Login

Sugestões

Faça o login e visualize as sugestões

Usuários on line

Nós temos 2414 webespectadores online

Revista

Gestão Universitária

Edições Anteriores 128 BBB - Um desserviço
BBB - Um desserviço PDF Imprimir E-mail
Avaliação do Usuário: / 1
PiorMelhor 
Escrito por Magno de Aguiar Maranhao   
Qua, 14 de Fevereiro de 2007 21:00

A onda de reality shows que atravessou o Atlântico e assola o país não dá sinais de enfraquecimento. E isso ocorre justo no momento em que lutamos por uma educação integral, que leve os jovens a exercitarem a cidadania e respeitarem a coletividade, com vistas a uma sociedade mais justa e solidária, com acesso universal ao conhecimento e aos bens culturais.

Justo agora, esses estranhíssimos shows, além de transformarem em entretenimento um dos piores pesadelos da era tecnológica (o poder mantido através da vigilância constante), oferecem prêmios mirabolantes não aos talentosos, mas aos mais competentes na arte de manipular e puxar o tapete dos adversários: prática bastante difundida não só no Brasil do "jeitinho" ardiloso, que deixa a ética em segundo plano, mas que há milênios dificulta a vida do ser humano. Esta é uma das mais sérias críticas que tais programas, como "Big Brother Brasil" tem recebido.

A julgar pelos protestos que se espalham pelas seções de cartas dos jornais e Internet, parte dos espectadores não digeriu o produto: menos, talvez, devido à forma que ao conteúdo. Há quem questione o número de neurônios dos participantes, que mantêm diálogos absolutamente desinteressantes; outros acham que a televisão, em vez de estimular o voyeurismo, deveria incentivar as pessoas a cuidarem da própria vida; alguns lamentam a dose cavalar de mau gosto contidas em algumas cenas, outros acham os programas insípidos.

Ávidas por novidades e ansiosas para derrubar as concorrentes, as emissoras alimentaram a polêmica e continuam apostando em uma atração que, como seus defensores repetem em cansativa cantilena, apelando para nosso ranço de colonizados , é criação européia ? como se fosse um atrevimento duvidar da qualidade de algo que traz uma etiqueta do Primeiro Mundo.

A primeira explicação para o sucesso dos reality shows é que apelam para a angústia do anonimato que nós, habitantes das cidades, sentimos em maior ou menor grau. Na multidão, somos nada: sensação que nos oprime principalmente quando a ineficiência dos serviços públicos atesta nossa desimportância; quando nosso trabalho é insatisfatório; quando nossos horizontes culturais são limitados e não entendemos como o mundo funciona.

Assim, ver pessoas, comuns ou famosas, envolvidas em situações rotineiras (comer e reclamar da comida, limpar e reclamar da sujeira, seduzir e ser seduzido etc.) faz com que criemos de imediato uma identificação com elas. Ilusória, claro, pois a maioria de nós não está em uma mansão, alheia ao mundo, com um grupo de desconhecidos que nada mais são que estorvos ao sonho de ganhar muito, muito dinheiro.

É possível fazer diferente. Os participantes poderiam se unir em um projeto comum e solidário (talvez para a melhoria da casa, quando revelariam suas habilidades); poderiam discutir assuntos de interesse público (como tem acontecido em algumas novelas, da TV Globo, em relação às drogas, aos portadores de necessidades especiais, provando que entretenimento não significa alienação); poderiam apoiar campanhas de esclarecimento etc.

Há mil maneiras de enriquecer o programa. Contudo, os "atores" são mal aproveitados e compelidos a brincadeiras que qualquer criança saberia tornar mais criativa (quando não são humilhados). Os espectadores torcem para presenciar crises nervosas, violência verbal, acusações mútuas. O objetivo é a derrota do semelhante, sua queda, sua cara no chão. Nenhum arremedo de cumplicidade. Nenhum trabalho conjunto. Nenhum talento descoberto. Do outro lado, o público vota, afinal, em quê?

Por que a televisão está levando o público a aplaudir aqueles que conseguem segurar abacaxis por mais tempo? Por que ela quer premiar aqueles que, em seus quinze minutos de fama, agüentam firme dentro de uma cova cheia de ratos? Por que aproveitar os recursos de interação com o público levando-o a julgar individualidades e fraquezas alheias?

Não é intenção, aqui, criticar a televisão brasileira como um todo, ou sequer uma emissora, mas analisar um fenômeno em particular.

Existem, afinal, atrações excelentes para todas as idades, como o Sítio do Picapau Amarelo, que oxigenou a programação infantil; as novelas, não é de hoje, têm sido aproveitadas também para informar e educar. Entretanto, não lembro de nenhuma boa atração ter sido anunciada de forma tão estrondosa na TV Globo quanto o "Big Brother Brasil".

A embalagem ficou ótima. Algo no produto, porém, passa a impressão de que o olho do Grande Irmão imaginado por Orwell em seu "1984" não está exatamente voltado para os indivíduos confinados na mansão, mas para quem os assiste: um vigilante que procura saber quem somos nós, o que fazemos, que valores prezamos e que desejos ocultos temos, para, assim, nos oferecer uma catarse sob medida.




 
Please register or login to add your comments to this article.

Copyright © 2013 REDEMEBOX - Todos os direitos reservados

eXTReMe Tracker