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Ensino Superior Público: indicadores preocupantes |
Escrito por Antonio Cruz Vasques |
Qua, 14 de Fevereiro de 2007 21:00 |
Está comprovada empiricamente que a heterogeneidade de distribuição de capital humano entre as famÃlias tende a desaparecer se a educação for um bem público inteiramente financiado pelo estado. Se a educação for considerada privada a heterogeneidade inicial do capital humano tenderá a persistir no tempo. Conforme informações do Global Education Digest - 2006 da UNESCO, nos dois paises mais desenvolvidos do continente americano a participação do setor privado na educação superior é inferior a 25% nos Estados Unidos e menor do que 10% no Canadá, situação muito diferente do Brasil que, com 73% de participação do setor privado, talvez seja o paÃs do mundo ocidental com a educação superior mais privatizada. Outra relevante informação foi divulgada semana passada. O MEC publicou dados de 2007 sobre a distribuição de cursos superiores por áreas do conhecimento. A área de Ciências Sociais, Negócios e Direito é a que registra o maior percentual de cursos superiores: 31,2% (8.059). Entre as outras 7 grandes áreas do conhecimento existentes na Educação Superior Brasileira, a de Educação é a que tem a segunda maior participação, com 29,2% (7.539). A seguir vêm Ciências, Matemática e Computação com 11% (2.842 cursos), e Saúde e Bem-Estar Social com 10,5% (2.718). Em resumo: 70 % desses cursos estão concentrados em Direito, Administração, Educação e Humanidades e Artes. As engenharias de produção e construção detêm apenas 4,9% dos cursos! É interessante, mesmo com defasagem estatÃstica, fazer uma comparação dessas informações com dados de alguns paÃses do Mercosul ("Indicadores Estadisticos del Sistema del Mercosul-2004"). No Chile, as engenharias representam 26,3% das matrÃculas, 15,4% no Uruguai e 9,7% na Argentina. Enquanto apenas 2,0% das matrÃculas brasileiras estão na área de agricultura, no Chile (um paÃs de limitada área agrÃcola) correspondem a quase 5,0%, sendo o dobro no Uruguai e Argentina (4,0%). Essa elevada concentração pode ser explicada pela prioridade de investimento do setor privado (responsável por quase 80% das matrÃculas!) em cursos com reduzidos custos de implantação, pelas baixas taxas de crescimento da economia que provocam uma pequena demanda derivada por cursos das áreas tecnológicas e, principalmente, porque o poder público perdeu a capacidade de investimento, apesar dos gastos elevados por aluno no ensino superior. O Brasil, com gasto público por aluno de US$ 9,279, tem valor bem distante dos US$2,802 da Argentina, US$ 2,832 do Paraguai e US$ 2,590 do Uruguai, estando mais próximo do valor per-capita de US$ 6,983 do Chile. Nos outros nÃveis de ensino a situação é diferente: no ensino médio, por exemplo, temos o menor gasto público per-capita do Mercosul (apenas US$1,008). Os altos nÃveis de privatização e de concentração de matrÃculas tornam-se grandes desafios no contexto de definições de polÃticas públicas para a educação superior brasileira. A homogeneização da distribuição do capital humano somente se dará pelo aumento da participação do Estado, principalmente na oferta de cursos que demandem maiores investimentos unitários. |
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