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Edições Anteriores 319 Como Promover a Dimensão Ética na Gestão das Instituições
Como Promover a Dimensão Ética na Gestão das Instituições PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Jose Claudio Rocha   
Ter, 09 de Abril de 2013 00:00

José Cláudio Rocha[1]



A ética se manifesta para nós, de maneira imperativa, como exigência moral. O seu imperativo origina-se no interior ao indivíduo, que o sente no espírito como a injunção de um dever. Mas, ele provém também de uma fonte externa, ou seja, a cultura, as crenças, as normas da comunidade. Há também uma fonte anterior, que ele diz ser originária do organismo vivo, transmitida geneticamente, geração a geração. Essas três dimensões são interligadas como se tivessem um eixo subterrâneo comum. As 03 instâncias indivíduo-sociedade-espécie formam uma tríade que Morin (2005) diz ser inseparável.  Para este autor, o ser humano, mesmo em sua autonomia, é 100% biológico e 100% cultural. Contém o todo mesmo sendo irremediavelmente singular. Carrega a herança genética e, ao mesmo tempo, o imprinting e a norma da cultura.

Com a globalização econômica neoliberal a riqueza cresce em escala global, mas o fosso que separa as nações ricas das mais pobres só aumenta. Há no mundo uma crise distributiva na economia, isto é, concentração de riqueza, com um efeito cumulativo, também chamado de efeito aspirador. Os últimos relatórios divulgados pelo PNUD e o Banco Mundial comprovam o que estamos dizendo e apresentam indicadores surpreendentes:


  • Os 20% mais ricos da população mundial respondem por 86% do consumo total, enquanto resta aos 20% mais pobres mirrados 1,3%.
  • O consumo de um cidadão de Luxemburgo é 62 vezes superior ao de um habitante da Nigéria.
  • Do total da riqueza produzida no mundo, 80% fica com um bilhão de pessoas que vivem nos países ricos, enquanto 5 bilhões de pessoas, quase todas em países pobres, dividem o restante.
  • A OIT revela que a renda anual de cada pessoa que faz parte dos 20% mais ricos do mundo chegou a 32,3 mil dólares em 2002. Cresceu 183% em 40 anos; já a renda dos 20% mais pobres foi de 267 dólares, com o minguado aumento de 26% desde 1962.
  • O historiador David Landes (Harvard) afirma entre um habitante do país rico e outro do país mais pobre era de 5:1. Agora a diferença entre a nação mais rica (Suiça) e a mais pobre (Moçambique) é de 400:1.
  • O número de pessoas que vivem na pobreza extrema (renda inferior a 1 dólar dia) subiu de 2,4 bilhões para 2,7 bilhões entre 1981 e 2001 período em que aumentou a riqueza em escala mundial.
  • Segundo o BID a distribuição de riqueza no Brasil é uma das mais desiguais do mundo, ou seja, o rendimento médio de uma família nos 10% mais ricos é 60 vezes superior àqueles de uma família nos 10% mais pobres.
  • A proporção de renda dos 50% mais pobres é igual àquela apropriada pelo 1% mais rico, fato que permanece imutável nos últimos 20 anos.
  • O número de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza, ou seja, com renda mensal per capita inferior a 125 reais, aumentou de 50 milhões em 1995 para 55,1 milhões em 2002.
  • Há um empobrecimento da população mundial. Mesmo nos países desenvolvidos existem 100 milhões de sem-teto e 37 milhões de desempregados.
  • Nos EUA, o país mais rico do mundo e o representante arquetípico do modelo capitalista contemporâneo, os índices são alarmantes. Nas últimas 03 décadas a proporção entre os salários mais altos e os mais baixos cresceu de 44:1 para 209:1.
  • Os EUA com renda per capita mais alta do mundo tem um dos indices mais altos de população em situação de pobreza entre os países industrializados.


Neste contexto as iniqüidades do sistema capitalista atingem proporções quase obscenas.


  • A riqueza dos 225 indivíduos mais ricos do planeta equivale à renda anual de 47% da humanidade, e é maior que o PIB agregado de todos os países da África, onde vivem 600 milhões de pessoas.
  • A renda das 06 pessoas mais ricas do planeta é maior do que a renda nacional conjunta de 48 países mais pobres e equivale a renda anual combinada de ¼ de bilhão de pessoas.
  • Nos EUA são consumidos 8 bilhões de dólares anuais com cosméticos o que chegaria, e ainda sobrariam 2 bilhões para garantir educação básica a todos os habitantes do planeta.
  • Na Europa são gastos 11 bilhões de dólares por ano em sorvete, o que chegaria, e outra vez sobraria 2 bilhões, para prover água potável e drenagem a toda população mundial;
  • Uma vaca dos rebanhos da União Européia recebe um subsídio anual que corresponde a 3 vezes a renda anual per capita dos moradores dos países mais pobres da África.
  • Enquanto um pequeno setor da população mundial possui muito mais dinheiro do que efetivamente pode gastar em várias gerações, ainda que vivendo uma vida luxuosa, um terço da humanidade (1,3 bilhão de pessoas) vive em condições de pobreza absoluta.


Assim enquanto muitos festejam o “êxito” do capitalismo, em relação a outros modelos sociais, tem-se um dos índices mais altos de mortalidade infantil, AIDS, acidentes automobilísticos, consumo de pesticidas, homicídios, prisões, detritos tóxicos do mundo industrializado, trabalho infantil, trabalho escravo. Esse modelo de globalização que se baseia no darwinismo social e no desmantelamento do Estado de bem estar social vem demonstrando sinais de crise: crise de mercado com o empobrecimento da população mundial e queda na demanda: crise ética, política e governabilidade (não oferece opção aos setores excluídos de integração).

Diante desse cenário percebemos que é preciso religar o homem ao meio ambiente e a cultura e vice-versa como forma de promover uma nova ética em nossas instituições que levem em consideração o todo e a interligação entre as partes. Isto passa, em primeiro lugar, em combater a idéia do pensamento único ou efeito TINA (There is no Alternative). Passa também pela discussão de soluções na perspectiva dos inéditos viáveis, futuros possíveis e historicamente viáveis, como defendida pelo educador brasileiro Paulo Freire. Passa ainda pela adoção de uma economia da diversidade baseada no respeito a diferença.

Nesse sentido, o único meio eficaz e emancipatório de enfrentar a globalização neoliberal é contrapor-lhe uma globalização alternativa. Globalização conta-hegemônica é resignificar o público e a ética em nossas instituições, centrado em escolhas políticas que qualifiquem a inserção do país em um modelo de desenvolvimento que leve em consideração as especificidades locais, o respeito a diferença e a inclusão dos diversos grupos sociais.


BIBLIOGRAFIA


MORIN, Edgar. O Método: Ética. Volume 06. Editora Sulina, Porto Alegre, 2005.

ROCHA, J. C. A Reinvenção Solidária e Participativa da Universidade. Eduneb, Salvador, 2008.

ROCHA, J.C. Teoria do Estado Democrático. Eduneb, Salvador, 2009.



[1] O autor é advogado, economista e professor universitário com especialização em gestão pública e pós-graduação em ética, capital social e desenvolvimento, É mestre e doutor em educação.

 
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