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Edições Anteriores 113 Independência entre as linhas da dependência
Independência entre as linhas da dependência PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Mário José Dias   
Qua, 20 de Setembro de 2006 21:00

Educar pressupõe sempre, autonomia e liberdade. Parece ser esse um ponto comum entre os teóricos e os práticos da educação. Ninguém educa para o aprisionamento, para a dependência. Quanto mais educado for o indivíduo, mais livre ele se sentirá. Maiores são os seus vôos, pois as asas têm sempre o tamanho certo de nossos sonhos! Basta descobrir as potencialidades, abrir as asas e voar livremente pelo universo afora.

Não posso, por exemplo, concordar com a idéia de que "é preciso cortar as asas". Imaginar que o indivíduo possa ser cerceado em seu direito de sonhar, alçar vôos, ou mesmo acreditar que ele "não esteja pronto".

Muitos têm confundido com a poda de um jardim. É preciso separar o vôo dos pássaros com o cuidado a terra e a natureza. O jardineiro sabe que para florir melhor o seu jardim, ele precisa do tempo, da estação e da quantidade certa para adubar a planta. Tudo em excesso, ou em menor quantidade, agride o crescimento e pode pôr a perder todo um tempo empregado na expectativa da colheita.

O bom jardineiro sabe que é preciso cuidar, estar próximo, proteger a planta, mas ao mesmo tempo, percebe que na hora de florir ela não mais precisará dele. A beleza da flor será compartilhada por tantos outros que nem sempre poderão imaginar o trabalho do jardineiro; para estes apenas a colheita interessa.

Os pássaros, ao contrário, não precisam de podas - a não ser que eu não os queira livres. Eu posso, sim, cuidar e esperar pelo amanhecer para vê-los na janela de minha casa, a percorrer as flores ou à procura das faíscas de alimento que propositalmente deixo pelo caminho. Alegro-me com o seu canto e com o seu vôo!

Esta natureza, comum aos pássaros e às plantas, nos ajuda a pensar na possibilidade e no papel da liberdade. É preciso esperar pacientemente pelo dia em que os pássaros estarão prontos para alçar vôos e o jardim a florir. Tudo se conquista pelo tempo e na hora certa. Ninguém é livre se não puder acreditar que pode voar. Acreditar em si mesmo já é um ato de liberdade.

A liberdade é sempre uma possibilidade.

O que me diferencia do outro é o que me qualifica como ser existente neste universo. Não há poda e nem vôo que consiga aprisionar a individualidade. Aqui está a independência.
A independência é sempre conquista e descoberta da individualidade. Só romperemos "os grilhões" do autoritarismo quando efetivamente descobrirmos o nosso vôo e fortalecermos as nossas convicções. A verdade nasce deste encontro e desta descoberta.

À educação cabe abrir este caminho. Traçar planos de vôo onde a única certeza sejam as inúmeras possibilidades que só o infinito oferece. Não nos cabe definir um único plano de vôo, como se o bando precisasse sempre seguir a mesma direção, ou como se a qualquer hora pudéssemos podar o jardim.

Independência pressupõe a liberdade. E esta precisa ser conquistada. Não é suficiente, embora possa parecer necessário, que alguém "grite a independência" de um povo. É preciso que este povo se conquiste. Uma independência que gere outra dependência é como se as asas fossem cortadas e portanto tuteladas por quem as cortou.

Precisamos perceber as sutilezas destes cortes que acontecem em momentos singulares e que aparentemente são salutares, tais como: traçar linhas em uma sala de aula, ou marcar lugares fixos para impedir que o espaço do outro seja invadido. Os propósitos são salutares, afinal quem não precisa de ordem? A questão não está na fila e nem na linha, está no propósito, na intenção de quem faz, que muitas vezes não o faz pela liberdade, mas para controlar.

As linhas nos separam dos outros. As regras insanas nos impõem a ordem. As "escolhas" que os outros fazem por nós, não nos libertam, nos aprisionam. Existem aqueles que "formam nossa opinião", cerceando assim as nossas buscas. Não haveria necessidade de votar se já conhecêssemos os resultados. Acomodamo-nos, pois nos acostumamos com "os gritos de independência" que nos fazem acreditar na falsa ilusão de independência. Tudo isso nos afasta de nossa liberdade.

Quantos ainda são cerceados de seu direito de estudar, de ler o mundo? Até mesmo aqueles que se dizem letrados, muitas vezes preocupados com os resultados, esquecem de estudar o processo. Esquecem de encontrar formas de rever os planos de vôos, de descobrir que faltam alimento, cuidado e até mesmo adubo para que aquela planta ou aquele pássaro encontre no jardineiro fiel o alento e o estímulo para descobrir sua individualidade que se perdeu no meio do coletivo.

A nós educadores cabe a tarefa de continuar nossas pesquisas e estudos, não para construir a imagem de nossos diretores ou de nossos governantes. O estudo e a pesquisa devem fortalecer a busca pela individualidade e pela autonomia e assim também contribuir para que nossos alunos sejam capazes de fazer o mesmo. É preciso encontrar o sentido de nossa independência: a Liberdade.

Utopia, talvez, mas estou certo e convencido de que a florada será melhor e o vôo mais alto.

Afinal, a essência da liberdade não está no limite e sim na verdade.

 

Autor deste artigo: Mário José Dias - participante desde Sex, 01 de Setembro de 2006.

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