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Edições Anteriores 121 Apropriação de conceitos de geometria métrica espacial
Apropriação de conceitos de geometria métrica espacial PDF Imprimir E-mail
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Escrito por José Fernando da Silva Filho   
Qui, 16 de Novembro de 2006 21:00

APROPRIAÇÃO DE CONCEITOS DE GEOMETRIA MÉTRICA ESPACIAL: UM ESTUDO DE CASO COM ALUNOS DO 2º ANO DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA AGROTÉCNICA FEDERAL DE BELO JARDIM-PE.


INTRODUÇÃO
Contextuamos uma realidade deficiente, senão inexistente, no ensino de geometria métrica espacial nas escolas da atualidade, seja pública ou privada, fruto de uma conseqüente falha na formação docente, desvalorização profissional, precariedade de aperfeiçoamento individual, etc., tudo isso atrela-se e transmite ao aluno um ensino desconexo com a realidade, frente aos avanços tecnológicos, proporcionado ao educando anemias de competências para enfrentar o mercado de trabalho.

A escola em pesquisa é uma instituição federal de ensino médio profissionalizante e de pós-médio, bem vista pela formação de profissionais destinados á atividades de agricultura, agropecuária, informática e enfermagem, famosa por sua qualidade de ensino, bem como também por seus professores de excelente nível de instrução e conhecimento.

Com base no histórico da qualidade de ensino, formação docente e sua conseqüente pedagogia, galgamos na indagação de como, realmente, se processava a aprendizagem, se ainda no tradicionalismo mecânico ou interdisciplinar e chegamos a observações gerais em que apontamos a importância da influência do planejamento pedagógico, como chave inicial para nortear o processo didático; uma metodologia de alfabetização geométrica, haja vista termos constatado uma enorme dificuldade em assimilação e interpretação de conceitos dessa área da matemática; importância da contextualização na vida escolar, como parte de um processo de permanente construção individual; o significado da importância e processos de consumação da aprendizagem significativa como crença principal do sucesso no efeito do ensino da geometria espacial; e por fim, a importância em sempre nos auto-avaliarmos, refletirmos sobre o exercício de nossa prática em sala de aula, como meio de aperfeiçoamento e melhora na transmissão do saber

"INFLUÊNCIA DO PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO
Frente às constantes inovações que a educação vem presenciando, mudar o jeito de ensinar é algo urgente e imprescindível para não ficar para trás no novo milênio, mas para isso, requer forças, não só do professor, mas da própria comunidade em que a escola está inserida.

Entender o que mudou e o que precisa mudar é essencial para definir prioridades e objetivos, pois é no projeto pedagógico aonde o educador deve rumar o conhecimento, pois é a chave mestra para o sucesso da aprendizagem do aluno e, para isso, faz-se necessário o engajamento da direção da escola à comunidade em que ela está inserida, "pois o lugar de ensino é o reflexo da sociedade e só haverá transformações verdadeiras quando tivermos metas diferentes das atuais e quando a realização humana estiver acima do trabalho", ou seja, houver vontade e querer de mudar, conforme afirma Vitor Paro, professor da Faculdade de Educação da USP, em entrevista à revista de educação Nova Escola, em dezembro de 2000.

Reforçando por Elvira de Souza, professora da Hofstra University, em Nova Yorque-EUA e Universidade da Salamanca-ESP, especialista em desenvolvimento humano, onde afirma que "a falta de conhecimento sobre a evolução biológica do ser humano e a deficiente formação inicial do professor são as principais barreiras de mudança". Transformar a escola por dentro não é fácil nem rápido, pois trabalhar de um jeito novo, na educação, significa pensar de maneira diferente o ato de ensinar, para isso existe o projeto pedagógico, essencial para o bom funcionamento.

Graças às novas tecnologias a escola está deixando de ser o lugar onde se acumula conhecimento, tendo no professor o depositário da sabedoria e no estudante um fim em si mesmo. O papel do educador é ser mediador e facilitador, cabe a ele criar situações de aprendizagens que possam servir para o resto da vida do aluno, pois o conhecimento virou um meio para desenvolver competências, em fazer com que alunos e professores se tornem capazes de continuar aprendendo, bem como ainda o aluno saber agir e pensar criticamente, sendo tolerante às diferenças sem perder de vista sua individualidade. Para isso, mostramos nossa síntese básica de como era e o como precisa ser o processo de aprendizagem:



No entanto, cremos que para haver mudança na estrutura cognitiva do aluno se faz necessário planejar pedagogicamente e, para isso, há necessidades de: a) Diagnóstico - em que permite identificar pontos fracos e fortes da comunidade, pois é dela que vem o aluno, pois os professores precisam analisar o papel da escola na comunidade, exame das práticas de classe, compreender a organização e as formas de convivência na escola, conhecer a realidade dos alunos, no tocante a credos, etnia, cultura, etc.; b) Plano de Ação - relação das possíveis soluções para os problemas, do como, quando e por quem agir; c) Autonomia - a escola precisa ter liberdade para escolher a melhor maneira de atuar; d) Valorização - ação de atrair e motivar os docentes no fator da remuneração à intelecção; d) Ambiente - mudança e organização física da sala de aula, como fator de conforto primário para contribuir com o processo de aprendizagem, possibilitando a criação de um ambiente propício para desenvolver capacidades de aprendizagens no aluno.

O entrosamento entre docentes eliminando o egoísmo é mais uma ferramenta para a melhoria do ensino, em que inibe a dominância de uma prática individualista e fragmentada, mensurável, típica do tradicionalismo mecânico. Assim o planejamento é importante para desenvolver o currículo e atingir objetivos de promoção da aprendizagem, evitando, segundo José Cershi Fusari, mestre em Filosofia Educacional e Doutor em Didática da USP-SP, a improvisação, que aqui consideramos como aulas não planejadas, o que, é claro, às vezes é inevitável, pelo nível de entrosamento dos alunos com o educador e matéria em discussão, o que é positivo, mas não deve ser visto como uma regra e sim, como uma exceção.

A partir do momento em que o educador trabalha a dimensão afetiva dos alunos, torna-se experiente e sensível o suficiente para detectar anormalidades de ordens diversas, pois quanto maior sua capacidade perceptiva, maior sua habilidade em improvisar, segundo afirma Phillippe Perrenoud, sociólogo suíço, em entrevista à Nova Escola de novembro de 2004, quando explicava sobre o nível de qualificação profissional de enfrentar o imprevisível.

Por conseguinte da improvisação, o bom profissional é organizado, não compulsivo e democrático com os alunos, seu planejamento lhe traz segurança, melhora sua aula em seqüências didáticas, evita que os conteúdos fiquem fragmentados, livra-se da ansiedade, estrutura-se para as próximas aulas com facilidade, pois quando ele não repensa no dia-a-dia, as aulas tendem a ficar repetitivas e sem significados, aonde é uma das principais causas de desinteresse dos alunos pela matéria.

Porém a rotina também educa, pois crianças e jovens aprendem mais e melhor quando sentem que suas necessidades são atendidas junto com as do professor, de organizar as tarefas diárias, tais como: o que vai ser estudado, a importância para suas vidas e quais materiais vai utilizar; logo, é preciso ser flexível e estar preparado para algo inesperado que quebre o planejado, pois a qualidade do ensino depende da inovação e, para isso, é preciso buscar sempre uma nova rotina; porém, uma rotina planejada garante não só o sucesso didático, mas a qualidade de vida pessoal do educador com sua família.

Assim, Interação entre alunos reforça a aprendizagem, pois há trocas de experiências dos mais fortes com os mais fracos de saberes, instigando-os a assumir um papel participativo e articulador de sua própria aprendizagem e isso só é possível confiar se conhecermos a realidade social, religiosa, pessoal, pois se quisermos um ensino contextualizador e significativo, valorizando seus conhecimentos prévios, faz-se necessário não partir de suposições imaginárias e artificiais, mas de situações mais corriqueiras de suas realidades.

Outro compromisso que garante o sucesso é o contrato pedagógico onde o professor, numa escala menor que o planejamento, estabelece um acordo com a classe levando todos a buscar o mesmo objetivo - a aprendizagem; pois, se a nova ideologia teórica é fazer o aluno autor de seu próprio processo, eles deixam, de ser apenas obedientes e assumem uma responsabilidade ativa perante o material proposto e definido; assim, como o educador espera disciplina e dedicação aos estudos deles, estes últimos, esperam saber o que vão aprender e de que maneira, logo, o docente passa a ser o tutor, avaliador e interventor dessas intenções enquanto o aluno assume sua própria aprendizagem.

Para formalizar esse contrato é necessário a elaboração de um plano de trabalho aonde define estratégias, métodos e materiais a serem usados e implica entrosamento docente, interação comunitária, conhecimento do nível cultural discente, histórico social do aluno, nível de aprimoramento cognitivo, preferências lúdicas, o quê, segundo Maria L.Merino Xavier, docente da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, não pode estar pronto nos primeiros dias de aula, pois por mais que o professor planeje suas aulas de acordo com os conteúdos a serem abordados, sempre haverá necessidade de mudar os rumos, até porque um dos motivos é atender às necessidades momentâneas dos alunos, ou seja, de que adianta abordar um tema didático sem relação pertinente com a realidade.

No entanto, o sucesso de todo uma engrenagem da instituição escola depende do fator administração escolar, porque se numa empresa os resultados positivos, o lucro, são frutos de tomadas de decisões certas; em educação, implantar mudanças é gerar o lucro chamado aprendizagem, pois, sob outro ângulo, segundo pesquisa do INEP( Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, do MEC, "pais acreditam que a direção exerce um papel importante em relação à qualidade da educação". Logo, uma gestão escolar eficiente é aquela em que há preocupação da equipe pedagógica, coordenação, professores e comunidade, nos problemas de aprendizagens, encontrando melhores estratégicas de ensino para o professor; pois o gestor, sozinho, não conseguirá atingir metas para um aprendizado de qualidade, é o que chamamos de gestão participativa.

Todo o esquema argumentado exige uma única postura docente: capacitação do professor como tradutor do conhecimento e modificação de sua maneira de explicar até que os alunos aprendam, até porque, em educação, não deve haver perdedores, segundo justifica Perrenoud, em entrevista à revista Nova Escola, em novembro de 2004, sobre competências e práticas pedagógicas.

Ainda Perrenoud, afirma que do professor se exige que domine o saber, mas que também saiba fazer transposição desse saber, pois traduzir de uma linguagem científica, complexa para uma linguagem escolar é responsabilidade principal dele, logo, não basta saber, senão qualquer um poderia ser professor, é necessário ter competência específica para ser um tradutor do conhecimento, até porque se o aluno não aprende é incapacidade do professor; conforme, também, alega Rosely Sayão, psicóloga e consultora educacional, em entrevista à revista TV Escola, em agosto de 2002 de que, se o aluno vai mau na aprendizagem é culpa do professor, muito mais do que ele imagina, exigindo que mude sua postura, admitindo que sua responsabilidade social é imensa.
" ANÁLISE DA APROPRIAÇÃO DE CONCEITOS
Interpretar o que se processa, de um modo geral, na cabeça de um ser humano é algo muito complexo, quanto mais a maneira do como esse indivíduo se apropria de conceitos científicos, mais precisamente em idade normal escolar, aos 16 anos, ponto de nossa observação, estudada por Jean Piaget, em estruturas de raciocínio, o qual as dividiu em quatro estágios, denominando o 4º estágio, que nos interessa, em operatório formal, em que o indivíduo desenvolve habilidades de raciocínio abstrato, ou seja, inicia o modo de pensar de forma adulta, completando a formulação de sua teoria cognitiva, chamada de Teoria da Epistemologia Genética.

Esculpido nesse vertente, partimos para uma breve pesquisa de campo, com alunos do 2º ano do ensino médio da escola agrotécnica federal de Belo Jardim-PE e ex-alunos do ensino médio, do centro de formação de professores do magistério(CEFAM), de uma das oito escolas da rede estadual de ensino, onde o intuito principal era detectarmos o nível teórico de conhecimentos geométricos nas duas esferas estatais e chegamos a uma desastrosa conclusão da presença constante de apreensão de conceitos e não apropriação, por mais basilares que fossem, como por exemplo, a definição teórica da área de um retângulo.

Sobre esse pressuposto, tivemos a oportunidade de contactarmos com uma aluna do CEFAM, onde, aproveitamento o espaço físico disponível a nossa volta, como um exemplo mais real do cotidiano, levamos em consideração as pedras de calçamento, bem como as que arquitetam o meio-fio das vias públicas e lançamos mão às seguintes perguntas(PE):

- PE:"O que é, para você, um paralelepípedo?"
-RE:"são as pedras de calçamento de rua."
-PE:"Então, todas as pedras de um calçamento de rua é um paralelepípedo?"
-RE:"não."
-PE:"Porquê não são, se dissestes que paralelepípedo são pedras de rua?"
-RE:"Porquê nem toda rua é feita de pedra, pois algumas são de asfalto, outras
de cimento, etc."
PE:"Então você relaciona um paralelepípedo à matéria do que é feito e não à
sua forma geométrica espacial?"
RE:"Sim."
-PE:"Quer dizer que, se pegássemos papelão ou isopor, etc, diferente de
pedra de rua, e construíssemos um sólido geométrico idêntico à pedra de
calçamento, não seria um paralelepípedo?"
-RE:"Sim, não seria. Pois o único conceito que tenho é que a arquitetura da
rua é feita de paralelepípedos e nunca me disseram que poderia ser de outra
coisa material semelhante."
-PE:"Qual a forma, então, de um paralelepípedo?"
-RE:"Quadrado, retângulo, redondo, disforme, grandes, pequenos, desde que
estejam no calçamento de rua."
-PE:"Porquê mencionas todas essas formas para o paralelepípedo. Como se
Apropriou desse conceito?"
-RE:"Do dia-a-dia popular e suas crenças, até porque, nas escola, nunca me
Disseram o significado relacionando com uma realidade prática, nem nunca
aproveitaram o que eu já sabia."
-PE:" Quer dizer quer afirmas que seu meio social refletiu na influência sobre
esses conhecimentos a respeito do paralelepípedo?"
-RE:"Relativamente sim, pois a única culpa desse processo falho foi a escola,
com seus péssimos professores de matemática, que em muitas situações sabia
mais que ele, alguma coisa de geometria plana."


Vimos uma patologia da predominância de hibridismo textual em sala de aula, anexado à deficiência de saberes do docente, aonde há existência de signos primários em detrimento dos secundários, negligenciando a construção do saber discente, até porque o conhecimento é construído na interação, em que a ação do sujeito sobre o objeto é mediada pelo outro através da linguagem, segundo Maria Teresa(em Vigotsky & Bakhtin - Psicologia e Educação: Um Intertexto, pg 161); uma vez que a título físico oral, a linguagem origina da palavra como material privilegiado da comunicação na vida cotidiana, conotativa de signos, conforme contextua no livro de M. Bakhtin:Marxismo e Filosofia da Linguagem, p.31, 6ªed.

Observamos uma distorção do signo matemático "paralelepípedo", como cognoscível pelo aluno só uma pedra, o que nos resulta em afirmarmos a ociosidade do educador no aproveitamento desse conceito para lançar um outro que se desenvolvesse, levando a uma aprendizagem subseqüente, incorrendo no que diz D.P.Ausubel que os organizadores prévios tem a função de servir de ponte entre o que o aluno já sabe e o que ele deve saber a fim de que o material possa ser aprendido de maneira significativa, pois segundo, ainda, o mesmo autor, se o receptor consegue ancorar o conhecimento novo no conhecimento velho, de forma interativa, ocorrerá uma aprendizagem significativa, porque o conjunto dos resultados das experiências de conhecimento de uma pessoa estão organizados em estruturas hierarquizadas, tais que, se as novas informações não encontram ancoradouro nos conhecimentos existentes, ocorrerá uma aprendizagem por recepção, o quer ele chama de aprendizagem mecânica por recepção, é o caso da aluna entrevistada.

Outra vivência da aplicação coerente da ideologia de Ausubel foi o acompanhamento diário de um aluno de nome Eduardo Moraes, 17 anos, com necessidades especiais (cego), atual estudante da Escola Municipal O Castelinho, em Belo Jardim-PE, na 3ª série do EF-I, em fase de realfabetização", ou seja, nova alfabetização pelo método Braille, idealizada pelo compromisso da professora, alheia a este método de ensino, no anseio persistente em adequá-lo à nova realidade, em que achou como única saída retrabalhar a progressão e aproveitamento cognoscível de suas idéias sobre as letras do alfabeto, até porque quando detinha a visão até os 08 anos de idade, estava na 2ª série do EF-I.

A educadora se usando, num primeiro momento, da palavra, comunicação, como meio físico auditivo, a fim de relembrá-lo do alfabeto e, após a sedimentação desse "estágio" e não dispondo de meios didáticos adequados, fê-lo conhecer o processo Braille de escrita, resolvendo correlacionar cada letra do alfabeto português(já incorporada em suas estruturas cognitivas) com a quantidade de "signos", pontos em alto relevo, confeccionados de modo aleatórios em seu caderno, ou seja, ela se utilizava de uma folha de papel aonde escrevia a palavra, por exemplo, "A" e ao lada desta, se utilizando de uma caneta esferográfica, fazia uma pressão suficiente para fazer um ponto, de modo que no verso da folha o aluno deficiente, pudesse usar o tato, pela ponta dos dedos, e identificar o signo em alto relevo, obtendo o sucesso esperado da assimilação.

Portanto, a apropriação de conceitos científicos pelo aluno é marcada, pelo menos, nas efêmeras e esparsas experiências que tivemos, pelo aproveitamento dos conhecimentos prévios trazidos por ele à sala de aula, confirmando o que diz Ausubel dos organizadores prévios, bem como a importância que ele dá à palavra, como meio de traduzir sua dialética, até porque sua origem(a de Ausubel) é judaica e o poder da palavra nessa sociedade é de suma importância em relação ao resto do mundo. Porém, pelo que presenciamos, nada disso teria valia se não fosse o fator determinante do "querer", da descoberta, do professor em detectar a bagagem que o aluno trazia para a sala de aula, que, ainda em Ausubel, é onde a aprendizagem ocorre.

Numa terceira oportunidade e usando indagações acerca de volumes de sólidos geométricos, mais precisamente sobre construção de caixa d`água, em forma cúbica, com um ex-aluno da EAFBJ, atual técnico agrícola, profissional com responsabilidades em confeccionar e assinar plantas arquitetônicas com até 80m², demonstrou suas dificuldades em trabalhar com a geometria métrica em vários ângulos, trazendo à luz da discussão à falta de competência da prática pedagógica, onde somos forçados a trazermos Perrenoud, em seu livro as "10 Novas Competências para Ensinar", de que é imprescindível o educador saber para ensinar bem numa sociedade que está em constantes mudanças e acessível cada vez mais; bem como desenvolver competências, ser capaz de transformar uma linguagem científica numa linguagem escolar e adequá-la a uma realidade vivenciada pelos alunos, caso contrário não poderá ser chamado de professor.

Ainda em P.Perrenoud, quando fala que a descrição de cada competência deve partir da análise de situações específicas, considerando que ele define como competência como sendo a "faculdade de mobilizar um conjunto de recursos mentais a fim de solucionar uma série de situações" e é utilizada quando fixa objetivos na formação profissional, trazendo com isso à discussão do profissionalismo docente e seu compromisso com a causa-educação, até porque acerca da expressão "Novas Competências", proposta por ele, nos leva a indagações de como se tratasse de uma mutação do professor exercer seu ofício e, como as práticas pedagógicas desenvolvem-se progressivamente, havendo um amplo leque de práticas e competências, o que o docente precisa é de uma recomposição de forma mais eficaz e eqüitativa de sua prática.

Por isso emerge à tona ao cenário da educação atual, o que afirma Edgar Morin, filósofo francês, em seus "Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro", em que diz que a educação vive buracos negros e aponta sete deles tais como o erro e a ilusão, referindo-se que o conhecimento é fruto de traduções e como tal sujeita-se a erros e a ilusão, pois nem tudo que vemos no mundo externo é fruto de um espelho próprio, por exemplo da diferença entre percepção e alucinação, que só saberemos distinguir a partir da observação de um fator externo como meio de nos mostrar a distinção, Assim, se num certo dia testemunhássemos a visão de Napoleão Bonaparte e mal soubéssemos que havia morrido há anos, nada iria nos garantir ser uma alucinação ou percepção, pois nosso cérebro não tem qualquer dispositivo biológico que discirna essa diferença, no entanto mostra-se através desse exemplo a necessidade do educador(fator externo) como facilitador, interventor do conhecimento.

O conhecimento pertinente deve contextuar a relação entre o que se estuda na sala de aula, de forma interdisciplinar com o global; o ensinar da condição humana como meio de, antes de conhecer o mundo, conhecer o ser como humano em si mesmo, sob uma ótica social, cultural e de vida, do que trás para a escola de "organismos prévios"; o ensinar da identidade humana, explicando a natureza destruidora e criadora do homem na história da humanidade, como meio de reflexão de nossas ações; enfrentar as incertezas, como forma psicológica de educar o aluno de que a ciência é mutativa, pois o que é certo hoje, amanhã pode não ser mais, propiciando que ele sempre busque o conhecimento.

Ensinar a compreensão, como meio da comunicação humana, ausente na educação, pois antes de estudar a compreensão se faz necessário estudar a incompreensão, pois só assim, é possível saber as causas e sintomas, por exemplo, do racismo, da acrofobia, etc, que um outro apresenta, só, então, a partir daí , compreendendo o incompreendido é que se começa a trilhar um pouco do processo educação, eliminando a discriminação; e a ética do gênero humano, como forma de conscientizar o aprendiz de sua importância na sociedade, na construção da cidadania, o quê, é um dos papeis fundamentais da escola. Entretanto, observamos uma perspectiva política de Morin para o fator educação, nos forçando a lembrar de Paulo Freire, quando menciona que a "a leitura de mundo precede a leitura da palavra".

" ALFABETIZAÇÃO GEOMÉTRICA Diante das inexistências de conhecimentos didáticos de geometria métrica espacial, de um modo geral, na Educação Básica, a alfabetização geométrica foi uma saída ideológica a ser trabalhada com alunos que apresentem dificuldades em se apropriarem de tais conceitos, por isso chegamos a algumas reflexões primárias de procedimentos, semelhantes a de como ensinar uma criança a ler e escrever, só que com uma única diferença, eles já são possuidores de conhecimentos prévios adquiridos em outros campos da matemática, mas não nos geométricos, de forma genérica, assim, pretendemos trabalhar de maneira rasa e, para isso, buscamos respaldo no que expõe Ferreiro, quando descreve que o indivíduo de fase inicial escolar passa por vários estágios na hora de se alfabetizar e constrói o novo conhecimento passo a passo; no nosso caso, teremos que "realfabetizar" o novo "reconhecimento", aproveitando suas estruturas cognitivas, segundo Ausubel.

Nessa perspectiva propusemos a alguns alunos do 2º ano do EM da EAFBJ(Escola Agrotécnica Federal de Belo Jardim) fazer uma correlação identificativa da figura plana quadrado com um sólido geométrico espacial de dimensões idênticas, e em seguida, aproveitando o nosso raciocínio do paralelepípedo, pedimos o mesmo processo com uma outra figura plana existente, o que pudemos sentir a enorme dificuldade de contextuar os objetos em avaliação, cuja resposta seria o cubo, como representação volumétrica do quadrado e a tradução volumétrica do paralelepípedo como sendo as várias faces planas unidas de um retângulo. A partir daí, traduzimos, a ideologia de uma realfabetização, face às dificuldades encontradas.

Por isso, da mesma forma como uma criança, quando pequena, acredita que os desenhos representam palavras, logo quando a pedirmos para escrever "casa", ela esboçar paredes, janela, porta e telhado; porém, depois vai percebendo que existe "outra forma" de representar a primeira situação, por meio de letras, mesmo assim é o nosso aprendiz em estudo, alheio ao conhecimento geométrico espacial, tal que, como prova empírica dessa afirmação, momento que se o pedirmos para traduzir um cubo como sendo um quadrado, no sentido espacial, teremos 90% de probabilidades de que ele represente apenas uma figura plana de quatro lados e, somente isso, pois não foi construído ou forçado a construir seu próprio saber com a mescla de dificuldades e significados a respeito do tema; porquanto, deduzimos que lhe faltara o que L.S.Vigotsky chama de: o meio privilegiado da comunicação - a palavra, a locução e interlocução.

Ainda no que diz Marco A. Moreira, em seu artigo de que fala que nos tempos de mudanças rápidas e drásticas a aprendizagem deve ser não só significativa mas crítica, que denota como subversiva, menciona o princípio da consciência semântica em que as palavras nunca são aquilo que elas dizem, pois podem conotar ou denotar seus referenciais, por isso um episódio de ensino se consome quando aluno e professor compartilham signos sobre materiais educativos do currículo. Por isso, simulando a ideologia de Emília Ferreiro, ousamos estabelecer fases de "alfabetização", só que geométrica, após uma avaliação do nível de conhecimento geométrico espacial do aluno, porém que, ao invés de quatro(04) estágios, aderir-no-emos a apenas três(03), como descreveremos adiante.


Logo, utilizando-nos do, num primeiro momento, processo de identificação de figuras, sem relacioná-las no espaço "cheio", ou seja, volume, denominamos de fase pré-geométrico, aonde o discente só sabe esboçar algumas basilares e primitivas figuras planas, tais como, um quadrado, um círculo, um triângulo, etc.; num segundo momento, chamamos de geométrico, em que o aluno sabe a distinção de todas as figuras planas, mas ainda, não as correlaciona no espaço, apenas detém o conhecimento em si mesmo dos polígonos em questão; e, por último, denominamos o geométrico plano-espacial, aonde sabe identificar as figuras planas e correlacioná-las no espaço, ou seja, momento que desenha um círculo, terá que saber contextualizar a uma esfera (como já foi exemplificado).

Portanto, ignorar esse processo é ignorar os PCN´s que traduzem que não trabalhar a interdisciplinaridade é ignorar uma função social da escola; que reforçando por Ana Tiberosky, pedagoga argentina e contemporânea ideológica de Emília, diz que se não houver a essencialização de contextos o educador não poderá formar cidadãos críticos, pois se o aprendiz não souber o real significado, dentro de um contexto, não irá entender aquilo que está aprendendo. Nesse caminho acreditamos na intervenção do educador, como mediador e facilitador da aprendizagem, pois sua postura interativa e interventiva ajudará na sedimentação do processo aprendizagem, principalmente matemática, tida por muitos discentes como a repugnância das matérias.

Sob uma visão ainda Emiliana enxergamos que a alfabetização é um processo que tem início bem cedo e não termina nunca. Somos igualmente alfabetizados para qualquer situação, pois temos mais facilidades para determinadas coisas e evitamos outras e o processo ao qual galgamos, que é a alfabetização geométrica, além de buscar penumbra nessa educadora, só será possível se o aprendiz se conscientizar de sua importância para o trabalho de aquisição do saber matemático geométrico e, para isso, têm-se que mostrá-lo como peça principal do jogo, coisa que o educador terá que trabalhar desenvolvendo suas competências, sua afetividade, sua interatividade, de modo que procure ficar mais próximo dele, a fim de possibilitar a construção do conhecimento esperado.

Nosso anseio é capacitar o educando a desenvolver estruturas cognitivas geométricas idênticas à de letramento lingüístico, conforme diz E. Ferreiro(NE/MAI-03, pg 30), ou seja, instigá-lo à habilidades para lidar com a geometria espacial, pois no nosso entender a autora diz que a alfabetização vem antes do letramento e é nesse patamar que enveredar-no-emos. Ela até menciona um exemplo de alfabetização em famílias de classe média quando os pais à medida que contam estórias para suas crianças já estão alfabetizando e desencadeando o acesso à cultura escrita; assim, de modo análogo, também, pretendemos desenvolver, aproveitando o ambiente físico ao nosso redor, e ensinar geometria espacial, como diz D`Ámbrósio que "ela está em todo lugar, estamos cercados por ela".

" BREVES CONCLUSÕES
O atual sistema educacional, para produzir seu principal produto, deve, urgentemente, aderir a uma pedagogia que envolva o aluno no processo do conhecimento, pois antes de iniciá-lo no saber dos cálculos, é prioritário desenvolver uso da linguagem, no sentido de locução e interlocução, ou seja, primeiro aprender a apreender a usar a expressão vernácula, pois a existência metodológica que ainda presenciamos em muitas escolas, sejam elas Estatais ou Particulares, é a aprendizagem de forma tradicional e mecânica.

O professor deverá buscar sua formação continuada, para que sempre retenha o gosto pelo saber noutras tecnologias de transmissão do conhecimento, de modo que dialogue, adote uma postura semântica e de pertinência didática para que o processo de aprendizagem possa se consumir. O aluno deverá ter sua parcela de responsabilidade no processo, fazê-lo sujeito e não asujeitado, fazê-lo autor de seu próprio conhecimento, aonde o docente será um mero propulsor, mediador e avaliador de suas construções(do discente), sempre interagindo com o meio em que a escola deva estar inserida, aproveitando todos os organismos prévios existentes em cada educando.

Acreditar que o planejamento pedagógico possa influir num caminho de soluções encontradas no dia a dia da escola, fazendo a comunidade expressar seus pontos de convicções como fator de contribuição para ajudar a sanar as dificuldades, que decorrente dessas atitudes, poder chegar a uma resposta comum e benéfica a todos, de modo que haja sempre flexibilidade na gestão escolar. Estimular, com a tomada participativa de decisões, o facilitador principal do processo, o professor, a fim de que agarre a causa de educar como desafio de seu ofício, pois só assim, por meio de um projeto pedagógico, não político, mas comunitário-escolar, que teremos uma educação flexível frente às constantes e atuais mudanças na sociedade.

Portanto, como reflexão de todo uma pedagogia que frutifique indivíduos críticos, ativos, responsáveis e valorizados, pelo que trazem à escola, cremos nas teorias filosóficas de David Paul Ausubel, como precursor dessa ideologia em que ansiamos inovar com uma realfabetização geométrica, tentando reparar conseqüências de uma falha escolar e matemática histórica.




" REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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NOGUEIRA, Nilcéa.Qual o Segredo do Sucesso de um Gestor?Revista Nova Escola,São Paulo, SP, n.188, p.26-28, dez. 2005

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PELLEGRINI, Denise.Alfabetização e Cultura Escrita.Revista Nova Escola,São Paulo, SP, n.162, p.27-30, mai. 2003

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Autor deste artigo: José Fernando da Silva Filho - participante desde Ter, 31 de Outubro de 2006.

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