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Edições Anteriores 96 Universidade e autonomia intelectual: um desafio para o Brasil do século XXI
Universidade e autonomia intelectual: um desafio para o Brasil do século XXI PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Maria de Fátima de Sousa Moreira Fonseca   
Qua, 24 de Maio de 2006 21:00

A temática que deveria ser prioritária na pauta das discussões sobre os rumos do ensino superior é a velocidade com que o ensino superior vem sendo mercantilizado, ou seja, conduzido de modo a suprir o mercado de trabalho com pessoal especializado. Se restringirmos a educação superior somente ao processo de capacitar, ou qualificar um indivíduo a realizar determinado conjunto de tarefas, vamos empobrecê-lo de modo extremamente prejudicial para o país. O foco na qualificação profissional atende às necessidades de um sistema econômico estruturado sobre a divisão do trabalho com lucro imediato, mas distancia-se muito das necessidades humanas em seu conjunto, dentre elas a de integrar as várias dimensões da existência do sujeito, em sua pluralidade de expressões.

Após uma observação histórica dos fatos constatamos que o fenômeno da mercantilização do ensino lembra uma realidade vivida na década de sessenta, quando foi instaurada a ditadura. Durante esse período, as políticas internas estavam voltadas para um desenvolvimento econômico centrado no investimento do capital estrangeiro, especialmente o americano, livre da ameaça do comunismo que "assombrava" o mundo. O autoritarismo tornou-se imperativo em todas as áreas, impondo limites também à liberdade de pensar.
Em seguida, a entrada das empresas multinacionais no país, abriu um enorme campo de trabalho - ainda que inadequadamente remunerado - para profissionais técnicos e operários. Com o objetivo de atender a essa expansão, o ensino passou por reformas graças a recursos financeiros obtidos em acordos firmados com os Estados Unidos. O ensino profissionalizante tornou-se obrigatório concomitante ao segundo grau, já com a finalidade de fornecer mão de obra para as multinacionais. A universidade, por seu lado, adotou os modelos de administração aplicado às empresas, onde o foco mantém-se no lucro, segundo as leis do mercado. As instituições de ensino superior passaram a ser administradas tal como fábricas e tiveram sua estrutura interna modificada de tal modo que as atividades docentes, de pesquisa e administrativas foram separadas umas das outras. Nesse período também a arte foi censurada, de modo que toda e qualquer forma de expressão contrária à ideologia oficial não se propagasse. Desse modo, não só as instituições de ensino, mas toda a sociedade recebeu esse impacto com grande prejuízo para a formação da cultura e da ciência.

Chegamos, agora, ao ponto crucial de nossa reflexão: passados quarenta e dois anos da instauração da ditadura anticomunista, ainda estamos vivendo num país cujo ensino se limita a formar executores de tarefas para sustentar um sistema em desequilíbrio. Isso quer dizer que, oficialmente, a universidade saiu da repressão, mas permaneceu à sua sombra. Ainda somos subservientes a um capitalismo distorcido e incompatível com a realidade nacional. Acomodado no seu papel de programador de profissionais qualificados para o manuseio de técnicas, o ensino superior vem deixando de lado, gradativamente, o pensamento filosófico-científico e substituindo a pesquisa pelo "parafraseamento" de idéias importadas, distantes do ideal sonhado de liberdade intelectual. Surge a sociedade na qual o conhecimento torna-se um bem de consumo a que somente classes econômicas favorecidas terão acesso. Em um país onde a pobreza ainda é determinante da educação, a prevalência do conhecer sobre o pensar é outro poderoso braço de exclusão social. Como a universidade responde a esse novo sectarismo? Com uma superficial reserva de vagas?

Em termos de ensino, o grande desafio para a universidade brasileira desta virada de século é situar-se em um contexto, redefinir sua identidade e recuperar espaços. Para que o Brasil volte a crescer não pode caminhar à sombra de retalhos de saberes externos. Administrar conhecimentos pode ser uma das vertentes do ensino superior, mas a autonomia intelectual é, sempre, o oxigênio que o mantém enquanto tal. Essa deveria ser uma das principais metas da administração superior.

Referências Bibliográficas:


CHAUÍ, Marilena de Souza. Escritos sobre a universidade. São Paulo: Editora UNESP, 2001

ROCHA, Maurício. Inteligência, trabalho imaterial e ensino de filosofia, in Políticas do ensino de filosofia. Org Walter O. Kohan. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.


 
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