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Gestão Universitária

Edições Anteriores 306 GESTÃO DO ENSINO SUPERIOR, FORMAÇÃO DE MÃO DE OBRA E QUALIFICAÇÃO DE FORNECEDORES: DESAFIO AO DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL EM CAMAÇARI E REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR
GESTÃO DO ENSINO SUPERIOR, FORMAÇÃO DE MÃO DE OBRA E QUALIFICAÇÃO DE FORNECEDORES: DESAFIO AO DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL EM CAMAÇARI E REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Jose Claudio Rocha   
Qui, 06 de Setembro de 2012 00:00

José Cláudio Rocha[1]

Gilberto Batista Santos[2]

 

Resumo

O presente artigo é fruto da pesquisa “Políticas Públicas de Ciência, Tecnologia e Inovação na Bahia: Limites e Desafios” e tem como foco discutir o desafio à gestão do ensino superior na Bahia no que diz respeito à formação de mão de obra e qualificação de fornecedores para atender ao novo ciclo de desenvolvimento econômico e social por que vem passando o Polo Industrial de Camaçari e Região Metropolitana de Salvador (RMS). Com base em uma metodologia exploratória, descritiva e propositiva, o estudo é realizado através da leitura de material bibliográfico, análise de documentos, entrevistas e observação direta em seminários e encontros sobre a temática. O estudo conclui pela necessidade de uma maior articulação entre instituições de ensino superior (IES) e empresas e pela importância de projetos estratégicos como a Cidade Técnico Universitária (CTU) de Camaçari no Estado da Bahia.

 

 

Palavras chaves: formação de mão de obra; qualificação de fornecedores; desenvolvimento; Pólo Industrial de Camaçari; ensino superior e técnico.

 

1. INTRODUÇÃO

 

 

A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida é a própria vida[3].

 

O presente artigo intitulado Formação de mão de obra e qualificação de fornecedores: desafio ao desenvolvimento industrial em Camaçari e Região Metropolitana de Salvador foi redigido a partir de estudos realizados dentro do projeto de pesquisa e iniciação cientifica Política pública de ciência, tecnologia e inovação na Bahia: limites e desafios desenvolvido pela linha de pesquisa em gestão da educação, do grupo de pesquisa Gestão, Educação e Direitos Humanos (GEDH), Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias (DCHT), Campus XIX, Camaçari, Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Esta pesquisa vem sendo financiada pela UNEB e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), através do programa de iniciação cientifica da universidade (biênio 2011 e 2012), e integra as ações do Programa de pós-graduação (doutorado) Multi-institucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento (DMMDC) e do Programa de pós-graduação (mestrado profissional) em Gestão e Tecnologia Aplicada à Educação (GESTEC).

 

Considerando que o marco legal é um problema central para o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação (CT&I) no Brasil, a partir de uma metodologia exploratória e descritiva, a pesquisa tem como objetivo monitorar as transformações por que vem passando a política & legislação de ciência, tecnologia e inovação no estado da Bahia. Sobre esse problema, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação Marco Antonio Raupp afirma que o Brasil precisa aperfeiçoar o marco legal e incrementar os mecanismos de incentivo à pesquisa, ciência, tecnologia e inovação, para que mais empresas passem a realizar atividades de P&D (pesquisa e desenvolvimento) em parceria com os institutos de pesquisa, de modo a ampliar a inovação, a produzir conhecimento que tenha utilidade direta para a sociedade, especialmente, para a indústria e para o setor de serviços, auxiliando-os a promover a inovação tecnológica e a atuarem de maneira sustentável em termos econômicos e ambientais (RAUPP, 2012).

 

Tomando como ponto de partida o objetivo da pesquisa, este artigo discute a constituição de um novo ciclo de desenvolvimento econômico e social no município de Camaçari e RMS, fruto da instalação de novos empreendimentos econômicos e da formação de novas cadeias produtivas no setor industrial e de serviços, que apontam para mudanças na política de educação profissional e de educação superior do Estado, principalmente, em relação à formação de mão de obra (desenvolvimento de pessoas) e qualificação de fornecedores (capacitação de empreendedores locais). O artigo destaca também, o projeto da Cidade Técnico Universitária de Camaçari (CTU) como possibilidade concreta de fortalecimento e expansão do ensino técnico e superior em Camaçari e RMS nos próximos anos.

 

2. CAMAÇARI, PÓLO DE OPORTUNIDADES

O município de Camaçari faz parte da Região Metropolitana de Salvador (RMS), conta com uma população de 242.970 habitantes, sendo que a população urbana soma 231.973 pessoas e a população rural 10.997 moradores, segundo dados do último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012). É o município mais industrializado do estado da Bahia, sua economia gira em torno do Polo Industrial de Camaçari, maior complexo integrado do Hemisfério Sul, sendo o segundo Produto Interno Bruto (PIB) do estado, com R$ 11.845 bilhões em 2008 e R$ 12.159 em 2009, e o maior PIB industrial do Nordeste, com R$ 8.938,132 bilhões em 2008 e R$ 7.541,86 bilhões em 2009, respondendo por 35% das exportações do Estado (SEI,2012).

 

No primeiro trimestres de 2012 a Prefeitura Municipal de Camaçari (PMC) e o Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (COFIC) lideraram um processo constituído de uma série de reuniões envolvendo gestores públicos, representantes dos empresários, sindicatos e instituições de ensino técnico e superior com a finalidade de discutir os desafios e oportunidades relacionados à formação e disponibilidade de profissionais qualificados, bem como a preparação de fornecedores/empreendedores locais para atender aos novos empreendimentos que estão chegando à região. Dessas reuniões participaram – além da PMC e do COFIC – a UNEB, a Universidade Federal da Bahia (UFBA), o Instituto Federal da Bahia (IFIBA), O SENAI/CETIND, o SESI, o SENAI, o SEBRAE, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, IEL/FIEB, FECOMERCIO, SUDIC, SINDOCAM, ACEC, CDL, BASF Chenical Company, Kimberley-Clark, Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC), empreendedores locais, especialistas, associação de portadores de necessidades especiais, trabalhadores e estudantes da RMS.

 

Essas discussões culminaram com a realização do Seminário Fórum Camaçari/Pólo de Oportunidades, nos dias 13 e 14 de março de 2012, evento no qual as empresas em fase de implantação no Polo Industrial de Camaçari puderam apresentar suas cadeias produtivas e as oportunidades em termos de geração de emprego, renda e novos negócios para a sociedade. A importância do Fórum Camaçari/Pólo de Oportunidades está ligada a este novo momento da economia do município que envolve cerca de R$ 10 bilhões em investimentos nos próximos 08 (oito) anos, consolidando o complexo industrial dos segmentos automobilísticos e eólicos e, especialmente, diversificando a produção com a implantação do pólo acrílico, permitindo a formação de uma rede com os setores produtivos locais, em especial, o micro, pequeno e médio empresário. Essa articulação com os setores produtivos locais é formada não só pelo Polo Industrial de Camaçari, mas pelo polo de apoio e pelo polo de serviço presente na RMS.

 

Os objetivos do Seminário consistiram justamente em mapear as novas cadeias produtivas em instalação na região, identificando oportunidades de emprego e renda, assim como oportunidades de novos negócios, para empreendedores locais, visando construindo uma agenda positiva do empresariado como o governo do estado, com apoio das instituições de ensino presentes e da sociedade de Camaçari e RMS.  Vale à pena lembrar que a primeira fase de implantação do Polo de Camaçari foi intensiva em capital, utilizando pouca mão de obra. No entanto, nesse novo ciclo, espera-se que esses empreendimentos recém chegados possibilitem um maior número de empregos e oportunidades de trabalho para a população local.

 

Durante todo o evento foi registrado que estes investimentos não estão chegando à RMS por acaso, em verdade, são fruto de decisões empresarias fundamentadas na posição estratégica que o Brasil, o Nordeste, a Bahia e Camaçari ocupam neste momento no cenário internacional. O Brasil é considerado um país com uma economia emergente, com a formação de novos mercados consumidores e com uma estabilidade política e financeira que não é encontrada em outras regiões em desenvolvimento no mundo como a China e o Oriente Médio.

 

A economia brasileira apresentou em 2010 indicadores positivos apesar da crise mundial, segundo o Boletim do Banco Central, o PIB cresceu 7,5% em relação a 2009, em termos setoriais a agropecuária cresceu 6,5%, a indústria 10,1% e os serviços 5,4%. Em valores correntes o PIB nacional alcançou o total de R$ 3, 675 trilhões de reais, cerca de US$ 2,2 trilhões. O PIB por habitante per capita registrou uma alta de 6,5% em relação a 2009, a taxa de investimento em 2010 foi de 18,4% do PIB, superior a do ano anterior, quando ficou em 16,9%. A taxa de poupança atingiu 16,5% do PIB diante dos 14,7% registrados em 2009, período com produção em baixa e desemprego em alta.  Em 2011 o PIB brasileiro cresceu 2,7% e alcançou o patamar de R$ 4,143 trilhões. Apesar do país não ter crescido em 2011 os 5% previsto pelo governo federal, o resultado final foi considerado satisfatório e demonstra que o país não tem se ressentido frente à crise econômica internacional (BANCO CENTRAL, 2012).

 

A Região Nordeste, por outro lado, esta experimentando taxas de crescimento semelhantes às taxas chinesas o que lhe valeu o apelido de “tigre nordestino”. No final de 2011 o Nordeste apresentou uma taxa de crescimento de 4,4% maior do que a média nacional de 2,7%, conforme índice do Banco Central Regional (BANCO CENTRAL, 2012). Já o estado da Bahia, além e apresentar uma taxa de crescimento elevada nos últimos anos, tem um mercado consumidor que cresce a cada dia , sendo uma economia de grande importância para o Nordeste e para o Brasil. A Tabela 01 – Contas regionais do Brasil: composição percentual do PIB dos estados e da Região Nordeste e relação Nordeste/Brasil de 1999 a 2009 demonstra o peso da economia baiana para a Região Nordeste e para o país e a sua força enquanto mercado consumidor interno.

 

Tabela 01 – Contas regionais do Brasil: composição percentual do PIB dos Estados da Região Nordeste e relação Nordeste/Brasil 1999 a 2009

 

 

 

1999

 

 

2000

 

2001

 

2002

 

2003

 

2004

 

2005

 

2006

 

2007

 

2008

 

2009

Bahia

31,6

31,7

31,3

31,7

31,4

32,0

32,4

31,0

31,5

30,6

31,3

Maranhão

7,8

8,1

8,2

8,1

8.5

8.7

9,0

9,2

9,1

9,7

9,1

Piaui

4,1

4,1

4,0

3,9

4,0

4,0

4,0

4,1

4,1

4,2

4,3

Ceará

15,6

15,4

15,0

15,1

15,0

14,9

14,6

14,9

14,5

15,1

15,0

Rio Gr. do Norte

6,1

6,2

6,3

6,4

6,2

6,3

6,4

6,6

6,6

6,4

6,4

Paraíba

6,3

6,4

6,6

6,5

6,5

6,1

6,0

6,4

6,4

6,5

6,6

Pernambuco

18,8

18,4

18,5

18,4

18,1

17,8

17,8

17,8

17,9

17,7

17,9

Alagoas

5,2

5,3

5,2

5,1

5,2

5,2

5,0

5,1

5,1

4,9

4,9

Sergipe

4,5

4,5

4,9

4,9

5,0

4,9

4,8

4,9

4,9

4,9

4,5

Total NE

100,0

100,0

100,0

100,0

100,0

100,0

100,0

100,0

100,0

100,0

100,0

Total NE/BR

12,4

12,4

12,6

13,0

12,8

12,7

13,1

13,1

13,1

13,1

13,5

Fonte IBGE 2012

Elaboração: GEDH

 

Nesta tabela se pode ver que a Bahia contribuiu com 31,3 % do PIB do Nordeste brasileiro e com 13,5 % do PIB nacional. A evolução da participação da Bahia na composição do PIB Nordeste em 10 anos, de 12,4% em 1999 para 13,5% em 2009, demonstra que o Estado tem tido uma participação de destaque no cenário nacional.  É importante enfatizar ainda que a participação da Bahia é quase o dobro de importantes estados como Pernambuco e Ceará que apresentam taxas negativas se considerada a evolução de 1999 a 2009 (Pernambuco 18,8% em 1999 e 17,9% em 2009 e Ceará 15,6% em 1999 e 15,0 em 2009) o que confirma a importância estratégica da Bahia neste momento. Por fim, vale destacar os investimentos em infraestrutura e logística no estado como a construção de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.

 

3. NOVAS CADEIAS PRODUTIVAS EM CAMAÇARI E RMS

 

Todas essas vantagens comparativas fazem do município de Camaçari e RMS uma região estratégica para o desenvolvimento do setor industrial na Bahia. A BASF (BASF Chemical Company), empresa mundial líder do segmento de produtos químicos, por exemplo, vem para o estado da Bahia e para o Polo Industrial de Camaçari para atuar na cadeia do complexo ácido acrílico, produzindo os chamados Super Absorventes Polymer (SAP), que são poliacrilato de sódio reticulado feito de ácido acrílico parcialmente neutralizado, com capacidade para absorver até mil vezes seu próprio peso de água ou urina e são produzidos pela indústria na forma de granulares, estando disponíveis na forma de espuma ou fibras. Esses produtos são utilizados na produção industrial de produtos de higiene como fraldas descartáveis para bebês, produtos de higiene feminina, produtos de incontinência urinária, na agricultura ou na produção de Luquafleece (novo “superabsorvente” desenvolvido pela BASF que tem aplicações como palmilhas de calçados, estofados etc.).

 

No Brasil a empresa está atenta a um mercado interno com 192 milhões de consumidores, que cresce a uma taxa de 3% a 5% ao ano com uma tendência a ser a sétima economia mundial em 2050. Em relação aos “superabsorventes” a expectativa é um crescimento do mercado até 6% ao ano, com uma população infantil de 8,9 milhões, cerca de 3,6 milhões de partos em 2010, 2,8% dos nascimentos globais, o que representa um mercado potencial de 16,3 bilhões de unidades no mercado de fraldas. No Brasil a penetração da BASF em 2010 foi de 61% do mercado de fraldas e 51% do mercado de cuidados femininos e a construção dessa nova planta na Bahia deve reforçar essa posição (BASF, 2012).

 

Ainda sobre o projeto da BASF, segundo os dirigentes da empresa, a implantação dessa unidade na Bahia e em Camaçari tem como vantagens os incentivos fiscais obtidos junto ao governo do estado da Bahia; a disponibilidade de matéria prima por longo prazo proveniente da BRASKEN; a existência de uma unidade da BASF no Pólo Industrial de Camaçari; e o fato desse empreendimento ter uma importância estratégica para os investimentos da BASF em outras cadeias produtivas químicas no Brasil (BASF, 2012).

 

Camaçari e RMS, portanto, se apresentam como um lugar estratégico para implantação desses novos empreendimentos por ter uma vocação industrial, com a presença do Polo Industrial de Camaçari, mas também, com o pólo de apoio (formado por empresas e empreendedores locais) e o polo de serviços envolvendo turismo e comércio. Hoje o Polo Industrial de Camaçari conta com 90 (noventa) empresas, sendo 40 (quarenta) químicas e petroquímicas, 27 (vinte e sete) parceiras no complexo Ford e 33 (trinta e três) em outros segmentos como celulose, têxtil, metalurgia do cobre, borracha/pneus, fertilizantes, energia eólica, bebidas e serviços. Esses empreendimentos representam um novo investimento de US$ 6,5 bilhões no Pólo Industrial de Camaçari, que já detém uma marca de US$ 16 bilhões de investimentos, com US$ 16 bilhões de faturamento, responsável por 30% das exportações do estado, a geração de um bilhão de reais em impostos (ICMS) e 20% do PIB do estado. A tabela 02 apresenta novas empresas e investimentos para o Polo Industrial de Camaçari para os próximos 08 anos registrados pelo COFIC no Seminário dos dias 13 e 14 de março do corrente ano.

 

 

TABELA 02 - Novos empreendimentos no Pólo Industrial de Camaçari para os próximos 08 anos

Empresa

Investimento

Operação/Previsão

Jac Motors

900 milhões

Implantação

Gamesa

50 milhões

Operando

Alstom

50 milhões

Operando

Boticário

355 milhões

Em definição

Ford Motores

400 milhões

Implantação

BASF

1,3 bilhão

Implantação

Kimberly-Clark

100 milhões

Implantação

Wacker

150 milhões

Implantação

Valores em Reais

Fonte: COFIC/Seminário Fórum Camaçari/Pólo e Oportunidades 14.03.2012

Elaboração GEDH

 

Como pode ser visto na tabela 02 o Polo Industrial de Camaçari passa por um processo de ampliação e diversificação com o aproveitamento de novas cadeias produtivas, a exemplo da cadeia do ácido acrílico, e a consolidação do complexo metal mecânico com a Ford Motores e a Jac Motors, somando um total de investimentos de mais de 3 bilhões de reais nos próximos 08 (oito) anos. Todos esses investimentos, sem a menor dúvida, trazem um significativo impacto econômico e social para RMS que vai demandar profissionais e empreendedores qualificados. Essa demanda é um desafio para a política de educação superior e profissionalizante em nosso estado.

 

4. PERFIL DA MAO DE OBRA DO PÓLO DE CAMAÇARI

 

Analisando o perfil da mão de obra no Pólo Industrial de Camaçari em 2011, o COFIC levantou um perfil com 45.000 empregos gerados, sendo 15.000 empregos diretos e 30.000 empregos indiretos. Dos empregos diretos 66% estão no pólo automotivo e 34% nos demais segmentos. Com relação ao setor de trabalho, no caso do pólo automotivo 80% dos trabalhadores estão no setor de operação/manutenção e 20% em outros setores. Nos demais segmentos, 60% trabalha na operação/manutenção e 40% em outros setores. Do ponto de vista da idade, os trabalhadores que têm acesso a esses postos de trabalhos ficam entre 22 a 25 anos e no que diz respeito à escolaridade, no setor automotivo, 20% tem nível superior e 80% tem nível médio ou técnico. Nos demais setores 30% têm nível superior, 60% nível técnico ou médio e 10% cursaram o ensino médio ou fundamental incompleto. A tabela 03 mostra pesquisa realizada pelo COFIC/SESI sobre escolaridade dos trabalhadores no Pólo em Camaçari.

 

 

TABELA 03 – Escolaridade Trabalhadores Pólo Industrial de Camaçari

Escolaridade

Percentual

01

Analfabeto

2,01

02

Fundamental incompleto

11.41

03

Fundamental completo

5,70

04

Médio incompleto

14,77

05

Médio Completo

55,70

06

Superior incompleto

5,70

07

Superior completo

3,02

08

Sem informação

1,69

Fonte: COFIC/SESI pesquisa direta 2011

Organização: GEDH

 

Analisando esta tabela verificamos que a maioria dos trabalhadores no Polo Industrial de Camaçari tem nível técnico ou médio e não têm nível superior 55,70%. Existem poucos trabalhadores com nível superior 3,02% o que demonstra que as atividades de P&D não são realizadas nas unidades de Camaçari.  As formações mais desejadas hoje pelas empresas são: a) de nível superior, engenharia química, engenharia mecânica, engenharia de produção, engenharia elétrica; b) de nível técnico e médio: mecânica, elétrica, química, mecatrônica, analise química, automação e operação de processo.  A tabela 04 apresenta o percentual de homens e mulheres que atuam no pólo.

 

TABELA 04 – Percentual de homens e mulheres que trabalham no Pólo Industrial de Camaçari

Homens

77%

Mulheres

23%

Fonte: COFIC/2012

Organização: GEDH

 

No que diz respeito aos critérios de gênero, esse número revela que as profissões técnicas ainda são dominadas pelo universo masculino e que é preciso se investir para a formação de profissionais também do sexo feminino. Em relação à necessidade de mão de obra, O COFIC projeta para os próximos 05 anos, considerando a capacidade instalada, a necessidade de 5.000 (cinco mil) novos postos de trabalhos, sendo 80% de nível técnico e 20% de nível superior para atender as necessidades das empresas em operação, seja para reposição de aposentadorias, seja para atender ao processo natural de demissões e admissões em uma organização (turnover). A tabela 05 apresenta as principais demandas do pólo em relação à formação de mão de obra para os próximos cinco anos.

 

Entre as propostas apresentadas pelo COFIC em relação à formação de mão de obra para a indústria na Bahia está a ampliação das vagas nas universidades, principalmente, para os cursos de engenharia; ampliação dos cursos profissionalizantes, aumento das vagas de estágio nas empresas; melhorar a relação das instituições de ensino com as empresas; despertar nos jovens o interesse pela carreira profissional, incluir a disciplina empreendedorismo e inovação desde as séries iniciais ao ensino superior; qualificar portadores de necessidades especiais para atuar no setor da indústria; melhorar os indicadores da educação básica e articular com a formação profissional requerida pela indústria.

A TABELA 05 – Demandas do Pólo Industrial de Camaçari em relação à formação de mão de obra em Camaçari apresentadas pelo COFIC em 2012

 

  1. Ampliar a oferta de cursos superiores, principalmente em cursos de engenharia.
  2. Ampliar a oferta de cursos profissionalizantes em mecânica, química, elétrica, mecatrônica, eletromecânica, analise química, automação e operação de processos.
  3. Fortalecer o ensino médio e fundamental de qualidade.
  4. Estimular o empreendedorismo em todos os níveis de ensino.
  5. Despertar o interesse dos jovens pelas carreiras técnicas.
  6. Estreitar/intensificar a interface entre as empresas e as instituições de ensino superior e profissionalizantes para facilitar o aprimoramento e adequação dos currículos dos cursos às necessidades da indústria.
  7. Estágio nas empresas.
  8. Ampliar/Intensificar a formação de caldeiros, mecânicos, instrumentistas, eletricistas  e soldadores, visando atender as necessidades de mão-de-obra qualificada para manutenção industrial. (Comissão de Emprego e Renda, outras alternativas).
  9. Contemplar a qualificação de deficientes, inclusive para atender necessidades legais das empresas em geral.

10.  Sistematizar/consolidar propostas dos diversos parceiros, voltadas para os objetivos de formação e qualificação de mão-de-obra, identificando abordagens em comum e pontos de sinergia que resultem em maior eficácia e efetividade das ações.

 

Fonte: COFIC 2012

Organização: GEDH

 

A Tabela 06 demonstra a tendência de geração de novos empregos nos próximos anos no Polo Industrial de Camaçari e Região, sejam eles diretos e indiretos. A Jac Motors lidera esse indicador com a geração de 3.500 empregos diretos e 10.000 empregos indiretos, seguida do Boticário que projeta empregar de 500 pessoas diretamente e 100 pessoas indiretamente. A Kimberley-Clarck participa com a criação de 430 empregos diretos e 1.300 empregos indiretos, a BASF prevê a criação de 200 empregos diretos e 600 empregos indiretos. A Alstom, com a produção de aerogeradores, prevê a geração de 150 empregos diretos e 500 empregos indiretos, sendo 90% da mão de obra do próprio estado. Já a Gamesa, também do segmento de aerogeradores, prevê a contratação de 100 profissionais diretamente e 200 indiretamente.

 

TABELA  06 – Geração de novos empregos nos próximos cinco anos no Pólo Industrial de Camaçari

Empresas

Empregos Diretos (Prev.)

Empregos Indiretos (Prev.)

Jac Motors

3.500

10.000

Gamesa

100

200

Alstom

150

500

Boticário

500

100

Basf

200

600

Kimberly-Clark

430

1.300

TOTAL

4.880

12.700

Fonte COFIC

Organização GEDH

 

A projeção do número de novos empregos criados para os próximos cinco anos, considerando as necessidades já existentes (aposentadorias e turnover), somada as novas vagas das empresas em fase de implantação pode ser lida na tabela 07. Essa tabela apresenta um total de 16.700 empregos no Polo Industrial.

 

 

TABELA 07 – Postos de trabalhos nos próximos 05 anos no Pólo Industrial de Camaçari (novos postos, aposentadorias e turnover)

 

 

Empresas

Empregos Diretos (Prev.)

Empregos Indiretos (Prev.)

Jac Motors

3.500

10.000

Gamesa

100

200

Alstom

150

500

Boticário

500

100

Basf

200

600

Kimberly-Clark

430

1.300

Aposentadorias, turnover

1.000

4.000

TOTAL

5.880

16.700

Fonte COFIC 2012-04-08

Organização GEDH

 

Com vimos, a implantação de novos empreendimentos econômicos no Pólo Industrial, favorece a criação de milhares de novos empregos qualificados diretos e indiretos e oportunidade para empreendedores locais.

 

5. QUALIFICAÇÃO DE FORNECEDORES

 

As discussões no Fórum Camaçari/Pólo de Oportunidades mostraram que além da necessidade de formação de mão de obra qualificada, o setor industrial da RMS está a demandar fornecedores qualificados. Por qualificação de fornecedores entende-se o processo de capacitação, consultoria e certificação de empresários para prestar serviços à indústria, principalmente, nas áreas de segurança e saúde no trabalho, meio ambiente, responsabilidade social e empresarial, gestão estratégica, gestão comercial, gestão financeira, produção e manutenção. Esse processo é realizado como medida para auxiliar pequenos e médios empreendedores a se adaptarem as exigências de seus compradores, que são os consumidores finais de seu produto. No processo de qualificação de fornecedores são discutidas exigências da legislação nacional e internacional em vigor; a utilização de padrões internacionais de segurança e/ou qualidade dos serviços; a entrega de matérias primas dentro dos prazos e no padrão exigido pelo comprador; a melhoria contínua da qualidade dos produtos e redução de custos etc.

 

Durante o Fórum foi debatida a idéia de que o esforço pela qualificação de fornecedores deve atingir, principalmente, o pequeno e médio empreendedor local domiciliado em Camaçari e RMS que deve estar apto a prestar serviços às novas empresas em instalação que, por sua vez, obedecem a rigorosos padrões de qualidade internacional. Nesse aspecto o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), o SENAI, o SESI e o SEBRAE têm uma grande experiência, com programas e atividades já consolidados, mas abre-se ai também um campo para outras instituições de ensino, principalmente, universidades e faculdades presentes na região.

6. CIDADE TÉCNICO UNIVERSITÁRIA (CTU) EM CAMAÇARI

Dentre as propostas para enfrentar o desafio de formação de mão de obra e qualificação de fornecedores para as empresas instaladas em Camaçari e RMS o projeto da Cidade Técnico Universitária (CTU) em Camaçari teve um destaque maior. Apontado como o principal projeto municipal para atender a demanda por formação de mão de obra e qualificação de fornecedores, o projeto da CTU prevê a reunião em uma área de 200 mil metros quadrados de um complexo de instituições de ensino superior voltadas para a formação de nível técnico- profissional e superior, consolidando o município não só como um pólo industrial, mas como um pólo educacional e cultural no estado.

 

O projeto da CTU teve início com a instalação do Instituto Federal da Bahia (IFIBA) em uma área de 30 mil metros quadrados já em funcionamento. Criado pela Portaria 937/2007 o IFIBA atende a população de Camaçari com os cursos regulares de eletrotécnica e informática e projetos especiais como o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico emprego (PRONATEC), que tem como objetivo principal expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) para a população brasileira.

 

As próximas unidades que devem ser construídas são o Campus novo da UNEB em Camaçari, também em uma área de 30 mil metros quadrados, e a unidade do SENAI com investimentos da ordem de 18 milhões de reais, ampliando a oferta de cursos técnicos e superiores em Camaçari. A Universidade Federal da Bahia (UFBA) também participará do projeto da CTU com uma unidade instalada em uma área de 200 mil metros quadrados. Esse projeto da UFBA servirá como embrião para uma nova universidade federal na RMS, ainda participarão da CTU instituições de ensino superior (IES) privadas através de negociação com a Prefeitura Municipal de Camaçari (PMC).   A implantação da CTU em Camaçari favorecerá não só a ampliação da oferta de vagas em cursos técnicos e de nível superior, bem como, proporcionará a instalação de núcleos de pesquisa, desenvolvimento e inovação.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O município de Camaçari e RMS vem experimentando um novo ciclo de desenvolvimento, marcado pela instalação de novos empreendimentos e pelo desenvolvimento de novas cadeias produtivas, que diversificam e consolidam a posição do Polo Industrial de Camaçari no cenário mundial. Esse desenvolvimento beneficia não só o Polo de Camaçari, mas, também o polo de apoio e o polo de serviços presentes em todo o território metropolitano, ampliando assim as oportunidades de negócios.

 

Com essas novas unidades as empresas buscam acessar mercados emergentes, ampliando sua participação no Brasil e no mundo. Além disso, esses empreendimentos contam com as chamadas “vantagens comparativas” como estabilidade política, subsídios do governo, disponibilidade de matéria prima e investimentos em infraestrutura e logística como a ampliação de rodovias, portos e aeroportos.

 

O maior problema, todavia, reside na (in) disponibilidade de mão de obra e fornecedores qualificados para atender a demanda das novas empresas, pelo menos essa é a conclusão do seminário realizado em 13 e 14 de março. As empresas acenam com a geração de mais de 12 mil empregos entre diretos e indiretos, mas esperam que o governo e as instituições de ensino possam formar esses profissionais e entregar as indústrias. Em que pese os esforços dos dirigentes e os resultados apresentados pela educação nos últimos anos, ainda há muito que ser feito, e esse desafio só poderá ser superado com o esforço conjunto de todos os atores preocupados com essa questão.

 

A articulação realizada através do Fórum Camaçari, Pólo de Oportunidades é uma prova de que esse desafio deve ser assumido de forma conjunta por todos os atores: universidades, centros de pesquisa, empresas, instituições de ensino e governo, constituindo uma rede de formadores, capaz de captar investimento, compartilhar responsabilidades no processo de formação e propor medidas para fortalecer o desenvolvimento econômico e social da RMS (ROCHA, 2009).

 

Nesse sentido a articulação criada com o Fórum Camaçari, Pólo de Oportunidades,  não deve ser abandonada, ao contrário, deve ser tornada permanente já que a PMC e o COFIC têm toda a legitimidade para liderar esse processo. Um plano de ação deve também ser construído, de forma participativa e integrada, evitando-se sobreposições e desperdício de capital financeiro e humano. As parcerias permitirão ainda troca de experiências, utilização conjunta de recursos, captação de fundos junto às instituições de fomento a pesquisa e formação e certificação profissional dos trabalhadores da região.

 

Por outro lado, no que diz respeito a implantação de cursos de engenharia, a perda do interesse dos jovens pelas carreiras técnicas e engenharias é um problema mundial que só pode ser resolvido com a popularização das ciências. Dados recentes do CNPq e CAPES revelam que se o Brasil não ampliar rapidamente o número de jovens engenheiros formados, o desenvolvimento do país poderá ser afetado. Por este motivo, realizar atividades com as crianças e jovens são medidas que podem ser tomadas para despertar o interesse desses brasileiros pela ciência, tecnologia e inovação, bem como a ampliação de vagas e cursos de engenharia no estado podem favorecer a retomada do interesse por essa questão.

 

O Museu de Ciência e Tecnologia de Camaçari, a Cidade do Saber, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CEPED) da UNEB podem também colaborar nesse esforço já que dispõe de equipamentos necessários a formação desses jovens trabalhadores.

 

A política de ciência, tecnologia e inovação precisa ser revista levando em consideração essas questões é preciso superar os bloqueios e aproximar a indústria da academia para a realização de projetos de pesquisa e desenvolvimento. Para tanto é importante que o marco legal mude para que essa parceria seja regulada, não só pela legislação nacional e estadual, mas pelas resoluções internas das universidades e faculdades.

 

Referências Bibliográficas

 

 

  1. BAHIA OPORTUNIDADES. Informativo da Secretaria de Indústria, Comércio e Mineração do Governo da Bahia. Janeiro Fevereiro de 2012. Salvador, 2012.

  1. BASF Chenical Company. Apresentação no Fórum Camaçari, Pólo de Oportunidades, Camaçari, 2012.

 

  1. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Disponível em http://www.bcb.gov.br acesso em 04.03.2012.

 

  1. COFIC, Comitê de Fomento Industrial de Camaçari. Apresentação no Fórum Camaçari, Pólo de Oportunidades, Camaçari, 2012.

 

  1. DIEESE. Anuário da educação profissional da Bahia. / Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. – Salvador: DIEESE, 2010.

 

  1. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em http://www.ibge.gov.br acesso em 04.03.2012.

 

  1. PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMAÇARI. Disponível em http://www.camacari.com.br acesso em 06.03.2012.

 

  1. RAUPP, Marco Antonio. Sob nova direção. Conhecimento & Desenvolvimento: Informativo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Brasília, fevereiro de 2012, entrevista concedida à Brunna Guimarães.

 

  1. ROCHA, José Cláudio. A Reinvenção Solidária e Participativa da Universidade. Salvador, EDUNEB, 2009.

 

10.  SEI. Secretaria de Estatística e Informação. Disponível em http://www.sei.gov.br acesso em 04.03.2012.

 


[1] José Cláudio Rocha é pesquisador e professor adjunto da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Pró-Reitor de pesquisa e ensino de pós-graduação da UNEB, advogado e economista formado pela UFBA, especialista em administração pública pela UEFS, pós-graduado em ética, capital social e desenvolvimento pelo INEAM/OEA, mestre e doutor em educação pela UFBA. Endereço profissional Rua Silveira Martins, 2555, Cabula, Salvador, Bahia, Brasil. Telefones 55 (71) 3117-2322, email Este endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo. .

[2] Gilberto Batista Santos é acadêmico do curso de direito do DCHT, Campus XIX, Camaçari e bolsista FAPESB de iniciação cientifica da Universidade do Estado da Bahia.

[3] John Dewey (Burlington, Vermont, 20 de Outubro de 1859 - 1 de Junho de 1952) - Filósofo e pedagogo norte-americano.

 
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