquinas, do mundo do trabalho, no qual a pessoa pelo menos tinha a impressão de se mover livremente e de decidir por si própria”. (FAURE, 1972.) O risco da alienação transforma o homem em uma máquina consumista e consumidora, aonde os valores éticos e morais se perdem, pois o homem esvazia-se de qualquer tipo de emoção e subjetividade, se isola, capitaliza, perde seus valores internos e o respeito por si, pelo outro e pela sociedade. Podemos dizer que os homens alteraram consideravelmente modelos sociais, econômicos, políticos, estéticos e éticos na busca de identidade, relativamente nova para a sociedade que se estabelece a partir da modernidade e com a pós-modernidade. Na modernidade buscou-se o sujeito pensante, dotado de razão, com capacidade para realizar experiências, explicar e transformar racionalmente os fatos a atos que caracterizavam o mundo a sua volta. O período moderno vem com a Revolução Industrial, com a ciência que constrói a máquina a vapor, a produção de bens materiais, o ritmo bem marcado do tempo. Ações e costumes se modificam, conseqüentemente determinados padrões de comportamento também, e que passam a compor os estudos éticos. Não se pode tratar de ética, sem fazer referência ao contexto social vivido. Não é possível dizer, por exemplo, que a idéia de vontade em Hegel é melhor ou pior do que a idéia de vontade em Kant, se não for analisado o contexto vivido e as idéias que precederam o pensamento de grandes filósofos. Idéias por sinal que contribuíram para delinear o pensamento político, jurídico, ético e por que não dizer educacional da sociedade. Na modernidade o homem não é servo dos senhores feudais. Tem patrão. Há ideologias no chão da fábrica. Correntes de pensamentos vêm tratar da questão do Bem e Mal, da justiça, da sabedoria. É a busca racional de respostas, encontro com a Verdade absoluta. Mas parece que o homem estava preso em uma caixa, pois o período aceitava modelo, estilo definido, a produção de bens avançando, e sufocando a necessidade humana de encontro com a tal Verdade. As criações do período moderno são organizadas para atender ao homem pós-moderno. A tecnologia avança, com luzes, imagens, palavras que levam a estabelecer projetos de vida tão vulneráveis, quanto às imagens captadas pelas câmeras de alta resolução e possíveis de serem modificadas, melhoradas, reorganizadas, “deletadas” a qualquer tempo em qualquer espaço. O pós-moderno nasce com a arquitetura, computação, arte, moda cinema, música, envolvido não mais em uma sucessão de fatos, mas em um embaralhado de acontecimentos. Na modernidade havia um estilo, organizado, no pós-moderno tudo é aceito, há uma sobreposição de estilos, da composição métrica dos versos, da narração estilizada com discursos bem marcados, encontra-se no pós-moderno a escrita em forma de imagens que anunciam e denunciam. Porém toda aceitação de estilos revela o niilismo, ou o vazio, a ausência de projetos. Onde tudo pode, afinal quem é o indivíduo que tudo pode? A pós-modernidade trouxe os discursos globais, mas as idéias que fortalecem os mesmos não surgem desveladas, não são objetivas, estão reunidas e articuladas pela linguagem, ou melhor, linguagens. Afinal a linguagem – palavra, desenho, escrita, pintura, foto, imagens carregam os códigos, geram mensagens e o consumo é de mensagens, mensagens que geram serviços. Coloca-se para fora da caixa, questões que no período moderno, ficaram trancadas, ou eram ditas por meio do LOGOS (da palavra, da razão, do espírito). A arte expressa questões que antes eram passíveis de se buscar a sua lógica, de sofrer críticas infindáveis, pois poderiam desviar a humanidade do caminho de busca da Verdade. São aceitos no pós-moderno o pensar, o refletir, o expressar questões como: CORPO – EMOÇÃO – POESIA – INCONSCIÊNCIA – DESEJO – ACASO – INVENÇÃO. Na ética se passou a tratar do bem e do mal para além do sujeito, no sistema, elaborado e definido por indivíduos que em determinado momento, aparentemente apresentam interesses comuns. O pós-moderno é repleto de informações, estas muito rápidas, complexas, globais, que apresentam o mundo que se vive, mas que por conta da agilidade das informações não é possível representa-lo somente pela palavra. Neste sentido o enfoque da educação está no aprender a ser reflexivo, na tentativa de nos impulsionar há uma nova maneira de ser e estar, com responsabilidade ética, conotações analítica e avaliativa, não baseada exclusivamente em causas, mas principalmente nas conseqüências, na coerência sobre as formas de pensar e agir. REFERÊNCIAS: DELORS, Jacques. Educação um tesouro a descobrir. 6. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2001. FAURE, Edgar (Org.). Apprendre à être. Relatório da Comissão Internacional sobre o Desenvolvimento da Educação UNESCO. Paris: Fayard, 1972 MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. ______. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2002. VASCONCELLOS, Maria José Esteves. Pensamento sistêmico: o novo paradigma da ciência. 2. ed. São Paulo: Papirus, 2003. VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. Coleção primeiros passos, 16ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2003 SANTOS, Jair F. O que é pós-modernismo. 21ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2000 |
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