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O (des) encontro dos diferentes na escola PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Adelson da Costa Fernando   
Qua, 28 de Fevereiro de 2007 21:00

As práticas racistas constituem as relações sociais e são decorrentes do etnocentrismo de grupos étnicos que se consideram superiores. Os "superiores" vêem-se como centro do mundo e agem no sentido de tornar todos os que forem "diferentes" iguais a si. O ato de etiquetar o outro como diferente e inferior tem por função definir-nos, por comparação, como
superiores.

Temos de um lado um eu que pensa parecido, cultua deuses semelhantes, vive de modo "estável", mas existe um outro que não compartilha das mesmas convicções. A presença desse outro, que é diferente do eu, é entendida como a negação dessa aparente ordem estável ou dos esquemas sociais padronizados; é impedido de exercer a sua identidade étnica, pois o padrão do eu é hegemônico. Esse outro, sob o olhar branco e majoritário, é desprestigiado e eliminado; é percebido como uma ameaça e rotulado como inferior. O preconceito se estabelece exatamente nesse (des) encontro das diferenças.

Atribuir características negativas aos que nos cercam significa ressaltar as nossas qualidades, reais ou imaginárias. Os negros foram estigmatizados no imaginário social exatamente como marginais e incultos; seus costumes e crenças foram negados pelo julgamento arrogante do branco. Muitos são induzidos a acreditar que sua condição inferior é decorrente de suas características biológicas e particulares; acabam assumindo a discriminação imposta pelo grupo dominante. Ao se aliar a esse discurso ou omitir-se dele, o sujeito negro se auto-exclui e o preconceito cumpre o seu papel, motivando nas suas vítimas sentimentos de fracasso e impotência.

A novela "O Profeta", transmitida pela Rede Globo, tem abordado o drama do preconceito racial na escola. A personagem Natália, ao descobrir que vai haver uma reunião de pais e mestres, teme que sua colega de sala Analu, filha de um grande empresário da cidade, descubra a identidade de sua mãe, que é negra e empregada doméstica. Os dilemas vividos por Natália se agudizam porque ela tem guardado a sete chaves a real condição de sua genitora. Refletir sobre as relações raciais dentro da instituição escolar abre a discussão sobre a sua função social que é de ser um espaço de preservação da diversidade cultural. Mas a escola tem privilegiado a formação de sujeitos aptos para assumirem tarefas definidas na sociedade capitalista, como seres produtivos, submissos e dóceis; ela se constitui num espaço de internalização dos valores dominantes. A escola é, por excelência, um ambiente onde coexistem crianças de diferentes essências familiares; é o primeiro espaço de vivência das tensões raciais.

Crianças negras e brancas em uma sala de aula costumam se relacionar de forma excludente, e esta tensão acaba segregando ao possibilitar que a criança negra assuma em alguns momentos uma atitude introspectiva, por receio de ser rejeitada ou ridicularizada pelo seu grupo de referência.

A imagem do negro, construída nos esquemas mentais da personagem Natália, é mutilada de atribuições positivas e associada a um mundo triste, marcado pela violência e pela distância real e emblemática entre brancos e negros.

Ela tem se comportado na sala de aula de maneira tensa e agressiva, recusando-se a participar das atividades propostas pela professora, com medo de que os outros possam rir dela e ser constrangida; para não ser rejeitada ou ridicularizada, ela prefere omitir o seu discurso, as suas raízes e a sua identidade. São manifestações das marcas da violência simbólica que a faz sentir-se marginalizada e desvalorizada, sendo levada ao falso entendimento de que não é merecedora de respeito ou dignidade; julga-se sem direitos e
possibilidades e se exclui do convívio social. O preconceito é tão forte nela que a faz negar sua origem e reconhecer sua "inferioridade".

Admitir que reproduz as diferenças étnicas, buscar estratégias que atendam às necessidades peculiares dos alunos negros, estimulá-los nos níveis cognitivo, cultural e físico, resgatar a auto-estima, a autonomia e as imagens distorcidas são ações que a educação escolar precisa primar.

Combater a discriminação racial é uma atitude politicamente correta, racionalmente coerente e socialmente sugestiva.

 

Autor deste artigo: Adelson da Costa Fernando - participante desde Ter, 30 de Janeiro de 2007.

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