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Edições Anteriores 116 A ausência de avaliação
A ausência de avaliação PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Magno de Aguiar Maranhao   
Qua, 11 de Outubro de 2006 21:00

Diante da queda no desempenho escolar revelado em exames nacionais, como Enem e Saeb, e no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), e diante da constatação de que, prestes a concluírem o ensino fundamental, nossos alunos mal sabem manipular letras e números, a polêmica foi reacesa: até que ponto as escolas vêm falhando ao avaliá-los? Como mensurar o que foi aprendido, sem recair no condenado método das provas finais e ameaças de reprovação, mas sem cair, tampouco, na armadilha da promoção automática, que foi o que se transformou, em muitas escolas, a inovadora concepção da progressão continuada, em que a reprovação só ocorre ao final de ciclos de dois a quatro anos?

Essa discussão só renderá frutos se evitarmos radicalismos, como o de educadores para quem a palavra "avaliação" tem conotação negativa, como se se tratasse unicamente de um meio de punir e uniformizar os indivíduos, impedindo que a escola se ocupe de sua formação integral ou explore seus talentos, já que está mais empenhada em medir o quanto os alunos memorizaram dos currículos. Restrições quanto a currículos e imposições sobre o modo de trabalhá-los são compreensíveis. O que não significa que não se deva aferir o que os estudantes aprenderam, não importando se a culpa dos fracassos é do Estado, do País, do FMI e por aí afora. O fato é que há conhecimentos que eles têm que absorver e habilidades que devem desenvolver para uma vida autônoma e produtiva, e há, sim, uma margem de tempo para que as desenvolvam: é natural, por exemplo, que um bebê, até certa idade, ande e balbucie palavras. Caso isso não ocorra, há algo errado nele ou em seu meio-ambiente e, ainda que as causas sejam externas, nem por isso deixamos que continue calado e sem mover as pernas. Nós o adaptamos ao ambiente.

Da mesmíssima forma, espera-se que, em certo ponto do ensino fundamental, as crianças compreendam um texto, se expressem com coerência em uma redação ou identifiquem operações matemáticas em uma equação. Se não o fazem, quanto mais cedo detectarmos o porquê, melhor. E isso só é possível testando-as, continuamente, através de argüições, provas ou outras atividades. Se obrigarmos aquela que não aprende a ir ao encontro de conteúdos mais complexos, ela se sentirá inferior aos colegas e perderá o interesse pela escola, exatamente como ocorre quando é reprovada em uma série.

Deixar que crianças aprendam o que e quando quiserem, segundo um subjetivo ritmo individual, e esperar que, de repente, as fichas caiam e elas se revelem alunos exemplares, é apostar em uma probabilidade. Este não é o princípio do sistema de ciclos: se não há intimidação com reprovações e respeita-se o compasso do indivíduo, admite-se que há um prazo para aprender: avaliações são freqüentes, para evitar acúmulo de problemas; os "fracos" têm aulas de reforço e assistência de psicopedagogos, que buscam e tratam distúrbios de aprendizado; não há salas lotadas e o professor dispensa atenção individualizada; os turnos são mais extensos. Nossas escolas estavam preparadas para os ciclos?

Não defendemos reprovações, embora muitos pais, sim. Geralmente, são pessoas pobres, que confiaram na escola para tornarem seus filhos aptos a progredirem na vida social e profissional - e se angustiam quando percebem que estão pulando de uma série para outra sem que, ao menos, saibam ler.

Reprovar, porém, não seria a solução, pois a raiz deste drama está em um ensino público que massificou o atendimento, sem reorganizar-se para assistir uma clientela vinda de camadas sociais com baixa escolaridade e totalmente dependente da escola para ter acesso ao conhecimento, a bens culturais, a atividades de lazer e, até, à alimentação. E ela encontrou menos do que precisava: foi comprimida em salas lotadas, onde professores correm para ensinar conteúdos obrigatórios em um período médio de quatro horas. Quem aprendeu, ótimo; quem não aprendeu, paciência, irá adiante do mesmo jeito, e do jeito que está. No entanto, a ausência de avaliações, ou avaliações sem conseqüências, deixa as crianças perdidas. É preciso testar os alunos, não para elaborar rankings humilhantes, mas tendo em mente uma avaliação abrangente, em que mensurar o aprendizado não é o único item, mas é um item importante, para que a criança tenha referências sobre si mesma.

Deve-se levar em conta, por exemplo, o contexto da escola: os professores queixam-se que não conseguem ensinar mais que 70 ou 80 por cento dos currículos. Não espantam os resultados ruins em exames nacionais. Só se pode mensurar o que foi ensinado, como e quem ensinou. Por isso, cada escola deve também auto-avaliar-se, fazendo uma crítica dos seus métodos pedagógicos, do trabalho docente, e estabelecendo um diálogo com estudantes a fim de descobrir o que os estimula e os afasta. E o espaço físico, como está? Existem biblioteca, computadores e laboratórios? São aproveitados? E quanto às famílias? Tomam parte da vida escolar e estão cientes de seu papel crucial no rendimento dos filhos?

Avaliemos os alunos dentro deste contexto, mesmo sabendo que, sob certas circunstâncias, renderão pouco. É preciso trabalhar com as carências, enquanto aguardamos providências oficiais: como o aumento do piso do Fundef (R$ 446/aluno da primeira à quarta série e R$ 468,30 da quinta à oitava), que se tornará Fundeb, contemplando da educação infantil à educação de jovens e adultos, e poderá vir a ser calculado segundo a média nacional de gastos, o que aumentará seu valor para mais de R$ 700/aluno, possibilitando elevação do salário dos docentes e escolas mais bem equipadas; ou como a implantação do turno integral em todo o ensino fundamental até 2010, como quer o MEC.

Contudo, nossa intenção, aqui, não é avaliar políticas públicas, mas frisar que a avaliação é uma estratégia para ajudarmos os alunos a lidarem com seus pontos fracos e incentivá-los a colaborar com o professor - através de críticas e sugestões. Isso cria na criança a sensação de ser respeitada e leva-a a um autocomprometimento com seu desempenho. Não podemos, nunca, tratá-la como vítima de um ensino público falido. Nada seria mais equivocado. Que ela aproveite, ao máximo, o que a escola pode oferecer, e seja reconhecida por isso. Crianças orgulham-se ao mostrar que aprenderam algo mais, provando sua capacidade de evoluir e crescer. É um erro negar-lhes esta chance.


 
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