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Escrito por Wolmer Ricardo Tavares   
Qua, 25 de Julho de 2012 00:00

Conscientizar sim, porque não?

Em observação a algumas falas, podemos perceber professores afirmando que o verbo conscientizar não se aplica a uma pesquisa ou ao dia a dia do educador, pois a conscientização é algo intrínseco ao sujeito, envolve todo um parecer psicológico, fugindo a competência de um educador, o que pode ser reforçado pelas falas de Vieira[1] e Ximenes[2] (2008) ao esclarecer que é um termo gerador de algumas controvérsias e que ganhou notoriedade nos trabalhos do educador Paulo Freire.

Freire define conscientização da seguinte forma: “[...] tomar posse da realidade [...] é o olhar mais crítico possível da realidade, que a ‘des-vela’ para conhecê-la e para conhecer os mitos que enganam e que ajudam a manter a realidade da estrutura dominante” Freire (1980, p. 29) apud VIEIRA e XIMENES (2008, p. 24). Para os autores, a conscientização tratada por Freire é uma concepção mais política do que psicológica.

Apesar de tal afirmação, os autores vão além e nos esclarecem através das falas do psicólogo Martin Baró (1997, p. 16) sob perspectiva de transformação pessoal e social difundida por Freire que conscientização faz as pessoas assumirem “seu destino, que tomem as rédeas e sua vida, o que lhes exige superar a falsa consciência e atingir um saber crítico sobre si mesmas, sobre seu mundo e sobre sua inserção nesse mundo” apud XIMENES (2008, p. 27).

Para os autores, Martin-Baró (1997, p. 147) esclarece que conscientização “supõe uma mudança das pessoas no processo de mudar suas relações com o meio-ambiente e, sobretudo com os demais”, ou seja, uma educação norteadora implicará na conscientização do sujeito. Essa ideia pode ser corroborada com Giles (1983) quando este aduz que o ato de conscientizar deverá levar o educando a conciliar o pensar e o viver, o falar e o agir. Ainda o autor nos esclarece que todo processo educativo deverá levar à conscientização quanto ao significado real dessas situações vividas pelo educando.

É verdade que muitas das vezes trabalhamos com pessoas alienadas, e uma de nossas funções como educadores é justamente tirá-las desse estado alienado, pois este de acordo com Aranha (1996) leva o indivíduo a perda da consciência crítica, então sob a luz dessa fala, podemos perceber que nós educadores fomentamos e auxiliamos nossos educandos a uma consciência crítica o que o leva em algumas das vezes, a um protagonismo, o que pode ser corroborado por Giles (1983) quando este nos elucida que

O processo educativo deve levar o educando a tomar consciência dos seus interesses e dispô-lo a lutar em defesa dos mesmos. Seguindo esse trilho deixará de ser alienado e alienante, para se tornar força de mudança e de libertação do homem-objeto, que surgirá como homem-sujeito. (GILES, 1983, p. 105). Para o autor supracitado acima, quando a educação conscientiza o aluno, ela sacode-o a ponto de fazê-lo abandonar definitivamente toda a acomodação, de recusar radicalmente a estagnação econômica e social como também o analfabetismo, de lutar contra a marginalização do processo político e isso nos faz perceber que o termo conscientizar pode ser aplicado realmente ao educador.

De acordo com Delors (2001) temos na escola a função de uma educação para uma cidadania consciente e ativa, e essa consciência é trabalhada pelos educadores que lá estão, através de seus métodos de ensinos e seus exemplos como profissionais e como pessoas.

A conscientização é um fator humano muito defendida por Freire quando este aplica a técnica do diálogo com os educandos. Para Romão (2002) o processo de humanização só poderá ocorrer quando este for um processo comungado de conscientização e diálogo coletivo, fazendo com que as pessoas se completem na busca permanente da plenitude.

Freire (2003) alucida que conscientizar é abrir  caminho à expressão das insatisfações sociais, é perceber os componentes reais de uma situação de opressão, mas para que este conscientizar seja realmente desenvolvido em nossos educandos, cabe a nós educadores transformar o conhecimento passado por nós em um componente consciente, que será aquele mais facilmente codificável e entendido pelo educando.

Romão (2002) nos esclarece mais uma vez que o papel libertador e emancipador freiriano é o da substituição da curiosidade ingênua para a curiosidade epistemológica, da consciência intransitiva mágica pela consciência transitiva crítica.

Para Berger e Luckmann (1985) a consciência é sempre intencional, sempre tende para algo ou alguma coisa e Rodrigues (1994) nos aduz é no campo da consciência que o mundo se faz ou se desfaz.

Por isso podemos mais uma vez perceber que nós educadores conscientizaremos nossos educandos quando estes tiverem anseio de profundidade na análise de problemas e não se satisfazerem apenas com as aparências; reconhecerem que a realidade é mutável e que podem ser o agente transformador dessa realidade; substituírem situações ou explicações mágicas por princípios autênticos de causalidade; depararem-se com um fato fazendo o possível para se livrarem dos preconceitos; repelirem posições quietistas e intensamente inquietas, pois tornar-se-ão mais críticos quanto mais reconhecerem em sua quietude a inquietude e vice-versa; se tornarem indagadores, investigadores; nutrirem de um diálogo, e não repelirem o velho por ser velho e nem aceitarem o novo por ser novo, apenas aceitá-los na medida em que forem válidos (FREIRE, 1979).

Conscientizar nossos educandos, é fazer com que eles e nós mesmos percebamos de acordo com a fala de Morin (2002, p. 86)  “a consciência do caráter incerto do ato cognitivo”, pois essa consciência nos dará a oportunidade de desenvolvermos um conhecimento pertinente a nossa realidade, fazendo com que a mesma possa ser mudada, fazendo-nos deixar de lado a alienação, o nosso lado néscio que favorece uma manipulação desse sistema corrupto e corruptor e nos levando a uma criticidade consciente e protagonista.

Para Vieira e Ximenes (2008) Góis (2005) esclarece quanto as concepções de consciência entre Vigostski e Freire não existir uma oposição, mas uma complementação e adequação quanto ao desenvolvimento sócio-econômico e da educação.

Referências

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda.  Filosofia da Educação. 2 ed. São Paulo: Moderna, 1996.

BERGER, Peter L., LUCKMANN, Thomas. A Construção Social da Realidade Petrópolis: Vozes 1985

DELORS, Jacques.  Educação: Um Tesouro a Descobrir. 6 ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2001, “Relatório para UNESCO da Comissão Internacional Sobre Educação para o Século XXI”.  p. 1 a 117

FREIRE, Paulo.  Educação como Prática da Liberdade. 27 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003

FREIRE, Paulo.  Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979

GILES, Thomas Ransom.  Filosofia da Educação.. São Paulo: EPU, 1983.

MORIN, Edgar, José Eustáquio.  Pedagogia Dialógica.. 5 ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2002.

RODRIGUES, Carla: Ética e Cidadania. São Paulo, Moderna, 1994 (Herbert de Souza)

ROMÃO, José Eustáquio.  Pedagogia Dialógica.. São Paulo: Cortez editora, 2002.

Spender, J.-C. (1996). ‘Competitive Advantage from Tacit Knowledge? Unpacking the Concept and its Strategic Implications’. In Moingeon, B. and Edmondson, A. (Eds.) Organizational Learning and Competitive Advantage. London: SAGE.

TAVARES, Wolmer Ricardo. Do sujeito néscio ao sujeito cognoscente. A Revista Gestão Universitária - Edição 301

TAVARES, Wolmer Ricardo. Caixa de Pandora: por uma educação ativa. São Paulo: Ícone 2010.

TAVARES, Wolmer Ricardo. Gestão Pedagógica: Gerindo Escolas para Cidadania Crítica. Rio de Janeiro: WAK  2009.

VIEIRA, Emanuel Meireles, XIMENES, Verônica Morais. Conscientização: Em que interessa este conceito à psicologia. Psicol. Argum. 2008 jan./mar., 26(52), 23-33


 

[1] VIEIRA, Emanuel MeirelesPsicólogo, mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) – Este endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo.

[2] XIMENES, Verônica MoraisDoutora em Psicologia pela Universidade de Barcelona, professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceara(UFC) e do mestrado em Psicologia da mesma Universidade e coordenadora do Núcleo de Psicologia Comunitária da UFC Este endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo.

 
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