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Vale avaliar? As amarguras de quem avalia e de quem é avaliado PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Eliana Maria Ferreira Ribeiro   
Qua, 28 de Fevereiro de 2007 21:00

Avaliação não é um momento terminal do processo educativo. É uma busca incessante de compreensão das dificuldades do educando e dinamização de novas oportunidades de conhecimento. Jussara Hoffmann

Quero aqui dirigir aos educadores uma conversa sobre avaliação, que não tem a pretensão de ser a palavra final no assunto, mas, que pretende provocar a dúvida sobre a validade do processo de avaliação da forma como hoje é realizado, trazendo a tona as amarguras de quem avalia e de quem é avaliado.

A maioria das discussões em torno da avaliação passa pela tentativa de descrever esta prática na ação educativa. Muitos estudos nessa área preocupam-se em definir o "não-deve-ser" ao invés do "ser-melhor" na avaliação. Diversos educadores, apesar de conscientes dos sérios erros cometidos na prática avaliativa, limitam-se a apontar as falhas do processo, criticando-as com propriedade, porém exercendo nas salas de aula uma prática contraditória e improvisada.

Que fatores levariam estes educadores a serem contraditórios no momento de transformarem em ação as suas concepções? Provavelmente o que pesa nessa contradição é a trajetória destes, desde sua história enquanto alunos, até hoje, já professores, sujeitos a um fechado sistema de avaliar-medir nos estabelecimentos de ensino nos quais se encontram. Vítimas de uma avaliação classificatória e autoritária, estes têm, por vezes, de despender um grande esforço para não reproduzir inconscientemente o autoritarismo que foram submetidos e, rompendo com a prática classificatória, construir uma avaliação mediadora.

O que define a mediação em avaliação é a percepção de que esta é indissociável à problematização. "Educar é fazer ato de sujeito, é problematizar o mundo em que vivemos para superar as contradições, comprometendo-se com esse mundo para recriá-lo constantemente" (Gadotti, 1984).

Um professor que não se prontifica a avaliar constantemente a ação educativa sobre a ótica da problematização corre o risco de transformar as verdades em atos absolutos, preestabelecidos e terminais. Isso reduz o ato de avaliar a uma prática de medir, classificar.

O que parece ser mais interessante em toda essa conversa é que muitos educadores passam grande parte de seus dias em contato com os alunos. Travam um relacionamento afetivo com estes que permite o conhecimento pleno de suas potencialidades e seus limites, a ponto de ter facilidade de visualizar se estes são capazes de superar-se e quando se limitam a fazer, por fazer, uma atividade. Tecem, até mesmo, observações significativas sobre seus progressos e fracassos, mas no momento de registrar o desenvolvimento destes, transformam as observações significativas e consistentes em registros classificatórios e inconsistentes.

Parece que se perdem nas exigências das escolas e não conseguem efetivar a avaliação enquanto processo, caindo assim no marasmo da burocracia.

Avaliação é reflexão - palavra que supõe refletir sobre a ação. Esta reflexão, obrigatoriamente, deve ser o ponto de partida para uma decisão. O movimento é dinâmico e não aceita o final obstaculizante. À medida que professor e aluno realizam a ação - ensino e aprendizagem - esta deverá ser objeto de reflexão. Até onde o aluno avançou? Quais suas dificuldades? Que processos cognitivos este realizou para chegar aonde chegou? A prática avaliativa coerente exige do professor estudo sobre as teorias do conhecimento. É preciso que este entenda como se dá a aprendizagem, vislumbre as conexões entre as hipóteses formuladas pelo aluno e a base científica do conhecimento, o que lhe dará condições de oferecer novas questões ao educando, a partir das quais este aprofundará cada área do seu conhecimento.

Isso ficaria representado da seguinte forma:

Ação: O processo de ensino e aprendizagem propriamente dito: momento no qual tarefas são apresentadas aos alunos, desafiando-os à resolução através da problematização


Reflexão: O processo de avaliação: momento no qual as ações do educando são minuciosamente observadas para a compreensão do processo de cognição, e tomada de decisão em direção a novos direcionamentos da ação.



O imperativo é que não se perceba, na representação, dois momentos estanques e desvinculados. No momento em que se desempenha a ação, a observação direta já permite ao educador a compreensão das formulações do aluno e a possibilidade de dinamização de novas oportunidades de formulação. É uma espiral de formulações e reformulações de hipóteses, sem limites ou fim absoluto no processo de construção do conhecimento.

Há que investigar, o educador interessado no processo, as direções teóricas sugeridas por Jean piaget, em proposta construtivista de educação a partir de sua teoria psicogenética, o que lhe permitirá agir em direção à uma pedagogia libertadora, coerente e conhecedora das diferenças sociais e culturais, levando-o a uma prática avaliativa dialógica e interativa capaz de promover educandos críticos, participativos, inseridos no contexto social e político. O eterno questionar é palavra de ordem para este educador.

Saber se vale a pena avaliar implica responder à questões sobre alguns termos da língua portuguesa que por vezes se confundem na cabeça dos educadores e se tornam imprecisos: medir e testar. Vamos fazer um exercício: responda as questões abaixo, com a clareza que elas se apresentarem na sua mente, e só depois continue a leitura. Mas faça da seguinte forma: caneta e papel na mão, escreva sua resposta a cada questão e, depois, ao prosseguir e terminar a leitura releia e altere, se desejar, suas respostas. Ao trabalho!
" O que é medir?
" O que é testar?
" Testar e medir são sinônimos?
" Avaliar é medir?
" Avaliar é testar?
" Qual a importância da medida no processo educativo?
" Qual a importância do teste no processo educativo?

Lembre-se: somente após escrever suas respostas continue a leitura!

Passemos, agora, às minhas considerações sobre os termos.


" A medida
Segundo a etimologia, a palavra medir significa determinar a medida, o tamanho, a extensão, o volume, e outros atributos passíveis de representação em termos numéricos, o que nos leva a concluir que nem tudo pode ser medido com precisão. Que escala numérica pode ser eficiente para definir exatamente a quantidade de amor que uma pessoa sente por outra, ou a extensão da alegria e dor de uma mãe no momento do parto? Usa-se escalas numéricas para determinar a desenvoltura de um aluno em uma redação argumentativa, por exemplo. Pena que os matemáticos ainda não tenham desenhado esta régua tão precisa. O quanto não seria útil aos professores em detrimento ao poder de argumentação dos alunos!

Podemos medir o número de acertos de um aluno em uma tarefa objetiva, a quantidade de faltas deste em um período letivo, o número de trabalhos entregues para avaliação, mas é possível medir a argumentação dele em uma resenha? A harmonia de um desenho (perfeitamente capaz de demonstrar um conhecimento) feito por ele? Sejamos sinceros agora e reconheçamos a arbitrariedade de nossas imprecisas medidas. Cada vez que finalizamos o processo de ensino e aprendizagem atribuindo uma nota ao final de uma simples atividade estamos assinando embaixo de nossa ignorância em termos de avaliação. Então um aluno mereceu nota 7 em redação no 1º semestre, conteúdo descrição e narração e, no segundo semestre, mereceu nota 3 por sua péssima redação argumentativa? Vamos somar e tirar a média: 5 = deu para passar. Encerrada a questão.

Pergunto a você: que processos cognitivos ficaram perdidos naquela nota 3, definitiva e classificatória? Quanto esse aluno vai saber de composição argumentativa no momento de construir um texto? E o quanto você foi capaz de interferir no processo?

" O teste Etimologicamente testar é ver se funciona, experimentar, por à prova. Perfeito! Estaremos colocando a prova o trabalho - ação - realizado pelos alunos no processo de aprendizagem. O problema se dá na interpretação que atribuímos a estes testes. Aplicam-se testes simplesmente para constatar resultados? Se expressa estes resultados de forma numérica? Definitivo: estabeleceu-se aí a avaliação sentenciva e classificatória.

Imagine-se você, indo a um médico, que solicita um exame (teste) de colesterol. Ao conferir o resultado, este sentencia: taxa altíssima - risco de vida, ponto final. Você certamente não o convidará para seu próximo aniversário, não por este doutor estar sem tempo de ir, mas porque você não fará mais aniversários. Terá morrido de um enfarto.

Quero alertar aqui para a necessidade da tomada de decisão diante do teste. O médico analisaria suas condições e receitaria dietas, remédios, caminhadas, enfim, lhe recomendaria a melhor forma de resolver o problema. O professor indicaria leituras, passaria novos desafios em forma de atividades, sentaria com você analisando seus pontos fracos em argumentação, enfim, refletiria e lhe indicaria um caminho de aperfeiçoamento.

As tarefas realizadas pelos alunos devem ter estreita ligação com a possibilidade da investigação. Pergunte-se: por que o aluno respondeu desta forma? Por que não respondeu? A razão de ser das atividades realizadas pelos alunos não está na atribuição de notas ou conceitos, mas na interpretação dos resultados e indicação de novos caminhos para o aprender.

" A importância do teste e da medida no processo educativo
Avaliação é reflexão sobre a ação, tomada de decisão. Medir e testar precisamente, em escala numérica, compromete a qualidade do processo educativo. Não podemos reduzir a amplitude do processo avaliativo atribuindo uma nota final, grafada de azul ou vermelho, e simplesmente dar por encerrado o trabalho. A importância do teste e da medida no processo educativo se dá na medida em que estes são instrumentos de interpretação de dados para o redimensionamento dos desafios oferecidos aos alunos.

O ato de avaliar acompanhado de reflexão necessita de consistência metodológica. Elaboração de testes claros, significativos e não arbitrários, depende de conhecimento da tecnologia dos testes na área do conhecimento em questão.

Proponho assim, aos educadores, a constante busca dessa tecnologia. Aprofundem seus conhecimentos na área que estão ensinando. Busquem as melhores formas de propor desafios aos alunos e interpretar os resultados emitidos por eles. E, por que não, convide-os a discutir o processo de aprendizagem em par com vocês.

Par... parceria. Não é um termo interessante para usar em educação? Só assim vale a pena avaliar!

 

Autor deste artigo: Eliana Maria Ferreira Ribeiro - participante desde Sex, 26 de Novembro de 2004.

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