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Escrito por Samuel José Casarin   
Qui, 11 de Outubro de 2007 21:00
Saudades Da Dona Marly
Samuel José Casarin

Um dos maiores problemas dos ensinos fundamental e médio, atualmente, é a carência de professores, principalmente em quatro áreas fundamentais: matemática, física, química e biologia. Dados do Ministério da Educação indicam a falta de, aproximadamente, 235.000 professores. Entre os motivos dessa carência destacam-se: desvalorização dos professores nos últimos anos (baixos salários), poucos incentivos a formação de novos professores por falta de políticas públicas claras e, em conseqüência, por ser, o curso de formação de professores, alvo de um público de baixo poder econômico (aí cheira a preconceito).

De fato, a situação atual é crítica e desalentadora. Há uns dois anos atrás levei minha filha, a Maria Fernanda, então com apenas dois anos de idade, para assistir a um desfile comemorativo de sete de setembro, no qual várias escolas municipais participaram com seus alunos e professores. A primeira coisa que chamou a minha atenção foi a expressão das professoras no desfile. Todas, sem exceção, demonstravam uma feição de desânimo, outras chegavam a ter uma expressão carrancuda. Isso me levou a pensar e, em seguida, sentenciar: eu não vou deixar minha filha estudar com essas professoras não! Eu fiquei assustado! Imagina como ficaria minha filha! Além disso, e não me venham dizer que é preconceito, a maioria das professoras estava muito mal vestida - poderia ser falta de bom gosto delas, mas eu acho que o salário que ganham não permite se produzirem melhor, mesmo para uma ocasião comemorativa como era o caso do desfile do sete de setembro. Eu fiquei arrasado. Na hora me deu uma enorme saudade da dona Marly, minha professora de primeiro ano primário. Dona Marly, além de ser supereducada, era muito elegante, respeitada e sabia se impor na sala de aula junto aos seus alunos sem ser uma repressora. Acho eu que hoje em dia dona Marly não seria a mesma. Que pena.

Prevê-se, portanto, como em várias outras áreas, um "apagão" do ensino fundamental e médio. Eu, da minha parte, acho que esse "apagão" começou faz tempo. Hoje em dia já se trata de um blackout total. Os ensinos fundamental e médio estão nas trevas. Para confirmar isso basta ver os últimos resultados dos exames que avaliam os alunos desses ciclos de formação - todos são negativos. O MEC, por sua vez, obriga as instituições de ensino superior a criarem programas de nivelamento para que os alunos ingressantes em seus cursos superiores, que chegam com uma enorme deficiência de aprendizado do ensino médio, possam ter o mínimo de condições de acompanhar o curso no qual ingressou. Está aí um dos principais motivos da evasão dos cursos superiores: a falta de base faz com que os alunos desistam de continuar seus estudos. Não cabe às instituições de ensino superior cobri essa deficiência, mesmo porque seus programas de nivelamento - quando existem de fato - são insuficientes para alcançar esse objetivo de "nivelar o aluno". Na sua grande maioria são programas burocráticos para atender as exigências do MEC e mal conseguem "tapar o sol com a peneira".

As instituições de ensino superior privadas alegam que devido ao baixo poder aquisitivo dos alunos dos cursos de formação de professores, fazem com que os valores das mensalidades sejam puxados para baixo. Algo em torno de R$ 250,00/mês. Esse valor, dizem, é insuficiente para garantir qualidade ao curso e, consequentemente, a sua manutenção dentro dos padrões exigidos pelo MEC. Há de se lembrar, porém, que o baixo valor das mensalidades das licenciaturas se deve basicamente a dois fatores: o primeiro é a guerra de preço declarada que existe entre as IES que baixam os valores de suas mensalidades para atrair mais alunos (mais alunos permitem diluir o valor da mensalidade); o segundo motivo é que um curso de formação de professores, em termos de infra-estrutura, exige pouca coisa a mais que o simples "cuspe e giz", quando comparado com um curso que da área de saúde ou de tecnologia, por exemplo.

Assim, caímos em um ciclo difícil de ser modificado e, novamente, eu volto a ter saudades da dona Marly.

 

Autor deste artigo: Samuel José Casarin - participante desde Qui, 16 de Junho de 2005.

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