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Repetência e a qualidade do ensino |
Escrito por Jorge da Silva |
Qua, 12 de Julho de 2006 21:00 |
Recentemente relatório divulgado pela UNESCO divulgou dados sobre o problema da repetência nas séries iniciais do ensino fundamental em 142 paÃses. Neste relatório a taxa do Brasil é de 20,6% de reprovação da 1ª a 4ª série. Por ser considerado como um dos principais indicadores de qualidade na educação, os dados divulgados proporcionam análises e comparações com outras nações, feitas de uma forma randômica, não levando em consideração a relação existente entre amostra e o universo estatÃstico dos outros paÃses e o Brasil, isto é, o tamanho da população escolarizável, a população matriculada e a quantidade de alunos reprovados e ainda se há uma universalização de escolarização da população escolarizável e a duração dessa mesma educação básica. Precisamos discutir o relatório a partir de que setores contribuÃram ou provocaram tal resultado e que tipo de polÃtica deve ser adotado para melhorar a qualidade da educação nas séries iniciais. Devemos questionar se o nosso processo de alfabetização cumpre com o seu objetivo ou se muitos desses reprovados são analfabetos funcionais, isto é ao ler são como papagaios, ou seja, repetem as palavras, mas são incapazes de entenderem e explicar ou contar o texto lido. Assim sendo, nas séries seguintes por falta de compreensão, acabam se tornando repetentes. Podemos ainda discutir e analisar o conteúdo objeto do ensino, visto que mesmo bem alfabetizado, a sala de aula poderá se tornar desinteressante para o aluno e sem motivação ele poderá se tornar um repetente. .Snyders ao se referir a escola como agente de mudança, disse que o problema da educação está no conteúdo. Sabemos que este é um dos problemas que encontramos no cotidiano das escolas, onde docentes transmitem conteúdos não contextualizados e que muitas vezes nada significam para os alunos. Outros afirmam ser a repetência uma falta de condições do professor para ensinar alunos das camadas sociais menos favorecida, precisando de uma melhor qualificação. Assim sendo o estado tem passado a oferecer o treinamento docente e a educação continuada. Tem se discutido a necessidade de maior investimento em educação, pois uma questão central para a qualidade da educação é o montante de recursos financeiros aplicados. Agora, mais recentemente, as autoridades educacionais estão discutindo qual o melhor método de alfabetização, se o método fonético ou construtivista de alfabetização e, que materiais didáticos devem ser produzidos. Ao se ver a discussão sobre o construtivismo como um método é por assaz triste, porque todos que já tiveram a oportunidade de ler Piaget, sabe que o construtivismo é o teoria piagetiana e não um método. A qualidade da educação começa fora da escola, com uma polÃtica de remuneração que possibilite ao docente viver condignamente em um único emprego público como tantos outros profissionais de nÃvel superior. Sabemos que a quantidade maior de funcionários em qualquer administração pública se encontra no magistério, mas é preciso que os governos estadual e municipal valorizem esses funcionários, não nos discursos eleitoreiros, mas como funcionários públicos diferenciados e promotores diretos do desenvolvimento econômico, social e polÃtico de uma sociedade e que um paÃs só será desenvolvido quando sua educação for desenvolvida e que isso só ocorrerá quando ela for de qualidade e seus professores bem remunerados respeitados e qualificados. Um salário que seja capaz de atrair candidatos para a realização dos cursos de licenciatura e permanência no magistério, contribuindo assim para a redução do déficits de docentes no Brasil até 2015, conforme consta também do mesmo relatório da UNESCO. Com relação à questão do analfabeto funcional, a mesma não será resolvida unicamente com o tipo de método, mas sim com a construção do conhecimento; é preciso que o alfabetizando conheça as letras, que diferencie as vogais das consoantes, as sÃlabas, as palavras e finalmente a frase, independente do método; é preciso que se instrumentalize o aprendiz para que ele possa construir o seu conhecimento. O educador hoje necessita oferecer aos alunos não só a construção do conhecimento, mas também a sua contextualização, isto é a criação de um caminho para que entendam e compreendam também o mundo, compreendam a vida e os valores que lhes proporcione a prática da cidadania. O trabalho do professor deve dar direito ao aluno de respeitar as diferenças entre as pessoas e lhes possibilitar aplicar o conhecimento adquirido na escola no seu cotidiano social, valorizando o diálogo, interagindo e influenciando o meio de uma maneira crÃtica, autônoma e com capacidade para organizar uma sociedade onde a cidadania seja ética, consciente e responsável. O docente deverá oferecer aos seus alunos condições para que eles possam pensar e agir com o objetivo de proporcionar o crescimento e o desenvolvimento do indivÃduo como cidadão, que estabelece um vÃnculo significativo deste conteúdo com a realidade, só assim ele estará preparado com solidez para a vida. Esta forma de educação escolar com certeza irá fazer com que a repetência seja bastante minimizada e, a evasão que surge como conseqüência direta da repetência seja reduzida a Ãndices aceitáveis. Uma ação polÃtica comprometida com resultados na sala de aula irá buscar uma educação básica universalizada, de qualidade e eficiente principalmente nas séries iniciais, visto que se não houver qualidade no ensino das séries inicias, não teremos como obter alunos com competência nas séries finais do ensino fundamental e no ensino médio. É preciso que uma educação básica de qualidade seja com certa urgência, o nÃvel mÃnimo de formação da população, pois esta propicia ao povo um poder de mobilidade social e, interrompe o ciclo perverso de baixa transmissão educacional de pais para filhos. Precisamos que os currÃculos escolares tenham os conteúdos selecionados nos programas dentre aqueles que sejam úteis e representativos para o cotidiano social do aluno, que sejam contextualizados. Que a preocupação docente deixe de ser com o cumprimento integral do programa e passe ser com a extração do útil, importante e necessário a real formação do homem, do cidadão do ser humano. |
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