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Mudanças de atitude e qualificação da educação PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Maria Celina Melchior   
Qua, 08 de Novembro de 2006 21:00

Socialmente, a instituição escolar desempenha a função de contribuir para o desenvolvimento, à medida que auxilia os indivíduos a saírem das situações de ignorância, do sentimento de incapacidade e de baixa qualidade de vida. A aprendizagem pode ocorrer de forma mecânica, mas é necessário o ensino organizado e sistematizado das diferentes áreas do conhecimento, de forma abrangente e global, para que o aprendiz veja sentido no aprendido e tenha as ferramentas básicas para o convívio na sociedade, para o exercício mais eficiente de sua cidadania e para que tenha mais condições de construir novos conhecimentos.

Por outro lado, não basta que o professor ensine para que o aluno aprenda, conseqüentemente, o que os alunos aprendem não coincide sempre com o que os professores ensinam. O aprendiz aprende somente o que é capaz de assimilar em um determinado momento, de acordo com o que ele já sabe, com suas experiências, expectativas, motivos e desejos. Há que se enfatizar que a aprendizagem é extremamente seletiva sobre as diversas informações do meio, conectadas entre si de forma pessoal. Assim, ela é única, específica para cada um dos aprendizes. Além disso, a eficácia da ação não depende somente do aprendiz, mas de uma variedade de componentes de diferentes naturezas. Quando o objetivo é a qualificação dos processos e uma maior produtividade, não adianta analisar só um lado, pois são importantes outros aspectos, tanto relacionados aos professores como ao próprio ambiente institucional (Melchior, 2004). A ação educativa acontece em um emaranhado de diferentes tipos de relações, tanto na sala de aula quanto fora da sala, como na família e na comunidade.

São as relações entre os membros da instituição que caracterizam o "clima" institucional no qual se desenvolve a ação educativa. Por outro lado, cada componente da comunidade escolar vive, quando fora da instituição, outras relações. Cada um, seletivamente, percebe, interpreta e atribui significado a seu mundo e atua de acordo com o que se tornou sua subjetividade, a partir de suas vivências e experiências. Considerando-se que as atitudes dos indivíduos dependem de todos esses fatores, é possível compreender quão difícil é analisar os aspectos atitudinais. Como conhecer as variáveis que influenciaram para que uma pessoa agisse de determinada forma?

Tavares (in: Alarcão, 2001) considera que os laços ou redes de laços que ligam e interligam as ações das pessoas entre si, ou relações interpessoais e a sua gestão, estão, cada vez mais, assumindo uma importância crucial, pois, é por elas que passa, em grande medida, a nova dinâmica que se pretende imprimir às variadas organizações, bem como às estratégias e às lideranças que se implementam, em função dos diferentes objetivos a serem atingidos.

Para Hargreaves, Earl e Ryan (2001) trabalhar junto não é apenas um modo de construir relações e decisões coletivas, mas desenvolver o aprendizado que é, provavelmente, o recurso mais importante para a renovação organizacional. Ele ajuda as pessoas a verem problemas como questões a serem resolvidas, não como oportunidade para destacar a culpa. O aprendizado profissional que contém sentido é mais sutil e sofisticado do que isso, pois envolve as pessoas e no ato de pensar sobre renovar e melhorar o modo como ensinam, em uma base contínua.

A questão da qualificação em educação, necessariamente, passa pelo aprimoramento das relações entre as pessoas que compõem a instituição, inclusive essa poderia ser a primeira meta a ser seguida. Segundo o autor citado, um sistema burocrático, autoritário e centralizador é muito mais lento que um sistema democrático, descentralizado e flexível. Também é menos competitivo e mais eficaz tornar as organizações mais reflexivas, flexíveis, rápidas, seguras, rigorosas, adequadas e, portanto, de melhor qualidade. O autor denomina uma organização que apresenta estas características como organização inteligente, na qual todas as pessoas são livres, responsáveis e estabelecem uma relação de confiança, de empatia, de solidariedade e de compreensão para com as diferenças, têm atitude de ajuda mútua, em qualquer nível do sistema ou da realidade, como algo que lhes é próprio, em que o sucesso é partilhado por todos.

Se houvesse esse tipo de relações entre os educadores, com certeza, os alunos teriam mais oportunidades de melhorar suas relações pessoais e sociais. Isso daria maior equilíbrio no seu modo de lidar com os outros, tanto na família como na escola e, no futuro, na carreira profissional ou na constituição de sua própria família. Pois, auxilia no desenvolvimento da capacidade de conviver de forma autêntica e equilibrada consigo próprio e com os outros.

Outro aspecto a considerar, quando se fala em qualificação é a necessidade de avaliação dos processos com o envolvimento de todos os seus atores. Para que a avaliação alcance os objetivos esperados é necessário que o grupo esteja de acordo com eles, participe e tenha tranqüilidade em relação à transparência do processo em si; quanto à ética, à compreensão e à solidariedade, assim como quanto ao uso dos resultados.

A participação dos atores do processo avaliativo não está restrita à auto-avaliação, realizada individualmente; é também, de modo social e público, que deve ser constituído o objetivo da avaliação. Decidido esse, os envolvidos estabelecem os critérios e indicadores a serem utilizados na avaliação, bem como normas, metodologia e os modos de executar o processo avaliativo, sem deixar de considerar a necessidade da variedade de formas e da multiplicidade de informações que devem ser obtidas para que avaliação seja mais ampla e justa.

Nas razões de se fazer uma avaliação, são relembradas e confirmadas as suas intenções. Os pressupostos e princípios a serem seguidos são enfatizados, antes do início do processo, assim como, no decorrer de sua implementação, para não correrem o risco de cair em armadilhas de uma cultura avaliativa já ultrapassada. A confiança dos envolvidos na capacidade de julgamento do avaliador, na sua postura ética e na atitude de respeito para com os outros é fator essencial ao sucesso da tarefa (Melchior,2003). Portanto, a avaliação institucional é uma ação no grupo e com a participação do grupo. Dessa forma, é importante que haja sensibilização sobre a importância da avaliação com o objetivo de qualificar as ações, pois a concepção de avaliação que os avaliadores e, também, os avaliados têm faz a diferença.

A ação avaliativa tem estreita relação com a interpretação que o avaliador faz das respostas dadas, especialmente significativas no caso da avaliação de seres humanos. A qualificação se relaciona ao processo de emancipação humana que supõe novos conteúdos e novas práticas sociais. Bonniol (2001) enfatiza que, na busca de caminhos que conduzam à qualificação, não se pode, apenas, denunciar as causas do fracasso, mas anunciar ou explicitar os aspectos potencialmente construtores e os resultados desejados. Dessa forma, é indispensável que a auto-avaliação faça parte da avaliação, fazendo com que esta só se complete quando confrontada com aquela. Nenhuma outra pessoa pode saber tanto de alguém quanto ela mesma.

A qualificação da ação educativa não é apenas um processo técnico de eficiência administrativa, ou um processo cultural de compreensão e envolvimento; é também um processo político e paradoxal. Hargreaves, Earl e Ryan (2001), consideram que as pessoas temem a mudança porque ela lhes apresenta algo novo, incerto e pouco claro. Em uma sociedade socialmente dividida e culturalmente diversificada, o que a educação é e como está definida sempre tenderá a favorecer alguns grupos e interesses sobre os outros. Portanto, "as tentativas de mudar a educação em modos fundamentais são, em última análise, atos políticos". (p. 206). Os autores consideram que os educadores podem assumir responsabilidade pela mudança, ao invés de serem seus canais ou suas vítimas. Eles podem desenvolver o aprendizado coletivo, a força moral e a linguagem comum para expor e resistir aos aspectos mais irracionais e intratáveis dos paradoxos. Eles podem soltar a criatividade e o virtuosismo necessários para trabalhar com a complexidade e a mudança rápida.

Em síntese, os educadores podem renovar seus propósitos como profissionais da educação; tornar-se agentes, ao invés de ferramentas de políticas; trabalhar em maior colaboração com o grupo; planejar e experimentar estruturas melhores para apoiar o que fazem; ser tão interessados no próprio aprendizado e com ele comprometidos quanto o são com o desenvolvimento institucional; buscar uma política positiva com outros para aqueles que são a parte mais importante da instituição - as crianças e os jovens para os quais eles ensinam. Ou, podem arquitetar mudanças na estrutura, para forçar as pessoas a trabalharem de outro modo e, juntos, procurarem encontrar formas para melhorar. Não basta desenvolver relações humanas, é preciso desenvolver programas de qualificação após realizar uma avaliação séria, isenta e rigorosa para identificar onde estão às distorções que necessitam de reformulação.

Referências Bibliográficas:
ALARCÃO, Isabel. Escola reflexiva e nova racionalidade. (org) Isabel Alarcão - Porto Alegre: ARTMED, 2001.
BONNIOL, Jean Jacques. Modelos de avaliação: textos fundamentais. Porto Alegre: ARTMED, 2001.
HARGREAVES, A. EARL, L. RYAN, J. Educação para mudanças: recriando a escola para adolescentes. Porto Alegre: ARTMED, 2001.
MELCHIOR, M.C. Da avaliação dos saberes a construção de competências. Porto Allegre: Premier, 2003.
_____________. Avaliação institucional da escola básica. Porto Alegre: Premier, 2004.



 

Autor deste artigo: Maria Celina Melchior - participante desde Qua, 22 de Junho de 2005.

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