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Edições Anteriores 313 Universidade ou Pluriversidade: Os Caminhos da Extensão Universitária
Universidade ou Pluriversidade: Os Caminhos da Extensão Universitária PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Jose Claudio Rocha   
Seg, 17 de Dezembro de 2012 00:00

 

A Extensão não deve ficar separada das outras atividades. Ao contrário, o campo da experimentação que lhe é associado está intimamente vinculado às linhas principais dos programas de pesquisa e de ensino da universidade. A contribuição da extensão para a pesquisa e o ensino não é automática. Ela depende essencialmente de uma vontade política dos grupos imediatos da produção e difusão de conhecimentos, formuladores de projetos orientados por critérios de relevância social e científica bem definidos. (Michel Thiolent, A Metodologia Participativa e sua Aplicação em Projetos de Extensão Universitária, EDUFF, 2000).

 

 

 

 

Quando falamos em extensão universitária, sempre alertamos para o fato de que chamamos as Instituições de Ensino Superior de “Universidade” e não “Pluriversidade”.

Em verdade, o vocábulo Universidade significa a sinergia, a articulação que deveria existir entre as diversas áreas de conhecimento e as várias funções da universidade. Nesse aspecto, o princípio da indissociabilidade entre o ensino, pesquisa e extensão está relacionado à própria idéia de Universidade.

A extensão, por sua vez, é a função da universidade onde essa diversidade se revela com maior vigor, tendo em vista o grande número de atividades, programas e projetos que se apresentam dessa forma.

A combinação de todos esses fatores faz com que a extensão seja uma área constituída por um grande número de experiências que só poderão ser bem mensuradas por uma proposta séria de avaliação institucional, construída especificamente para esse fim, que se proponha a investigar essa questão em sua complexidade.

Aliás, a avaliação da extensão universitária no Brasil tem sido o grande tema para o debate nos encontros e seminários promovidos pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras (FORPROEX) nos últimos anos.

O FORPROEX é um fórum que congrega os pró-reitores de extensão das principais universidades públicas brasileiras na perspectivas da institucionalização da extensão universitária no Brasil e é a entidade mantenedora do Sistema de Informações sobre a extensão (SIEX Brasil).

Todos nós conhecemos, todavia, a importância do trabalho de extensão desenvolvido pela a UNEB como, por exemplo, a contribuição na implementação de políticas públicas do Estado como o Programa de Alfabetização para Todos (TOPA); o Programa de pré-vestibular social Universidade para Todos (UPT); a Universidade para a Terceira Idade (UATI), O Programa de Educação para a Reforma Agrária (PRONERA);e o Programa de Qualificação Profissional.

Podemos falar também na importância das parcerias como os movimentos sociais e populares, principalmente, com os movimentos de luta pela terra, as atividades de assistência estudantil (residência universitária e participação de eventos) e as ações no campo da promoção e proteção aos direitos humanos de populações socialmente vulneráveis.

Isso sem falar do grande número de seminários, mini-cursos, cursos, congressos, oficinas, jornadas, simpósios, entre outros que são realizados cotidianamente por estudantes, funcionários, professores e a comunidade em geral que são noticiados no portal da universidade.

Entendo assim que todas essas atividades confirmam a idéia de que a extensão é o lócus privilegiado da relação com a sociedade e é através da extensão que a universidade consegue colocar em prática o seu compromisso social ou sua Responsabilidade Social Universitária (RSU). Como diz Gurgel: a extensão universitária é uma projeção da universidade ao seu meio e que como tal fornece um campo de estágio vivo e renovado, um verdadeiro laboratório onde o futuro profissional descobre a importância do ambiente e situa-se melhor em relação á realidade em que deve atuar (Gurgel, 1986, p.22).

Entendo também que esse boletim veio em boa hora, pois precisamos aprofundar a discussão sobre a extensão nas universidades e na UNEB em especial. Há uma tendência mundial, com destaque para a América Latina, de ampliação da extensão nas universidades e esse cenário requer uma maior atenção de todos nós que estamos em instituições de ensino superior.

Boaventura de Sousa Santos afirma que a extensão universitária terá um significado muito especial nos próximos anos. Para ele, em um momento em que o sistema capitalista pretende privatizar a universidade, transformando-a numa vasta agência de serviços a disposição do capital, a universidade deve conferir uma nova centralidade às atividades de extensão e concebê-la de modo alternativo as exigências do mercado global.

As universidades devem buscar uma participação ativa na construção da coesão social, no aprofundamento da democracia, na luta contra a exclusão social e a degradação ambiental, na defesa da diversidade cultural, da diferença e da solidariedade entre os povos (SANTOS, 2004, p.73).

Para que isso ocorra, precisamos discutir dentro das universidades as bases de um projeto pedagógico institucional, com um forte enfoque ideológico e estratégico em torno de que tipo de profissional é que pretendemos formar. Esse projeto pedagógico institucional deve servir de norte para as atividades de ensino, pesquisa e extensão dentro da universidade.

Se nós não fizermos isso, se não dermos respostas a essas questões, o sistema capitalista tratará de fazê-lo, pois não há neutralidade ideológica no campo do saber. Segundo a lição de Gramsci, a universidade é um aparato ideológico hegemônico e em sua relação com a sociedade pode ser legitimadora da ordem social ou critica e transformadora dessa mesma ordem social. A forma como a UNEB vai se relacionar com a sociedade é uma decisão que dependerá da maior ou menor coesão desse projeto pedagógico institucional.

Em relação à extensão, cabe nessa discussão o debate sobre sua definição. Essa função tem sofrido de uma dificuldade crônica na construção de seu conceito, em que pese os esforços do FORPROEX em formular uma definição comum as universidades públicas.

No campo da extensão há uma multiplicidade de enfoques e conseqüentemente de ações, interlocutores e posicionamentos. Essa falta de clareza conceitual acaba tornando a extensão uma vala comum onde são colocadas todas as atividades que não são identificadas com a pesquisa ou o ensino (ROCHA, 2008).

Outras vezes, a extensão é pensada apenas como uma forma de resolver deficiências no campo do ensino e da pesquisa, situação já descrita por Botomé no livro Ensino alienante, pesquisa alienada o equivoco da extensão universitária. No contexto universitário, o debate sobre o conceito de extensão é um grande desafio no que diz respeito à construção de novos paradigmas para a educação superior.

Outras questões poderiam ser levantadas em relação a extensão, mas vou deixar isso para uma outra oportunidade. Prefiro deixar essas questões em aberto para a interpretação livre do leitor. Espero que esse boletim não seja somente um lugar onde se aprende algo sobre a extensão universitária, mas sim um lugar para a revisão critica da extensão, para a sua reconstrução, para definição de estratégias e caminhos do próprio fazer da universidade, no seu compromisso inalienável da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

 

Referências bibliográficas

 

BOTOMÉ, Silvio Paulo. Pesquisa Alienada e Ensino Alienante: O Equivoco da Extensão Universitária, Vozes, Petrópolis, 1996.

 

GURGEL, Roberto Mauro. Extensão Universitária: Comunicação ou Domesticação, São Paulo Cortez, Editora EUFC, Autores Associados, 1986.

 

ROCHA, José Cláudio. A Reinvenção Solidária e Participativa da Universidade: Um Estudo de Caso Sobre Redes de Extensão Universitária no Brasil, EDUNEB, Salvador, 2008.

 

SANTOS, Boaventura de Sousa. A Universidade no Século XXI: Para uma Reforma Democrática e Emancipatória da Universidade, Cortez Editora, São Paulo, Coleção Questões da Nossa Época, 2004.

 

THIOLENT, Michel (org.). Extensão Universitária: Conceitos, Métodos e Práticas. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sub-Reitoria de Desenvolvimento e Extensão, Rio de Janeiro, 2003.

 
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