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Escrito por Caroline Barroncas de Oliveira   
Qui, 16 de Novembro de 2006 21:00

O ser humano é um ser histórico, cultural, biológico, psíquico e social. Assim, formando um único ser com todos esses elementos, pode-se compreender a complexidade da identidade humana. A visão unilateral é sempre errônea, pois vê apenas um desses elementos, mas por questão de conceituação, fragmenta-se o mesmo, apesar de que estes elementos não serem estanques.

A raça humana constrói seu processo histórico através da sua cultura que, por sua vez, é vista segundo Bee (1996) como um todo, sendo constituída como um sistema de valores, suposições e crenças, um sistema político e econômico, um padrão de relacionamentos pessoais, e assim por diante. Laraia (2002) nos diz que a cultura pode ser entendida de duas formas:

1) Determinismo Biológico - é quando os indivíduos não adquiriram a cultura do seu meio, mas sim àquela que é de sua origem.
2) Determinismo Geográfico - é quando o homem vai se adaptando ao meio em que vive produzindo seus costumes e crenças.

Marconi (2001) em seus estudos antropológicos nos mostra três tipos de localização da cultura, sendo:

1) Intro-orgânica - dentro do organismo humano (crença e moção);
2) Inter-orgânica - interação social;
3) Extra-orgânica - objetos materiais.

Sendo a essência da cultura as idéias, abstrações e comportamentos.

Ele também difere qualidade de cultura em quatro tipos:

1) Social - transmitidas pelas gerações;
2) Seletiva - seleciona o que é bom para o indivíduo de forma consciente;
3) Explícita - manifesta hábitos de comportamentos;
4) Implícitos - fica no íntimo da pessoa.

Chauí (2001) nos esclarece que a filosofia no século XIX descobre a cultura como o modo próprio e específico de existência dos seres humanos. Já no século XX afirma-se que não há cultura melhor ou pior, mas culturas diferentes. Na esteira dessa visão de diferenças culturais, pode-se afirmar que não existe um indivíduo desprovido de cultura, pois ela engloba os modos comuns aprendidos na vida e que são transmitidos por grupos em sociedades.

Taylor (apud LARAIA 2002), também definiu cultura como sendo todo comportamento aprendido, tudo aquilo que independe de uma transmissão genética como diríamos hoje. Ou seja, a cultura é o contato dinâmico que o indivíduo mantém com a sua realidade. Como explicita Stuart Hall (2004), "a identidade cultural historicamente é formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados e interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam". Por esse motivo dizemos que possuímos uma personalidade cultural, pois somos socializados pelo mecanismo de endoculturação, isto é, esse processo pelo qual todos passam, "interiorizando" um estilo cultural de viver.

Assim, adquirimos a nossa identidade cultural ao mesmo tempo em que construímos a nossa identidade psicológica que consiste na representação individual de traços que se distinguem dos demais, em relação ao meio social ou intelectual. A identidade pode ser compreendida das seguintes formas: Erickson (apud CAVALLEIRO 2000) nos diz que, identidade refere-se a um contínuo sentimento de individualidade que se estabelece valendo-se de dados biológicos e sociais. Berger e Luckmann ( apud CAVALLEIRO 2000), complementam: "A identidade é formada por processos sociais. Uma vez que cristalizada é mantida, modificada ou mesmo remodelada pelas relações sociais". Tendo, com isso uma grande influência da cultura na constituição da identidade.

No Brasil existe uma vasta diversidade cultural, reinando o grande "mito da democracia racial" que dissimula o racismo, como diz Gonçalves e Silva (2001), a diversidade cultural é exaltada e ao mesmo tempo os negros, índios e mestiços vivem na maior discriminação, ou seja, o objeto é exaltado e excluído a um só tempo. Isto porque dentro das culturas, desde criança, apreendem sua identidade fazendo discriminações e distinguindo eles próprios dos outros, sendo a sociedade responsável pelo modo como àquela identidade deve ser valorizada.

Diante disso, cada indivíduo socializado nesta respectiva cultural poderá absolver representações preconceituosas por respectivos grupos, acreditando ser o mais correto, Pettigrew (apud CAVALLEIRO 2000), nos esclarece que deste modo, o preconceito envolve aspectos emocionais e cognitivos. É um modo efetivo e categórico de funcionamento mental que inclui pré-julgamento rígido e julgamento errado dos grupos humanos.

Na linha desta visão de diversidade cultural, Lévi-Strauss (apud Almeida 2003) afirma que: "a diversidade das culturas humanas é de fato no presente, de fato também de direito no passado, muito maior e mais rica do que tudo aquilo que delas pudermos chegar a conhecer".

Os indígenas urbanos e sua realidade
Por Caroline de Oliveira

Em relação às teorias abordadas acima estas podem ser trabalhadas no contexto indígena, uma vez que o indígena é um ser humano com suas complexidades como qualquer outro indivíduo, tendo seu desenvolvimento biológico, psicológico, histórico e social. Possuem sua identidade cultural e que esta por sua vez influencia na interação social e esta é fruto do contexto cultural em que a criança está inserida e onde absorve o seu agir, seu pensar e seu modo de viver.

A interação indígena é muito mais intensa pelo fato da convivência em comunidades proporcionar certa uniformidade, ou seja, o saber indígena é transmitido de geração a geração, indiscriminadamente, todos aprendem a caçar, seus mitos, suas crenças e costumes são repassados cotidianamente, o processo de aprendizagem é natural, pode-se aplicar aqui, literalmente, a famosa máxima "vivendo e aprendendo".

O censo de 2000 informa que o Estado do Amazonas possui aproximadamente 18 mil indígenas morando nos centros urbanos, mas não apresentam dados no município sobre a presença indígena nas cidades (dados apresentados no Jornal Brasil de Fato). A Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), através de uma pesquisa realizada no ano de 2000, estimou em 1090 famílias indígenas e a COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia), estima que existam entre 15.000 a 20.000 indígenas residindo em Manaus. A maioria pertence aos grupos étnicos Tikuna e Sateré-Mawé. Sabe-se que comunidades urbanas continuam mantendo vínculo com as suas comunidades de origem para fortalecer seus costumes e lutarem juntos por sua cultura, fortalecendo a identidade.

O contexto da criança indígena da comunidade urbana tem influência multicultural, à que ela está vivenciando que é a cultura indígena e a cultura de contato, que se dá através das escolas estaduais ou municipais que freqüentam, mais os costumes pertinentes da cultura ocidental. É tão forte a influência da cultura ocidental na vida de um indígena que no Jornal Brasil de Fato, Celina da Silva Baré, presidente da Organização de Desenvolvimento e Sustentabilidade Econômica para os Povos Indígenas (Odespi), conta que o contato com a cidade, feito principalmente pelos jovens em busca de estudos e que na maioria das vezes não conseguem sobreviver por não possuírem melhores condições, faz com que quando retornam as suas comunidades de origem tragam outros costumes.

Dentro da perspectiva do ensino-aprendizagem temos que focar o olhar na diversidade cultural e suas formas de educação. Interligando as culturas e respeitando-as, sendo que em relação à educação indígena temos que promover uma educação diferenciada pelo seu aspecto do meio ambiente que consiste na sua forma de viver e sobreviver.

Os indígenas lutam por um direito à educação destinada a todos, mas a querem de forma diferenciada. Gonçalves e Silva (2001) comentam no sentido multiculturalista, sobre o caso da cultura indígena, em que eles não pressupõem universalizar a educação escolar indígena de acordo com o sistema de ensino oficial, nem tampouco incorporar as crianças e os jovens indígenas nas escolas regulares. A opção apresentada seria criar escolas específicas, bilíngüe e com práticas diferenciadas, para atender o preceito constitucional de "educação para todos". Essa determinação constitucional é garantida aos povos indígenas pela Resolução do Conselho Nacional de Educação - Câmara de Educação Básica - CNE/CEB n° 003, novembro de 1999. Isto é o que fixa as Diretrizes Nacionais para o funcionamento das escolas indígenas no Brasil, mas encontra-se somente legalizada faltando a sua realização na prática.

Enquanto isso não acontece, as crianças indígenas que moram na zona urbana freqüentam as escolas regulares da cidade de Manaus. Sendo que os professores, destas escolas, não estão preparados para lidar com tal diversidade, e neste contexto impera o preconceito cultural na sala de aula. Na maioria das vezes as próprias crianças indígenas discriminam sua cultura, ou seja, têm vergonha de sua identidade cultural. E isto, faz com que o fortalecimento étnico se desestruture perante sua comunidade.

A educação escolar está longe dos idiomas nativos, dos costumes, rituais e conhecimentos tradicionais. A cultura própria não tem uma valorização adequada, ela é vista como sinônimo de atraso. Vale ressaltar, que a escolarização obriga a criança de cinco anos ou até de menos idade comece a freqüentar a escola formal, separando-a do meio familiar e com isso, tira-se a oportunidade de muitas crianças aprenderem a sua língua materna. Como já foi enfatizado, vivemos um período de desvalorização cultural da própria criança indígena.

Desta forma, reconhece-se o grande valor da existência da escola diferenciada indígena, afinal isto garante o fortalecimento da sua identidade étnica, além de enriquecer o nosso patrimônio cultural. Como nos diz González (1999) a proposta desta diferenciação escolar está na "busca de gerar uma reflexão sobre a importância de um cotidiano para uma aprendizagem de uma cultura". Com isso, temos que respeitar as diferenças culturais e o etno-desenvolvimento, pois como preceitua Celina Baré, "onde existe índio, existe vida, existe biodiversidade".

Assim, González (1999), nos faz compreender que a busca da recuperação da tradição indígena deve-se como "uma estratégia que facilita a comunidade indígena a concretizar o apoio do Estado para encontrar caminhos que lhe permitam agir frente às novas necessidades e situações, sem ter que renunciar a sua identidade étnica e cultural".

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Luís Sérgio C. de. O construtivismo e o pós-construtivismo: possíveis perspectivas para a educação no contexto multicultural amazônico in As idéias de Howard Gardener e humberto Maturana no Pós-construtivismo: uma possível e futura educação no contexto multicultural da Amazônia. Dissertação de mestrado - UFAM/FACED,2003.

BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. 7.ed. Porto Alegre: Ates Médicas, 1996.

CAVALLEIRO, Eliane dos Santos. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil. São Paulo: Contexto, 2000.

CHAUÍ, Marilena de Souza. Convite à filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2001.

GONÇALVES, Luis Alberto Oliveira; SILVA, Petronilha B. Gonçalves. O jogo das diferenças: O multiculturalismo e seus contextos. 3.ed. Belo Horizonte:Autêntica,2001.

GONZÁLEZ, Hugo Armando Camacho. Escuela, tradicion oral y educación propia entre los tikuna del trapecio amazônico colombiano.Manaus: Museu Amazônico, N° 5, jan./ dez, 1999. P. 69 a 103.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós modernidade. 9. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 15. ed. Rio de Janeiro:Jorge Zahar Editor,2002.
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia: uma introdução. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2001.

 

Autor deste artigo: Caroline Barroncas de Oliveira - participante desde Sex, 04 de Agosto de 2006.

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