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Ensaios sobre a hermenêutica na educação PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Wagner da Silva Souza   
Qua, 11 de Outubro de 2006 21:00

Breve Apresentação de Termos e Conceitos
Far-se-á necessário um pequeno esclarecimento quanto aos pressupostos empregados para a utilização da palavra hermenêutica neste ensaio, para tanto, apresento uma breve análise epistemológica sobre o conceito utilizado em diversas correntes:

"... Mais recentemente, Wilhelm Dilthey e Marx Weber defenderam a necessidade da diferenciação entre os métodos das ciências naturais e das ciências sociais, reservando a estas últimas a compreensão (ver verstehen) dos fenômenos através da hermenêutica. Posteriormente, os filósofos Martin Heidegger (1889 - 1976) e Hans-Georg Gadamer (1900-2002) desenvolveram a idéia da impossibilidade de acesso direto do pesquisador (observador) ao objeto pesquisado: toda observação da realidade é necessariamente mediada por nossos valores, crenças e idéias pessoais. Logo, nosso acesso à realidade não é objetivo, mas antes hermenêutico - ou seja, os estímulos que vem da realidade são interpretados pelo pesquisador e não objetivamente percebidos (1) ..."

"O termo passou depois a designar todo esforço de interpretação científica de um texto difícil que exige uma explicação. No século XIX, Dilthey vinculou o termo "hermenêutica" à sua filosofia da "compreensão vital": as formas da cultura, no curso da história, devem ser apreendidas através da experiência íntima de um sujeito; cada produção espiritual é somente o reflexo de uma cosmovisão (Weltanschauung) e toda filosofia é uma "filosofia de vida (2)."

"Método de interpretação, primeiro, dos textos e, depois, do universo social, histórico e psicológico. Os problemas que levanta eram familiares a *Vico, mas aprofundaram-se com a exegese bíblica de Schleiermacher. Com a designação de *vertehen, *Weber e *Dilthey contrastaram o método da interpretação com o método científico objetivo. Sua subjetividade inevitável é o tópico das principais obras de *Gadamer (3)."

A origem da palavra Hermenêutica vem da língua grega e quer dizer interpretar, explicar e também traduzir. Assim, existe uma tradição da Hermenêutica que vem desde a Grécia Antiga e se desdobra até nossos dias. Na sua origem encontram-se três tipos de hermenêutica que nasceram da tradição de leitura e interpretação de diferentes corpos textuais:

1) Hermenêutica teológica (que vem da tradição de interpretação e tradução da Bíblia tanto no âmbito judaico como no cristão);
2) Hermenêutica jurídica das leis; e
3) Hermenêutica filológica (cf. filologia) que interpreta a poesia clássica.

Mas foi W. Dilthey que pôs a Hermenêutica como a base metodológica de todas as Ciências Humanas. Essa hermenêutica filosófica tem sido também objeto de críticas de várias novas tendências interpretativas: para os pós-estruturalistas, por exemplo, ela se basearia em uma visão ontologizante do "sentido" dos textos (ou seja: acreditaria na possibilidade de restituição de um sentido unívoco que reproduziria o sentido que o autor teria querido expressar no seu texto). A tarefa atual da hermenêutica consiste em tentar se reestruturar levando em conta essas críticas.
Não existe leitura que não seja interpretativa. Toda aproximação do mundo - textual ou não - é um processo complexo onde se entrecruzam o singular e o conceitual: toda leitura é releitura e apropriação.

Assim, o que proponho para ensaio é uma análise abrangente, no que se refere à Educação Física.


Introdução
Após me deparar com inúmeras dúvidas a respeito do sentido dado a educação, resolvi dentro de um site de relacionamentos (4) criar uma "comunidade virtual", com o objetivo de compreender de forma realista que sentido era dado a educação por todos que se interessam sobre o assunto, principalmente profissionais da área de Educação Física. A priori a idéia me pareceu válida, pois acreditava que se tratando de um ambiente virtual as opiniões e discussões surgidas poderiam gerar material para futuras pesquisas ou consultas. Tinha como proposta, compartilhar vivências e opiniões a respeito do sentido empregado pelos membros da comunidade enquanto participantes do processo de ensino/aprendizagem ao longo de suas vidas. Não obtive um número considerável de membros, tão pouco consegui fomentar algum debate neste espaço virtual. Resolvi então atuar em campo coletando informações dentro de vários contextos nos quais me inseria (meio familiar, acadêmico, estágio e trabalho voluntário).

Ao longo do 5º e 6º períodos, nos quais, tive maior contato com contextos pedagógicos devido às diversas disciplinas referentes ao assunto e por interesses particulares sobre as temáticas do ensino-aprendizagem. No trato com outros alunos-mestres percebi que seus relatos de experiências enquanto educandos, no processo educacional representavam indícios de uma formação no mínimo repressora. Poucos demonstravam grande alegria em relatar suas recordações, até mesmo os que se equiparavam à minha idade cronológica.

Assim, pelo quantitativo de pessoas com as quais dividi algumas vivências da prática pedagógica constatei, entre elas, que os valores atribuíam à educação, vindos de uma ideologia no mínimo tradicionalista de ensino, na qual o estudante se torna objeto passivo do processo, era representado em alguns planejamentos de aula e condutas assumidas por estes durante as aulas ministradas pelos mesmos na própria faculdade. Muitas vezes, até mesmo sem que se dessem conta, de forma crítica, muitos acadêmicos apenas reproduziam os conteúdos sem buscar questioná-los e quando o faziam adotavam comentários que interpretei como conformistas.

Utilizando a Hermenêutica para compreender pressupostos na Educação Física
Retomando a questão da análise do sentido subjetivo da palavra educação, interpreto-a no mínimo de duas formas, (após profunda reflexão sobre os relatos ouvidos): decepcionante e utópica. Principalmente quando focada no âmbito da Educação Física. Digo isto pela acirrada competição por fatias ditas muito rentáveis no âmbito desta profissão, visadas por aqueles que apenas se auto intitulam capazes de estarem à frente de nossos conselhos, preocupados a meu ver unicamente em gerar uma desenfreada desestruturação e fragmentação de nossa profissão.

Creio que sem dúvida a palavra educar poderia muito bem ser substituída por outra, introjetar. É notório por toda comunidade acadêmica que durante muito tempo, para decepção de muitos e alegria de alguns a principal função da educação em nosso País é "introjetar" nas futuras gerações valores deturpados fadados a serem adotados como socialmente aceitáveis, na iminência de eclodirem, orientados por uma minoria que domina e adestra em função própria" (Souza. Abr. 2006)

Deparamos-nos com um passado escolar não muito distante para alguns, reproduzindo-o de forma consciente é no mínimo inaceitável. Não devemos nos ater de nossas obrigações enquanto responsáveis pela formação de outros seres.

Possíveis soluções?

Seríamos no mínimo universitários e educadores, capazes por si só de reconstruir o nosso atual sistema educacional? Não posso apostar nesta hipótese como uma. Faz-se necessário primeiramente uma análise abrangente, no mínimo minuciosa em todo nosso sistema, que não contenha ou represente de forma distorcida intencionalmente em seus resultados, números favoráveis à promoção ou certificação de alguém ou em função de alguma coisa.

Concordo que seria muito mais cômodo simplesmente ir levando ou "empurrando com a barriga" como é dito no popular sobre todas as questões relacionadas à melhora e reconstrução do ensino público, a que se possa no mínimo ser capaz de oferecer uma estrutura funcional decente, já que pesquisas apontam para o total abandono das Instituições Públicas de Ensino. Mas, estaria novamente, e o que é pior, reproduzindo todo o modelo educacional em que me encontrei durante toda minha vida acadêmica, aprovaria somente sua "soberania", não sua real eficácia (algo a ser comprovado até os dias atuais) e, também corroborando para formação de cidadãos acríticos, conformados, inconscientes, e visto pelo foco da Educação Física, corporalmente doutrinados.

Educação Física: Uma análise de pressupostos políticos
Fazendo uma pequena comparação entre o meio político e o real contexto em que se encontra a Educação Física, noto que em ambos assim como em muitas outras profissões utilizam-se desta em função própria. Os políticos esquecem-se ou siquer lembram do motivo pelo qual foram eleitos e abusam de seus direitos. Os profissionais da área de Educação Física, principalmente os que anulam o educando do processo ensino-participação-desenvolvimento, trabalham em função do que muitas vezes lhes é mais cômodo e ponto final.

Passagens retiradas da Reportagem publicada no Jornal do Brasil, dia 27de Abril de 2006 por Merval Pereira, Intitulada "O Sonho da Educação":

"O Senador Cristovam Buarque apresentou aqui no seminário da Academia da Latinidade uma proposta arrojada para substituir, a nível mundial, a utopia socialista que ruiu com o fim da União Soviética. Cristovam, anunciado como um provável candidato à Presidência da República pelo PDT, lançou a idéia de um programa mundial de educação, comandado pela UNESCO, que permitiria tirar da exclusão social a imensa massa de pessoas que, não apenas nos países miseráveis como os africanos, como também em países ricos e emergentes, estão fora do sistema globalizado que privilegia os aspectos econômicos em detrimento do social".

"... Para criar as condições favoráveis a esse novo cidadão do mundo, o Senador Cristovam Buarque apresentou três premissas: abandonar o antropocentrismo arrogante da civilização ocidental para criação de uma nova sociedade, em comunhão do homem com a natureza; abolir a separação social, quebrando o berço da iniqüidade através da escola; e construir umas sociedade, tolerante, aberta a novas idéias (5) ..."


A notória diferença entre as duas ditas profissões está entre as extremidades que se encontram. Geralmente o educador se localiza na extremidade mais frágil, junto ao povo, de onde boa parte se origina.

A alusão feita entre as profissões demonstra que ao invés de incitar a dúvida, o educador adota uma postura conformista e inativa, reproduzindo valores desconhecidos, descontruindo seu patrimônio cultural.

Referindo-me a políticas mercantilistas voltadas ao esporte, tenho acompanhado nos últimos dois anos toda apelação feita por parte da mídia em função dos jogos Pan Americanos de 2007 sediados no Estado do Rio de Janeiro, justificando todo o gasto em função da geração de novos postos de emprego para o Estado e na projeção internacional do esporte no País.

"Faltam quadras na terra do Pan".

Das 1.255 escolas municipais do Rio, somente 605 têm instalações esportivas
"... De acordo com o IBGE sobre o setor, somente 49,3% das escolas da cidade têm algum tipo de instalação esportiva (...) A secretária municipal de Educação, Sônia Mograbi, porém , contesta os números do instituto".
- Os dados estão errados. O município do Rio tem 1.055 escolas, sendo 633 com quadras (375 cobertas), o que daria 60% - disse ela.
"... Segundo Sônia Mograbi, o município conta com 3.221 professores de educação física, que atendam cerca de 700mil alunos a partir do ensino fundamental (6) ..."

Assistimos sentados o investimento maciço na construção de estruturas de fato magníficas, porém, não acompanhei até a presente data nenhum investimento sendo feito pelo Estado na rede de ensino ou na saúde pública. O ideologia adotada leva os menos favorecidos a acreditarem que a única forma de se conseguir ganhar milhões de dólares por mês é nascendo com dons e talentos excepcionais como os de poucos ou roubando horrores como nossos políticos têm feito descaradamente com nosso consentimento passivo.

"O sistema capitalista cresce a partir do excesso de produção de consumo. Os riscos dessa concepção são visíveis para o futuro do planeta. Este sistema valoriza a imagem, os símbolos, a moda, a hiper-realidade e o valor de troca. O marketing exerce papel preponderante nesse contexto, mediante estratégias que leva as expectativas de consumo de diferentes segmentos da sociedade (7) ..."

Seria esse o único caminho?

Infelizmente sou levado dentro da atual situação econômica a que nós, futuros educadores e que outros de longa data vem sendo submetidos, que sim!

Acredito que qualquer ser humano seja dotado de inúmeras potencialidades a serem descobertas e desenvolvidas: tempo, recursos financeiros adequados e uma gestão de qualidade que já seriam muito bem vindas ao atual sistema de ensino.


Uma reflexão sobre os modelos educacionais
Por não dispomos de recursos necessários, suficientes à formação básica dos indivíduos, o ensino técnico acaba sendo a opção para rápida inserção dos jovens no mercado de trabalho já superlotado e sucateado. Barateando sua mão-de-obra.

Reportando-me a Educação Física dentro deste contexto de ensino, qual seria seu papel social para formação do estudante? Reproduzir através de práticas maçantes os mais entediantes desportos? Incentivar o individualismo mascarando-o com a máxima já muito conhecida ... o importante é ... um montão de "blá,blá,blá" que não representam de forma direta a injusta e cruel realidade de milhões de jovens e crianças neste País? Ou deixar claro que no fundo sua intenção é ordenar seus corpos a fim de torná-los adestráveis e passíveis ao sistema, acentuando cada vez mais as desigualdades financeiras e ideológicas?

"EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR; TEMOS O QUE ENSINAR? ..."

"... é no âmbito das ciências biológicas que os profissionais na área vem buscando o saber necessário as suas ações pedagógicas.

"Pois é assim que, ainda hoje, os especialistas em Educação Física são informados - e formados - sobre o rol de conhecimentos orientadores de suas práticas. Se é a aptidão física que a justifica na escola, é o conhecimento que possa vir garantir a sua consecução que, privilegiadamente - não exclusivamente - vem ocupando lugar no processo de formação de seus especialistas nos mais de uma centena de centros de ensino superior dispersos por este país, é a visão hegemônica de uma Educação Física que fundamenta sua prática na ótica do eixo paradigmático tão enfaticamente aqui mencionado, vinculando-a a caracteres inerentes à - que entende ser sua - função higiênica e eugênica, acoplada à idéia do rendimento físico/esportivo, malgrado as mudanças havidas na organização social do trabalho em nossa sociedade, motivadas - dentre outras razões - pelo processo de automação da força de trabalho que levou à secundarização da busca do corpo produtivo e ao deslocamento do foco das atenções sobre o corpo, do momento de produção para o de consumo, matizando, dessa forma, os corpos mercados/mercadoria e consumidor (CASTELLANI FILHO, 1993) (8)

Mas afinal, para que serve a educação nesse país?
Enquanto estudante acreditava fielmente que o estudo poderia por si só garantir-me uma sólida base. Hoje me deparo após alguns anos, com uma realidade contrária à que acreditava. A figura do professor sem saudar o tradicionalismo, era de grande projeção e importância social. Vejo-a hoje sendo enforcada aos poucos por ambos os sistemas, refiro-me aos sistemas públicos e privados de ensino. Ambos não se importam com quesitos como qualidade e mascaram este termo.
Transformamos a educação em produto negociável.

"CONCORRENTES DOS DOCENTES

Exigências do mercado de trabalho empurram profissionais para busca de programas de Mestrado e Doutorado em instituições públicas" (Revista Guia de Pós & MBA 2006, ano-5, nº5, p.56).

"... o mercado atual na educação superior é de extrema concorrência e não perdoa quem não se profissionaliza, está nas mãos dos gestores a fórmula de sobrevivência com rentabilidade,..." (Revista Ensino Superior, ano-8, nº87, )

Mesmo afirmando ao contrário voltam-se única e exclusivamente ao quantitativo de alunos matriculados e amontoados nas escolas públicas, representados através de números, que são levados a conhecimento público como um troféu eleitoreiro ou como estratégia de marketing para as Instituições privadas de ensino, que se valem muitas vezes das conquistas de seus educandos em concursos, creditando toda sua propaganda na metodologia adotada.

Faz-se necessário re-construir o ensino?

Relembrando a opinião de alguns educadores sobre construir o conhecimento na escola, vejo um possível caminho a se trilhar rumo à educação ativa, viva, enfática, participativa e construtora de valores carregados de sentido e não "verdades" televisivas.

Se a Educação Física permeou por muitos e por muito tempo este conceito, que seja banido, se hoje neste século acreditamos ainda em um possível futuro, não observo outra atitude a ser tomada senão nos predispomos a construção e desenvolvimento do educando, tornando-o ser consciente, ativo, questionador e sujeito de seu próprio conhecimento, para que possa no mínimo refletir e estar ciente sobre o impacto que sue voto, sua presença ativa, seu corpo presente tem em nossa sociedade.

Dispostos à luta, que esta seja assumida verdadeiramente, primeiro por nós futuros e já educadores, não levantando nossas bandeiras fora do âmbito das escolas, mas dentro delas juntos ou não com os que abraçarem a causa, agindo de forma quase que imperceptível ao sistema, já que somos tratados como simples baderneiros ao reivindicar nossos direitos nas ruas de nossa cidade. Que seja feito em nosso dia-dia, no trato com as crianças, possibilitando sua participação na elaboração de simples atividades à construção de regras de condutas comportamentais aceitáveis pelos grupos a que pertence, não os largando de mãos acreditando que por si sós como age nosso sistema, serão capazes e auto suficientes para progredir por meios e conceitos próprios.

Acreditar em nosso poder de voz política enquanto educadores e universitários, nos fazer ouvir pela sociedade e dizer-lhes que não será unicamente através de projetos e ações comunitárias isoladas que iremos redefinir o papel da educação em nosso território Nacional.

O "cala boca" perpassa muito bem aos olhos dos que não se importam com um ensino público de qualidade, com os que investem milhões na produção de shows que irão, segundo eles, projetar uma imagem positiva ao turismo brasileiro no exterior. O mais chocante é observar os turistas indo e vindo por paisagens belíssimas sediadas ao centro norte fluminense, por veículos que lembram os utilizados em safáris. Intocáveis.

Os corpos que se movimentam graciosamente diante de seus carnívoros olhos, continuam após diversas apresentações movimentando-se em seus lares, para após esses períodos carnavalescos nutrirem seus filhos e famílias. Qual é o problema em visitar nossas maravilhosas e bem equipadas Instituições escolares públicas, já que seu dinheiro contribui e "muito" segundo nossos políticos e empresários dos setores privados para sua estruturação?

Nossos jovens não são levados a refletir sobre tal situação e aceitam muitas vezes até mesmo por falta de opção e oportunidade, utilizar seus próprios corpos projetando neles o que na verdade sempre fomos aos olhos estrangeiros "mero divertimento".

Chega de ONG's estrangeiras subsidiando projetos de cunho educativo em nosso País. Isto é no mínimo vergonhoso!

Enfim, acreditar ou esperar alguma atitude política decente já é com certeza utópico. Acreditar apenas em nossos educadores cansados e abatidos por infinito número de alunos em sala ou em quadra e nos estudantes alienados pela cultura do "hoje e agora" por si só, acredito não ser o suficiente. Reavaliar primeiramente nossos conceitos e valores de forma crítica para não projetarmos mais uma vez o papel da construção ética e moral de nossa sociedade, única e exclusivamente sobre nossas escolas.

Considerações finais
Buscar as raízes dos fundamentos éticos para compreender a significação de seu ETHOS, jeito de ser, característico de uma dada organização social (9).

Tanto educadores quanto educandos dividem a mesma micro-esfera social. É nesse "espaço" ou através dele que serão expostos diversos fragmentos de nossas estruturas sociais. Este contexto, escola-professor-aluno está ou encontra-se impregnado de valores pertencentes à nossa cultura. Nosso papel enquanto atores deste meio é ser observado por um viés tradicionalista e repassá-los ou transmití-los.
O que me parece ser de extrema importância, é que nos recordemos primeiro, antes de tratarmos do termo "competência", o que são a ética e a moral, de que forma se constituem em nossa cultura e que valores as norteiam, pois, são justamente esses princípios que estaremos tratando diretamente com nossos educandos, que, assim como nós, os empregarão de forma consciente ou não.

Breve definição dos termos:

Moral
"Um conjunto de normas ou regras destinadas a regular as relações dos indivíduos numa comunidade social dada (Vázquez, 1975, p. 25) (10)".

"Conjunto de regras de condutas ou hábitos, julgados válidos, quer de modo absoluto, quer para grupo ou pessoa determinada (11)...".

Ética
"A ética se apresenta como uma reflexão crítica sobre a dimensão moral do comportamento do homem (12)".

Indagações finais:
Só se atribui ou confere valor ao que é criados pelo homem, resultado de sua interação com outros homens.

*Atualmente atribuímos conscientemente esses valores?

Fazendo um link com a disciplina de Tecnologias Educacionais, quando o tema Globalização foi abordado pelo educador e discutido por nós discentes em sala, surgem os seguintes questionamentos, ao refletir sobre valores morais e comportamentais: o acesso as mais variadas culturas estaria contribuindo para que pudéssemos repensar, rever, e nos reconscientizar-mos de forma ativa de nossos valores ou simplesmente estaríamos adotando esteriótipos, falas, posturas, fobias, etc.? Até que ponto tal adoção poderia ou não contribuir para uma desconstrução histórica e moral de nossa cultura e valores?

Na obra Formação de Professores - A experiência Internacional sob o Olhar Brasileiro de Pedro Demo e Dermeval Saviani (Orgs), os autores apontam outros caminhos, talvez os mais eficazes a meu ver, servindo-se da Globalização.

"... olhar a experiência internacional pode ajudar a colocar sob nova luz velhos problemas que afetam a formação de professores (13)...".

Ainda me valendo do raciocínio da autora Terezinha Azeredo, no que diz respeito ao papel do educador.

"... O educador exigente não se contentará com pouco, não procurará o fácil; sua formação deverá ser a formação de um intelectual atuante no processo de transformação de um sistema autoritário e repressivo; o rigor será uma exigência para sua prática, contra laissez-faire que se identifica com o espontaneísmo (14)...".


Coadunando e citando Freire,

"... Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar longe, ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma transgressão. É por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Se respeita à natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Educar é substantivamente formar (15) ...".

Só a partir da busca e compreensão consciente (desenraizada de políticas alienantes ou alienáveis), dos valores advindos e atribuídos à, e por nós à nossa cultura, podemos nos considerar por assim dizer, competentes e responsáveis enquanto atores sociais, por sua formação e transformação.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
APOLINÁRIO, F. Dicionário de Metodologia Científica: um guia para produção do conhecimento científico. SP: Atlas, 2004.
AURÉLIO, Buarque de Holanda Ferreira. Mini Dicionário de Língua Portuguesa. RJ: Nova Fronteira, 1993.
BLACKBURN, S. Dicionário Oxford de Filosofia. RJ: Jorge Zahar Editor, 1997.
CASTELLANI FILHO, Lino. Política educacional e educação física. SP: Autores Associados, 2002.
GOERGEN, Pedro ; SAVIANI, Dermeval. Formação de Professores - A experiência Internacional sob o Olhar Brasileiro. SP: Autores Associados, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia : saberes necessários à prática educativa. SP: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura).
JAPIASSÚ, H. & MARCONDES, D. Dicionário Básico de Filosofia. RJ: Jorge Zahar Editor, 1996.
NOGUEIRA, Cláudio ; DAFLON, Rogério. Faltam quadras na terra do Pan. Jornal o Globo, 29.3.2006,c. Esportes, p. 37.
ORKUT. Ambiente virtual de domínio público - www.orkut.com.br
PEREIRA, Merval. O Sonho da Educação. Jornal do Brasil, 27.4.2006, c. 1.
RIOS, Terezinha Azeredo. Ética e Competência. SP: Cortez, 2004 (Coleções Questões da Nossa Época).
SOUZA, Altamir da Silva. O consumo na vida de adolescentes de diferentes condições socioeconômicas: uma reflexão para o marketing no Brasil. http://www.FGV.org/cadernoebape.br. Acesso em: 15 mar 2006.

NOTAS:
1. APOLINÁRIO, F. Dicionário de Metodologia Científica: um guia para produção do conhecimento científico. SP: Atlas, 2004, pág. 107.
2. JAPIASSÚ, H. & MARCONDES, D. Dicionário Básico de Filosofia. RJ: Jorge Zahar Editor, 1996.
3. BLACKBURN, S. Dicionário Oxford de Filosofia RJ: Jorge Zahar Editor, 1997.
4. ORKUT. Ambiente virtual de domínio público - www.orkut.com.br
5. Merval PEREIRA, O Sonho da Educação, Jornal do Brasil, 27.4.2006, c. 1.
6. Cláudio NOGUEIRA e Rogério DAFLON, Faltam quadras na terra do Pan. Jornal o Globo, 29.3.2006, c. Esportes, p. 37.
7. Altamir da Silva SOUZA, O consumo na vida de adolescentes de diferentes condições socioeconômicas: uma reflexão para o marketing no Brasil. http://www.FGV.org/cadernoebape.br. Acesso em: 15 mar 2006
8. Lino CASTELLANI FILHO, Política educacional e educação física, p. 42.
9. Terezinha Azeredo RIOS, Ética e Competência, passim.
10. Ibid., p. 22.
11. Ibid., p. 23.
12. AURÉLIO, Buarque de Holanda Ferreira, Mini Dicionário de Língua Portuguesa, p. 235
13. Pedro GOERGEN e Dermeval SAVIANI, Formação de Professores - A experiência Internacional sob o Olhar Brasileiro, p. 5.
14. Terezinha Azeredo RIOS, Ética e Competência, p. 69. (grifo meu)
15. Paulo FREIRE, Pedagogia da Autonomia, p. 33. (grifo meu)


 

Autor deste artigo: Wagner da Silva Souza - participante desde Qui, 10 de Agosto de 2006.

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