Login

Sugestões

Faça o login e visualize as sugestões

Usuários on line

Nós temos 2724 webespectadores online

Revista

Gestão Universitária

Edições Anteriores 119 Os indígenas urbanos e sua realidade
Os indígenas urbanos e sua realidade PDF Imprimir E-mail
Avaliação do Usuário: / 7
PiorMelhor 
Escrito por Caroline Barroncas de Oliveira   
Qua, 01 de Novembro de 2006 21:00

Em relação às teorias abordadas acima estas podem ser trabalhadas no contexto indígena, uma vez que o indígena é um ser humano com suas complexidades como qualquer outro indivíduo, tendo seu desenvolvimento biológico, psicológico, histórico e social. Possuem sua identidade cultural e que esta por sua vez influencia na interação social e esta é fruto do contexto cultural em que a criança está inserida e onde absorve o seu agir, seu pensar e seu modo de viver.

A interação indígena é muito mais intensa pelo fato da convivência em comunidades proporcionar certa uniformidade, ou seja, o saber indígena é transmitido de geração a geração, indiscriminadamente, todos aprendem a caçar, seus mitos, suas crenças e costumes são repassados cotidianamente, o processo de aprendizagem é natural, pode-se aplicar aqui, literalmente, a famosa máxima "vivendo e aprendendo".

O censo de 2000 informa que o Estado do Amazonas possui aproximadamente 18 mil indígenas morando nos centros urbanos, mas não apresentam dados no município sobre a presença indígena nas cidades (dados apresentados no Jornal Brasil de Fato). A Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), através de uma pesquisa realizada no ano de 2000, estimou em 1090 famílias indígenas e a COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia), estima que existam entre 15.000 a 20.000 indígenas residindo em Manaus. A maioria pertence aos grupos étnicos Tikuna e Sateré-Mawé. Sabe-se que comunidades urbanas continuam mantendo vínculo com as suas comunidades de origem para fortalecer seus costumes e lutarem juntos por sua cultura, fortalecendo a identidade.

O contexto da criança indígena da comunidade urbana tem influência multicultural, à que ela está vivenciando que é a cultura indígena e a cultura de contato, que se dá através das escolas estaduais ou municipais que freqüentam, mais os costumes pertinentes da cultura ocidental. É tão forte a influência da cultura ocidental na vida de um indígena que no Jornal Brasil de Fato, Celina da Silva Baré, presidente da Organização de Desenvolvimento e Sustentabilidade Econômica para os Povos Indígenas (Odespi), conta que o contato com a cidade, feito principalmente pelos jovens em busca de estudos e que na maioria das vezes não conseguem sobreviver por não possuírem melhores condições, faz com que quando retornam as suas comunidades de origem tragam outros costumes.

Dentro da perspectiva do ensino-aprendizagem temos que focar o olhar na diversidade cultural e suas formas de educação. Interligando as culturas e respeitando-as, sendo que em relação à educação indígena temos que promover uma educação diferenciada pelo seu aspecto do meio ambiente que consiste na sua forma de viver e sobreviver.

Os indígenas lutam por um direito à educação destinada a todos, mas a querem de forma diferenciada. Gonçalves e Silva (2001) comentam no sentido multiculturalista, sobre o caso da cultura indígena, em que eles não pressupõem universalizar a educação escolar indígena de acordo com o sistema de ensino oficial, nem tampouco incorporar as crianças e os jovens indígenas nas escolas regulares. A opção apresentada seria criar escolas específicas, bilíngüe e com práticas diferenciadas, para atender o preceito constitucional de "educação para todos". Essa determinação constitucional é garantida aos povos indígenas pela Resolução do Conselho Nacional de Educação - Câmara de Educação Básica - CNE/CEB n° 003, novembro de 1999. Isto é o que fixa as Diretrizes Nacionais para o funcionamento das escolas indígenas no Brasil, mas encontra-se somente legalizada faltando a sua realização na prática.

Enquanto isso não acontece, as crianças indígenas que moram na zona urbana freqüentam as escolas regulares da cidade de Manaus. Sendo que os professores, destas escolas, não estão preparados para lidar com tal diversidade, e neste contexto impera o preconceito cultural na sala de aula. Na maioria das vezes as próprias crianças indígenas discriminam sua cultura, ou seja, têm vergonha de sua identidade cultural. E isto, faz com que o fortalecimento étnico se desestruture perante sua comunidade.

A educação escolar está longe dos idiomas nativos, dos costumes, rituais e conhecimentos tradicionais. A cultura própria não tem uma valorização adequada, ela é vista como sinônimo de atraso. Vale ressaltar, que a escolarização obriga a criança de cinco anos ou até de menos idade comece a freqüentar a escola formal, separando-a do meio familiar e com isso, tira-se a oportunidade de muitas crianças aprenderem a sua língua materna. Como já foi enfatizado, vivemos um período de desvalorização cultural da própria criança indígena.

Desta forma, reconhece-se o grande valor da existência da escola diferenciada indígena, afinal isto garante o fortalecimento da sua identidade étnica, além de enriquecer o nosso patrimônio cultural. Como nos diz González (1999) a proposta desta diferenciação escolar está na "busca de gerar uma reflexão sobre a importância de um cotidiano para uma aprendizagem de uma cultura". Com isso, temos que respeitar as diferenças culturais e o etno-desenvolvimento, pois como preceitua Celina Baré, "onde existe índio, existe vida, existe biodiversidade".

Assim, González (1999), nos faz compreender que a busca da recuperação da tradição indígena deve-se como "uma estratégia que facilita a comunidade indígena a concretizar o apoio do Estado para encontrar caminhos que lhe permitam agir frente às novas necessidades e situações, sem ter que renunciar a sua identidade étnica e cultural".


REFERÊNCIAS
GONÇALVES, Luis Alberto Oliveira; SILVA, Petronilha B. Gonçalves. O jogo das diferenças: O multiculturalismo e seus contextos. 3.ed. Belo Horizonte:Autêntica,2001.

GONZÁLEZ, Hugo Armando Camacho. Escuela, tradicion oral y educación propia entre los tikuna del trapecio amazônico colombiano.Manaus: Museu Amazônico, N° 5, jan./ dez, 1999. P. 69 a 103.


 

Autor deste artigo: Caroline Barroncas de Oliveira - participante desde Sex, 04 de Agosto de 2006.

Veja outros artigos deste autor:

Please register or login to add your comments to this article.

Copyright © 2013 REDEMEBOX - Todos os direitos reservados

eXTReMe Tracker