Login

Sugestões

Faça o login e visualize as sugestões

Usuários on line

Nós temos 2857 webespectadores online

Revista

Gestão Universitária

Edições Anteriores 124 Depois da eleição... a política
Depois da eleição... a política PDF Imprimir E-mail
Avaliação do Usuário: / 1
PiorMelhor 
Escrito por Mário José Dias   
Qua, 06 de Dezembro de 2006 21:00

O ano de 2006 foi marcado pela experiência da democracia. Esse pode ser um caminho para definir o nosso ano eleitoral no Brasil. Um ano que pode ter iniciado em meados de 2005, quando a sociedade se viu às voltas com um debate sobre a corrupção, a ética e a cidadania.

A democracia, até que se prove o contrário, ainda é um regime viável para a sociedade. Apesar de sua marca ser pautada pela "ditadura da maioria", que muitas vezes é confundida com "a voz do povo é a voz de Deus", ainda assim é preferível a outro tipo de governo.

A questão preocupante é de se pensar a democracia só como um momento eleitoral. Exerce-se o voto quando uma questão é polêmica e que se precisa decidir entre duas ou mais alternativas. O voto passa a ser o apelo mais rápido quando não se quer discutir e nem debater idéias, propostas e, principalmente, não se quer enfrentar as diferenças.

O preocupante desta situação toda é que se perde de vista o lugar da política que é, em síntese, o lugar das diferenças. Caso não existam diferenças de opiniões, de propostas, de pessoas, como exercer a política? A arte de se fazer política é a negociação, o debate em exaustão de opiniões diversas. É dar a oportunidade de escolha.
Seria preciso para isso que a política fosse entendida como uma real necessidade do "ser pessoa". Só se é pessoa verdadeiramente quando se consegue exercer a plena liberdade da vida da pólis.

Durante todo este período, a sociedade brasileira pode pensar nesta polis, até mesmo porque todos os meios de comunicação se abriram para um debate com a sociedade. Escolher o principal governante de uma democracia representativa de um país foi uma oportunidade privilegiada para pensar sobre a cidadania. Neste mesmo tempo oportunizaram-se o debate sobre a ética, a economia e a política.
Percebeu-se que o quadro brasileiro é o mesmo de seus países vizinhos. A sociedade presenciou a atitude pouco comum de um país como a Bolívia reclamar o que lhe é de direito: suas riquezas naturais. Essa atitude, que contraria as regras de uma cartilha neoliberal, que preconiza as ações privadas e não públicas, foi noticiada e combatida por representantes políticos das mais diferentes correntes ideológicas. Foi igualmente elogiada pelo governo de Hugo Chávez enquanto outros governantes resolveram não opinar sobre o assunto.
Curiosamente, passada a eleição, o assunto foi deixado de lado, ou, quando muito, surgiu uma nota despretensiosa em alguma página de jornal. O debate deixou de ser importante ou não era mais interessante?

Se este tema não merece mais destaque não deve significar que não seja importante. Elegeram-se outros temas, como "governo de coalizão", "eleição da câmara", "reforma ministerial" ou, até de maneira tímida, "reforma política".

A América Latina vive constantemente às voltas com temas superficiais, deixando de lado questões mais significativas tais como a "desigualdade social". Este tema, tão comum em discursos de campanha ou em congressos de estudo sobre a pobreza, é vazio de soluções. A prática comum do assistencialismo não pressupõe soluções a longo prazo que tirem o outro da situação desfavorável em que se encontra. "Não se ensina a pescar" ao mesmo tempo em que "se dá o peixe".É preciso acordar para esse tema.
Na atual situação não se pode dizer que se deva acabar com essa prática, mas é preciso qualificá-la para que no futuro não se necessite mais recorrer a isso.

A diferença entre o período eleitoral e a realidade está justamente em perceber que este debate deve continuar. É preciso que os meios de comunicação continuem abrindo espaços em seus horários nobres para provocar o debate.

O ideal seria que os governantes eleitos dedicassem, com o mesmo afinco, suas energias eleitorais para as práticas de governo. Eles poderiam abrir espaços em sua agenda e voltar à rádio e à televisão para debaterem com a opinião pública suas práticas políticas ou mesmo para esclarecer o que de seu plano de governo, apresentado às urnas, já foi cumprido e o porquê ainda não ocorreu.

Este é um dos caminhos que pode dar validade às campanhas atribuídas ao TSE que dizia exaustivamente ser o povo o patrão, e por isso precisaria fiscalizar, cobrar uma ação efetiva e em consonância com o seu plano de governo. Sem dar dados, sem exercitar a cidadania, não se faz política.

De algum modo o indivíduo pode organizar a sociedade. Esta só pode ser construída se houver a prática do convívio social. É certo que se vive hoje um problema de segurança em toda a América Latina, o que muitas vezes dificulta o entendimento sobre a esfera do convívio social.

Conviver socialmente só é possível quando alguns espaços puderem ser garantidos, tais como o da educação e da saúde. Não se pode mais acreditar que se construirá alguma coisa séria neste país que não seja primeiro garantir qualidade de vida às pessoas. Esta garantia precisa ocorrer para que problemas como a segurança e a desigualdade social possam minimizar.

A educação é um pilar importante para que a política sobreviva e faça parte de nosso "ser pessoa". O indivíduo social é aquele que se confunde com o cidadão, não qualquer cidadão, mas o que seja capaz de ler a realidade. O caminho mais seguro e eficaz de construção e sobrevida de uma nação é sua educação.

Não se pode confundir educação com discurso político. Deveria ser proibido um governante afirmar que sua prioridade é a educação. Pode parecer estranho essa afirmativa, mas se a sociedade começar a pensar que ela é importante demais para ser prioridade, quem sabe a educação não fará parte de um compromisso de permanência de um governante no poder. O governante que não demonstrar na prática um plano de educação eficaz e com controles de qualidades bem definidos, deveria ser cassado imediatamente e enquadrado em crime contra o poder público.

O mesmo se devia dizer da saúde. Um governante não deveria mostrar ufanamente dados que digam que ele atendeu mais doente, construiu mais hospitais, mais postos de saúde se comparado a governos anteriores. Nossa política precisa ser voltada para saúde e não para a doença. Qualidade de vida pressupõe menos doenças, melhores condições de saúde.

Natural que a educação e a saúde caminhem juntas e ao mesmo tempo ampliem o debate para a economia, a cultura, o lazer...

O Brasil, que não está isolado do resto da América Latina, precisa sair de sua condição de país dos discursos para a prática de políticas sociais saudáveis que diminuam de fato os patamares gritantes de desigualdade social.

Crescer economicamente é uma meta necessária e urgente, mas sem que para isso se exija do povo mais sacrifícios e menos qualidade de vida. Construir uma cidadania saudável é dar a ela condições efetivas de se sentir parte do poder que ela mesma constitui. Esse caminho não se pode restringir a um ano eleitoral, ou a condição do voto. Criar espaços públicos institucionalizados ou não para que esse debate seja permanente, para que a política seja a ordem de todos os dias. Esse é um sonho que é possível realizar. Sua concretização se dará se cada um puder acreditar que não precisamos esperar outra eleição para voltar ao debate.

Que o ano de 2007 seja marcado por conquistas coletivas e uma cidadania efetiva. Que passada a eleição os novos e antigos governantes cumpram o seu papel de representantes não de seus interesses pessoais, nem de grupos de interesses, mas de uma coletividade que precisa ser respeitada para voltar a acreditar que agora é hora de se fazer a política da e pela dignidade da pessoa humana.

 

Autor deste artigo: Mário José Dias - participante desde Sex, 01 de Setembro de 2006.

Veja outros artigos deste autor:

Please register or login to add your comments to this article.

Copyright © 2013 REDEMEBOX - Todos os direitos reservados

eXTReMe Tracker