Login

Sugestões

Faça o login e visualize as sugestões

Usuários on line

Nós temos 3127 webespectadores online

Revista

Gestão Universitária

Edições Anteriores 136 A Formação de Professores
A Formação de Professores PDF Imprimir E-mail
Avaliação do Usuário: / 2
PiorMelhor 
Escrito por Karin Elizabeth Rees de Azevedo   
Seg, 13 de Agosto de 2007 21:00
A Formação de Professores
Karin Elizabeth Rees de Azevedo

Temos assistido no Brasil, nas últimas décadas, muitas discussões e reflexões sobre a educação brasileira aliadas a uma incessante busca de soluções ou ações que retratem e concretizem a construção de uma sociedade democrática. Nesse contexto, encontram-se as discussões sobre a formação de professores, que embora já consideradas insuficientes para influenciar na qualidade da formação e, limitadas e dependentes pelas condições sociais e históricas de contexto vêm sendo aprofundadas, inclusive no que tange à dimensão política da formação, entendida como um comprometimento com uma educação democrática para todos, incluindo os menos favorecidos econômica e culturalmente.

Optando pela perspectiva política da Formação de Professores e se pensarmos no futuro profissional da educação - professor - como agente político participante da construção de uma sociedade justa e democrática veremos que a prática desse profissional passa por alguns pontos básicos, sendo o enfrentamento da diversidade cultural e social na educação e o entendimento da própria atuação na sociedade o que nos chama atenção nesse artigo.

Em relação ao enfrentamento da diversidade cultural e social o que se vê é que o profissional da educação é designado de professor, termo comum e usado indistintamente para todas as áreas de atuação e mesmo de qualificação desse mesmo profissional, assim, não importa se tem mais ou menos qualificação, pois permanece sendo "o professor", coisa distinta do que ocorre com outras áreas tal como a da advocacia: a pessoa entra na universidade como estudante, mas sai sendo chamado de "doutor", mesmo que tenha terminado o bacharelado em advocacia apenas; a mesma coisa acontecendo com dentistas, médicos, enfermeiros e engenheiros como exemplos. Nada contra esses profissionais e também contra serem chamados de "doutor", mesmo porque muitos realmente seguem os estudos e têm a qualificação para tal merecimento, inclusive legislação pertinente para que sejam assim designados, portanto, o que interessa em si é verificar o porquê do profissional da educação, mesmo tendo a qualificação para receber tal designativo não recebe as honras necessárias e continua apenas sendo professor, e reconhecido pela sociedade apenas como tal.

O que se pode perceber é que em relação a sua atuação na sociedade esse profissional é formado, mas carrega uma crise na percepção do papel da própria prática que acaba acarretando outros problemas no desempenho de seu próprio trabalho. Quando este profissional não tem clareza da importância ou da definição do seu papel na sociedade acaba perdendo de vista seus objetivos e descomprometendo-se com os destinos da educação e dos cidadãos que dela dependem.

Nesse sentido, temos como conseqüência uma falha na formação desse profissional da educação ou na sua própria visão de ser profissional, que leva a aceitação ou mesmo a acatar que sua função não seja tão importante como de outros profissionais, quando sabemos que, na realidade, sem a atuação eficiente e comprometida desse profissional - professor - os outros não seriam formados.

Ao argumentar em favor da formação de professores no nosso país, é necessário levarmos em conta a dimensão técnica e humana da educação, uma vez que nos baseamos no fato de que o ato educativo é um ato humano que se concretiza no bojo das relações sociais, e esta relação está inserida em um determinado contexto cultural e econômico do qual os professores precisam ter consciência.

Ao se falar da dimensão técnica da formação de professores, apesar de abranger conhecimentos do como fazer ou proceder para efetivar o ato de ensinar, também precisa prever a contextualização desse ato, já que no processo formativo há uma pressuposição de neutralidade que acaba gerando um ensinar de maneira desvinculada e descontextualizada, pressupondo uma neutralidade do profissional da educação. No entanto, esse profissional da educação, quando visto apenas sob essa ótica ou dimensão, o é como um especialista em conteúdos, capaz de organizar situações de ensino, mas incapaz de relacionar essas situações com as questões políticas, sociais, econômicas e culturais.

Candau (1988) alerta sobre a questão da multidimensionalidade do ensino ao pensar em uma prática concreta e determinada, porém, não se pode negar que ambas as dimensões estão imbricadas ou são indissociáveis. Entretanto, a escola no atual momento histórico e político da sociedade tem passado por mudanças e avanços tecnológicos de toda ordem, gerando, em sua grande maioria, uma população excluída e, nesse sentido, o próprio profissional da educação o esta também, basta citar o domínio de tecnologia de informática como exemplo, assim, urge que esses profissionais estejam capacitados e possam seus cursos os formar para assumir posicionamentos e tomar as rédeas de seu destino e do destino de seus alunos no que se refere à questão técnica, mas também ser capaz de contextualizar essa dimensão para um ensino eficaz.

A crise na percepção do papel da própria prática, gerada por uma formação profissional nem sempre propicia a "criar" um profissional sério e comprometido acaba acarretando outros problemas no desempenho do trabalho do professor. Quando este não tem clareza da importância ou da definição do seu papel na escola e na sociedade, acaba perdendo de vista seus objetivos e descomprometendo-se com os destinos da educação e dos cidadãos que dela dependem. Como conseqüência, o trabalho efetivo de sala de aula e o processo de ensino deixam a desejar. Nesse sentido, mesmo o profissional envolvido muitas vezes se vê frente a crise de ter de ensinar ou executar o que outros já conceberam como se ele fosse incapaz de gerir o próprio trabalho.

De acordo com um autor de didática - Kincheloe (1997)- os profissionais da educação acostumaram-se com a falta de autonomia e de auto-direção e, dessa forma "aprenderam a ser supervisionados", o que o autor denomina de "cultura acadêmica da passividade", que desencoraja a pensar e criar, gerando profissionais passivos e aptos a fazer apenas e "olha lá", apenas o que está pré-determinado como se isso já fosse o muito da sua atuação profissional.

Não se trata de desconsiderar a dimensão técnica do trabalho do professor, pois a prática pedagógica é também um ato técnico que envolve saberes e habilidades, porém de argumentar a favor da dimensão política do ato educativo e da formação de professores, já que a sociedade na qual vivemos é permeada por problemas, contradições, desigualdades e injustiças de toda ordem e nesse aspecto não há apenas a dimensão técnica, mas sim a das relações humanas a ser considerada para que se possibilite fazer a diferença.

Abordar a dimensão da formação de professores envolve abranger conhecimentos do como fazer ou proceder para efetivar o ato de ensinar, e nem sempre essa questão prevê a contextualização desse ato, pois somos ensinados a pressupor uma neutralidade desse profissional. Assim, o profissional da educação, quando visto sob essa ótica ou dimensão o é como um especialista em conteúdos, capaz de organizar situações de ensino, mas incapaz de relacionar essas situações com as questões políticas, sociais, econômicas e culturais, que tratamos como a multidimensionalidade do ensino.

Não se pode negar a necessidade de que diversas dimensões estejam imbricadas ou estejam indissociadas, porém no atual momento histórico e político da sociedade, permeado por mudanças e avanços tecnológicos de toda ordem, dos quais grande parte da população fica excluída e no qual a escola vem perdendo espaço o processo de educação escolar deteriorando-se e a ideologia dominante reproduzindo-se, urge que estejamos capacitados e capacitando nesse sentido nos cursos de formação de professores, para assumirmos posicionamentos e tomarmos as rédeas do nosso destino e do destino de nossos alunos.

Acreditamos que seja necessário dar atenção às questões políticas de contexto, uma vez que os estudos sociológicos e antropológicos vêm possibilitando que a escola seja vista cada vez mais como local de fazer cultural e não apenas de transmissão de conhecimento. É também na escola que podemos encontrar as mais variadas formas sociais e ideológicas, que de uma forma ou outra empreendem uma luta incessante pelo poder, seja esse por parte do aluno, seja por parte do próprio professor ou da própria instituição.

Giroux (1988) tem discutido as idéias críticas em educação e a função política dos professores como intelectuais, entendendo a escola como "uma esfera pública" ligada às questões de poder e democracia. Nessa visão há uma conexão escola - sociedade, poder e ensino, em que o professor é chamado a conceber seu próprio trabalho e a participar da vida da escola como organização social e a admitir o fato de que só é possível educar tendo por base um contexto social e político mutável, considerando a educação escolar como uma forma de luta por democracia e justiça .

Entendemos que educação e política não são elementos indissociáveis, mas é necessário "fazer mais política", para que seja possível desmascarar a ideologia dominante da neutralidade. É importante que se reconheça na neutralidade da educação a ideologia da passividade, e esta inclusive de conhecimento .
Nas últimas décadas, a educação no Brasil tem enfrentado muitas discussões e reflexões sobre ações que retratem e concretizem a construção de uma sociedade democrática e, nesse sentido, as discussões sobre a necessidade de uma formação dos profissionais da educação que seja de qualidade e que os possa capacitar para atuarem comprometida e adequadamente no contexto histórico, cultural e social em que vivem é de suma importância, inclusive em relação à dimensão política dessa formação.

Nesse contexto educacional brasileiro e sem desconsiderar a dimensão técnica e humana da educação, o argumento é de que é necessário que a formação do profissional da educação envolva diversas relações sociais, uma vez que o ato educativo é um ato humano que se concretiza no bojo das relações sociais, e estas em um determinado contexto cultural e econômico dos quais os professores precisam ter consciência.

A dimensão técnica da formação de professores, apesar de abranger conhecimentos do como fazer ou proceder para efetivar o ato de ensinar, não prevê a contextualização desse ato, acontecendo este, quase sempre, de maneira desvinculada e descontextualizada, pressupondo uma neutralidade que já dissemos anteriormente ser equivocada, uma vez que no mínimo três fatores podem ser envolvidos nessa formação: o questionamento do papel desse profissional na sociedade; a falta de clareza do próprio profissional e sua função e as diferentes problemáticas que os cursos de formação dos profissionais da educação vêm enfrentando de forma geral no Brasil nessas últimas décadas.

Em relação às diferentes problemáticas dos cursos de formação de professores, a proposta que se tem divulgado é que o profissional da educação esteja preparado para trabalhar na diversidade, no entanto, isso não significa organizar currículo ou experiências para trabalhar com culturas específicas, mas talvez, criar um ambiente que possibilite desenvolver experiências de respeito a outras formações culturais e lingüísticas que não a sua, de forma a facilitar a aprendizagem de todos os alunos, uma vez que o Brasil é um país que tem em si culturas diferentes e o profissional deve estar preparado para acatar o princípio da inclusão cultural e democrática.

Assim, esse profissional precisa ser formado para conseguir dar mais atenção às aptidões contextualizadas e à construção dos significados do conhecimento, estar de posse de uma variedade de práticas ou procedimentos metodológicos que atendam às necessidades de todos e trabalhar os conteúdos específicos de maneira a abordá-los de múltiplas formas para atender a diversidade de experiências e estilos dos alunos, além de inteirar-se da dinâmica da sociedade, da dominação e opressão a que grande parte da população está fadada. Sabemos que a civilização tem privilegiado alguns conhecimentos em detrimento de outros, os quais são excluídos ou banidos da história, oprimindo todas as leituras derivadas da diferença.

Nesse sentido, mesmo que as questões técnicas do currículo para formação dos profissionais da educação sejam importantes, elas só se tornarão consideravelmente importantes e necessárias, se olhadas numa perspectiva social de contexto, pois o currículo não é um elemento neutro e desinteressado, mas objeto social e cultural implicado em relações de poder, com uma história imbricada na estrutura e organização da sociedade mais ampla e especialmente da escola, sendo assim, o currículo para a formação de profissionais da educação deve permitir novas leituras de mundo e implica em tratar todos como indivíduos concretos com uma história. Essa perspectiva é a que Gramsci (1971) propõe como a formação de "intelectuais orgânicos", em que a escola - universidade - ambiente de formação de profissionais da educação - seja capaz de formar um intelectual transformador de sua realidade e capaz de praticar a democracia nos diversos campos de saberes e cultura.


 

Autor deste artigo: Karin Elizabeth Rees de Azevedo - participante desde Sex, 22 de Junho de 2007.

Veja outros artigos deste autor:

Please register or login to add your comments to this article.

Copyright © 2013 REDEMEBOX - Todos os direitos reservados

eXTReMe Tracker