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Pós-modernidade não rima com leitura |
Escrito por Luiz Geremias |
Qua, 13 de Dezembro de 2006 21:00 |
Ler é imaginar, e numa sociedade na qual a imaginação está dada a priori, fica muito difÃcil incentivar as pessoas, notadamente as mais jovens, a ler. É que estes cresceram sob uma lógica na qual as palavras valem menos do que as imagens e, consequentemente, estão acostumados ao a priorismo da importância da imagem sobre o texto. Isso, em termos da formação subjetiva, tem repercussões drásticas. Vejamos que o mundo da literacia, que nasceu com a imprensa de Gutemberg e chega até a chamada pós-modernidade da metade do século XX, supunha que a palavra é produtora de imagens mentais, o veÃculo fundamental para a eclosão imagética. Antes disso, nas ditas sociedades orais, não havia a difusão dessa divisão entre imagem e escrita. A proximidade do humano com a natureza viabilizava uma vivência imaginativa formulada pelas imagens dadas pela relação com o mundo natural. A prática da tatuagem, nesses tempos, ilustra isso. O corpo era um veÃculo de difusão de mensagens através de imagens, que eram como as palavras da literacia: enquanto nesta a palavra suscitava imagens, na oralidade a imagem suscitava palavras que a designassem. De alguma forma, há, hoje, um pastiche do que ocorria nesses tempos mais antigos. E a tatuagem, tão comum nos corpos dos jovens, ilustra também isso. Disse Karl Marx, no 18 Brumário, que a história só se repete como farsa. E é o que estamos assistindo na contemporaneidade em relação aos tempos da oralidade. Talvez não exatamente como farsa, mas como pastiche, como prefere Fredric Jameson (2006). O retorno de práticas das sociedades orais nos dias de hoje só pode ser entendido dessa forma. O problema é que, se há uma farsa, há farsantes. No mÃnimo, há aquele que propõe a farsa e aqueles que a põem em prática. O capitalismo contemporâneo não pode ser considerado um incentivador da leitura. Basta lembrar que duas de suas caracterÃsticas são a morte do sujeito individual e o fim da história. Justamente o sujeito individual que se formulou basicamente na leitura e justamente a história, um saber eminentemente dependente de estudos literários. Não há como se esperar, assim, a formação de leitores. É com essa base que a dificuldade de leitura deve ser entendida. Há uma utilização do pastiche da oralidade como estratégia comercial. Como bem explica Jameson, para cada proposta pós-moderna há uma prática moderna criticada e o problema, aqui, é que o modernismo não é o que se pode chamar de um exemplo de "caretice" que precisava ser balançada. Ao invés disso, trata-se de um conjunto de práticas revolucionárias, propostas de transformações efetivas na vida dos antigos "partidários da ordem" - mais especificamente a classe média do século XIX. É contra o que de melhor a modernidade legou que se ergue a pós-modernidade e o seu horror ao estudo. Mas, por quê? Tendo a crer que pós-modernidade é um nome que designa uma armadilha conceitual. Uma arapuca que, justamente, se põe no momento em que a modernidade chegava ao poder, ou seja, que projetos como o de Picasso, Niemeyer ou Freud eram aceitos pelas universidades e passavam a ser levados em conta e estudados, saindo da marginalidade. Eis que, num só lance, passam à "caretice" de uma hora para a outra. Por quê? Alguém criativo, com capacidade para inovar, não é geralmente um bom consumidor. A questão da historicidade também é interessante. Até a dita pós-modernidade, o passado era algo que o indivÃduo tinha para defini-lo. Era com o conhecimento histórico que alguém podia dizer quem era a outra pessoa e se definia em relação ao mundo. Na contemporaneidade, a história está morta, substituÃda pela alta rotatividade da informação midiática. Como lembra Jameson, a mÃdia tem como função essencial o esquecimento de tudo aquilo que noticia. O sujeito pós-moderno - se é que é possÃvel falar disso - extrai sua identidade no meio da veloz ciranda midiática, vive num eterno presente, sem passado ou um preciso planejamento futuro. Os tempos pós-modernos são aqueles nos quais uma imagem vale mais do que mil palavras. Tempos de mentirinha, portanto. Todo mundo sabe que a imagem não vale nada se não houver pelo menos uma palavra que a defina. O problema, é possÃvel entrever, é que essa palavra já está dada, sem que o suposto sujeito precise formulá-la. E isso é grave, muito grave. Na verdade, uma palavra vale mais do que mil imagens, simplesmente porque as qualificam. Mas os jovens da modernidade não sabem disso. Ler é imaginar, é ter coragem de entrar em contato consigo próprio, de forjar a sua própria fantasia. Os tempos chamados de pós-modernos descobriram a fantasia enlatada, junto com salsichas, cerveja e ervilhas. Num ambiente subjetivo como esse, será muito difÃcil fomentar a leitura e a imaginação. DifÃcil, mas não impossÃvel. Veja-se que muitos jovens estão começando a suspeitar que estão sendo iludidos. Não é incomum encontrar adolescentes muito interessados naquilo que se convencionou chamar de "teoria da conspiração", que reza haver algo como uma inteligência ubÃqua que rege quase todos os acontecimentos. Bem, esses meninos e meninas sentem haver algo errado, e estão buscando palavras para definir o que sentem. E mais, têm lido bastante para entender como se dá essa tal conspiração. É um bom sinal. |
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