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Escrito por Magno de Aguiar Maranhao   
Seg, 04 de Junho de 2007 21:00
E O SISTEMA DE CICLOS...

Magno de Aguiar Maranhão *

A ânsia de retirar o Brasil da posição de líder no ranking da repetência na América Latina levou a alguns equívocos. Um dos mais graves foi acreditar que o sistema de ciclos consiste em abolir provas finais e bombardear os alunos fracos com aulas de recuperação. Em outras palavras, o sistema seriado foi conservado, eliminando-se apenas um de seus componentes - o exame que reprovava ou aprovava. Por isso, creio que a revolta dos professores não é direcionada contra os ciclos, e sim contra um sistema seriado capenga, batizado de sistema de ciclos, sem nunca ter sido.
Quando a escola se decide pelas séries, isso significa que, em certo espaço de tempo, os conteúdos X e Y devem ser apreendidos pelos alunos - do contrário, eles terão que freqüentar a mesma série por um ano e ouvir novamente o mesmo conteúdo relativo a todas as disciplinas, ainda que sua única dificuldade seja a Matemática. Não é o procedimento ideal: primeiro, porque a repetição desestimula a criança; segundo, porque não há preocupação em descobrir onde a criança tropeçou, e porquê.
O que não se deve fazer, nunca, é empurrar a criança para outra série sem que ela tenha aprendido o que devia. Como é isso que tem ocorrido nas escolas públicas, há alunos nas últimas séries do ensino fundamental incapazes de se expressar, sem domínio da língua falada e escrita e com conhecimentos menos que rudimentares de cálculos. Um fiasco. Resta saber: estas são as crianças que a escola reprovaria no fim do ano? Ou são as que, na ausência do exame, não exploram o próprio potencial?
Os que defendem os ciclos alegam que o hábito de reprovar um aluno fraco é "perverso", para usar a palavra da moda, e contraproducente. E é. Contudo, tão "perverso" quanto é o seriado sem provas finais, que o obriga a entrar em contato com conteúdos cada vez mais complicados, cuja compreensão só é possível se os conteúdos da série passada foram dominados. Não é de estranhar que ele experimente tremenda sensação de desconforto e se desinteresse pela escola. Tudo isso para que, anos depois, entenda que a vida é repleta de provas finais: se concluir o ensino médio, enfrentará a disputa insana dos vestibulares; se concluir a graduação, o ENADE medirá, em um dia, o que aprendeu em quatro ou seis anos de curso; ao procurar trabalho, perceberá que exames de seleção e concursos podem ser mais "perversos" que os exames da educação básica.
Então, voltamos ao velho sistema? Não, pois nele já estamos. O sistema de ciclos verdadeiro apóia-se na idéia, bem colocada pela pesquisadora e educadora argentina Sara Paín: "Na minha opinião, não se deve aprovar ou reprovar, mas dizer - tal aluno chegou aqui". No próximo ano, retoma-se o processo de ensino-aprendizagem do ponto onde aquele aluno parou. Descartada está a hipótese de pular etapas.
Isso implica um novo modo de pensar a escola. Ao invés da divisão do ensino em séries e turmas fixas, a divisão deve ser por conteúdos de aprendizagem, permitindo a mobilidade do aluno entre diferentes grupos, de acordo com seu aproveitamento. As provas são freqüentes e não têm finalidade de reter, mas de fornecer parâmetros para que o professor planeje as aulas seguintes, levando em conta as dificuldades dos grupos sob sua responsabilidade, que funcionam como grupos de trabalho, onde os alunos são levados a enfrentar desafios, única forma de se sentirem seguros e autoconfiantes.
Há padrões: espera-se que, num determinado tempo, uma criança compreenda certos conceitos e domine a escrita e o cálculo, por exemplo; se, apesar de todas as chances, isso não se verifica, ela pede tratamento diferenciado. É ingenuidade crer que apenas a não-reprovação e a não-evasão evitarão que ela entre para a lista dos excluídos. Excluída ele se sentirá, de qualquer forma, ao se descobrir incapaz de fazer o que os colegas fazem, e ao perceber que a escola não lhe ajuda a lutar contra suas deficiências. A "escola para todos", como se pretende, deve ser preparada para realizar este trabalho com o contingente de crianças que, por algum motivo, não aprendem.
A causa do semi-analfabetismo ao final do ensino fundamental não está na ausência de um sistema. A mera eliminação das provas que causavam a repetência não ajuda os repetentes, e fazer com que avancem sem a bagagem de conhecimentos que deveriam estar carregando é uma demonstração não de tolerância, mas de pouco caso.


* Educador e Presidente da Associação de Ensino Superior do Rio de Janeiro

www.magnomaranhao.pro.br


 
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