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A crise do saber |
Escrito por Inácio José Feitosa Neto |
Qua, 14 de Fevereiro de 2007 21:00 |
Os efeitos da exclusão do saber estão em todos os lugares, desde a criança reprovada na escola pública, mas que mesmo assim é promovida à série seguinte para que sua vaga seja ocupada por outra pessoa, ao adulto que é desligado do seu emprego por não dominar a tecnologia ou ao cidadão que é assaltado à porta de entrada de sua casa. O conhecimento - algo tão intangÃvel - passa a ter materialidade na sociedade pós-industrial, restabelecendo uma nova ordem de organização social: as dos que possuem conhecimento e a dos seus excluÃdos. Na história da humanidade, o tear hidráulico, o tear mecânico e a máquina a vapor foram os sÃmbolos da revolução industrial iniciada em 1750, que demarcou o território fÃsico da criação do conhecimento humano, exigindo dos operários o domÃnio das máquinas para a realização de uma produção seriada. Em seguida, os ideais de "liberté", "égalité" e "fraternité" da Revolução Francesa de 1789 que culminaram com a queda da Bastilha, sÃmbolo do absolutismo francês, fizeram surgir o "homem cidadão", detentor de direitos e de obrigações. Não mais subordinado à s elites dominadoras e opressoras, mas um indivÃduo livre cuja relação laboral passava a ser amparada por arcabouços jurÃdicos, como, por exemplo, a nossa Consolidação das Leis do Trabalho de 1943. Vivemos em um novo milênio, cheio de ebulições sociais, em cujo conceito de trabalho já não corresponde ao apregoado naquela lei celetista. Hoje, vê-se que o trabalhador muitas vezes exerce suas atividades em casa, sem subordinação, sem expediente, e com uma perfeição técnica inigualável. Mas, o acesso a informações se dá de uma forma sem precedente - e a todos os instantes - de diversas maneiras. Por isso somos cobrados a ter um conhecimento global, além de nossas aldeias. A valorização da educação, do conhecimento, da capacidade humana de assimilação de informações, mas, sobretudo, da retenção de conhecimento é o que tem diferenciado as pessoas bem sucedidas das que tiveram insucesso profissional. Essa é uma das piores exclusões: a do saber. Em plena era da sociedade do conhecimento, vivemos um Brasil com Ãndices de exclusão educacional altÃssimos. O último Censo do MEC/Inep referente a 2005 comprova que estamos longe de inserirmos nossos jovens de 18 a 24 anos no ensino superior como objetiva os 30% do Plano Decenal de Educação. A taxa lÃquida de inserção desses jovens é de 10,9%, o que é muito baixo para um paÃs de dimensões geográficas e culturais como o nosso. É vergonhoso vermos os Ãndices de violência de nossas cidades, em que a sociedade a cada momento se ver vÃtima também de suas crianças. A evasão escolar mostra onde elas estão: na rua mendigando ou vitimando a própria sociedade que as excluiu do convÃvio. O projeto de inclusão social brasileiro funciona à s avessas, mas o nosso planejamento estratégico de deformação social avança a cada dia em progressão geométrica. A criança fora da escola é o adulto que desconhece seus direitos, mas que aceita calado todos os deveres que os ditos "instruÃdos" lhe impõem. Enquanto isso, nossos representantes legislativos aparecem nas páginas dos jornais se defendendo de denúncias de corrupção ou mesmo elaborando leis que os favoreçam. Parece até que as leis são criadas para os deixarem impunes! As universidades de nossas ex-crianças de ruas são os presÃdios, onde passam a ser detentores dos diplomas de indigentes sociais. Esses locais, verdadeiros "barris de pólvora", estão prontos para explodir a qualquer momento. E nossas autoridades... o que fazem? Nossos juristas já falaram em punir, prender, trancafiar... Digo: sem educação não haverá solução para nossa crise social. |
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