O presente trabalho é fruto do projeto de elaboração do trabalho de conclusão de curso; adaptado para publicação. Tendo como tema: A Constituição dos Detentores do Saber Educativo: formas históricas. Buscou-se desta forma, estabelecer e sistematizar uma classificação dos grupos docentes que predominaram em cada momento histórico, investigando suas características, origem e função.
Tal pesquisa surgiu de paulatinas reflexões acerca do trabalho docente em nossos dias; pois, na área da educação há uma extensa produção acadêmica e nestas, existem inúmeros autores, que atribuem a esta profissão as seguintes características: intensificação, precarização, desvalorização; simplificação, etc. Alves (2005); Lancillotti (2008), Oliveira (2004). No entanto, há também pesquisas sugerindo que este grupo (atual) seja reflexivo, competente e “pesquisador” Pimenta e Ghedin (2008); Desta incongruência, constatada (em nossos dias) surgiu à seguinte pergunta: Quem foram os grupos considerados Detentores do Saber Educativo na história da educação?
O objetivo desta pesquisa foi investigar, a partir de textos clássicos da educação, quais foram os grupos concebidos como “detentores do saber educativo” em cada época específica da humanidade. Buscando identificar suas características e funções, elaborando, posteriormente, uma classificação desses grupos, tendo como ponto de partida a Antiguidade e culminando no cenário educacional brasileiro.
Os resultados desta investigação são reveladores. Primeiramente, entende-se por detentores do saber, aqueles grupos que, “em vários períodos da história, propuseram novos modos de conceber a natureza e de interagir com ela. Portanto, produziram, conservaram e propagaram o saber” (GINGRAS, KEATING, LIMOGES, 2007, p. VIII); Os períodos da História foram delimitados da seguinte forma: Primórdios I (sem escrita), Primórdios II (surgimento da escrita), Antiguidade (Greco-romana), Idade Média (baixa, alta), Idade Moderna e Idade Contemporânea; Essa classificação possibilitou-nos, parcialmente, classificar estes grupos assim: ágrafos-bardos, escribas, filósofos, sofistas e retóricos, clérigos e retóricos, enciclopedistas e mestres-escola (sacerdotes), jesuítas e cientistas, por fim, o docente-pesquisador (CAMBI, 1999; GILES, 1987; JAEGER, 2001; LARROYO, 1974; LUZURIAGA, 1990; MANACORDA, 2000; MARROU, 1975, NUNES, 1990; PIMENTA, GHEDIN, 2008;).
Constatou-se, a partir desta classificação, que desde os Primórdios até a Idade Moderna, isto é, do ágrafo-bardo ao mestre-escola clerical, estes diferentes grupos responsáveis pela detenção do saber, caracterizavam-se por pertencerem a um grupo sacerdotal, sacralizado e política. Entretanto, alguns fenômenos contribuíram para a dissolução destas características, a saber: o surgimento do manual didático, o movimento de secularização da educação acarretando na admissão em massa de sujeitos para o exercício desta atividade (trabalho) docente, o advento da Revolução Industrial e com ela as descoberta de novas áreas da ciência. (ALVES, 2005; HOBSBAWN, 1982,1988; LANCELLOTI, 2008; LE GOFF, 1984,1989).
Tendo em vista, uma melhor compreensão acerca dessas disparidades, considera-se imperativo estabelecer mais discussões sobre os movimentos históricos que perpassam os processos de constituição desta atividade no transcorrer da história humana.
Bibliografia: ALVES, G. L. - O Trabalho Didático na Escola Moderna: formas históricas. Campinas: Autores Associados, 2005. A Produção da Escola Pública Contemporânea. Campinas: Autores Associados, Campo Grande: UFMS, 2006. CAMBI, F. História da Pedagogia. São Paulo: Ed. UNESP, 1999. GIL, A. C. Métodos e Técnicas em Pesquisa Social. 6ª Ed.; 2ª Reimpr. SP: Ed. Atlas, 2009. GILES, T. R. História da Educação. SP: Ed. EPU, 1987. GRINGAS, Y. KEATING, P. LIMOGES, C. – Do escriba ao sábio: os detentores do saber da Antiguidade à Revolução Industrial. Trad. Para língua portuguesa de Ângelo dos Santos Pereira. Ed. Porto, 2007. HOBSBAWN, E. J. A era das revoluções: Europa 1789-1848; trad. de Maria Tereza Lopes Teixeira e Marcos Penchel. 4ª Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982. A era do capital: 1848-1875. Trad. Luciano Costa Neto. 5ª Ed. Revista; Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1996. JAEGER, W. – PAIDÉIA: formação do homem grego. Trad. Artur M. Parreira (adaptação do texto para a edição brasileira Monica Stahel; revisão do texto grego Gilson César Cardoso de Souza). 4ª Ed. SP: Martins Fontes, 2001. LANCELLOTI, S. S. P. A Constituição Histórica do Trabalho Docente. Unicamp-SP. Campinas, SP: [s. n.], 2008. (Orientador: Jose Luiz Sanfelice, tese de doutorado- Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação). LARROYO, F. História Geral da Pedagogia. Trad. de Luiz Aparecido Caruso; rev. de Selma Cury; 12ª Ed. SP; Ed. Mestre Jou; 1974. LE GOFF, J. Os intelectuais na Idade Média. Trad. Maria Lucia Goldwasser. 2ª Ed.; editora brasiliense, 1989. A civilização do ocidente medieval. Ed. Estampa; Lisboa, 1984. LUZURIAGA, L. História da Educação e da Pedagogia. Tradução de Luiz Damasco Penna e J. B. Damasco Penna; 18ª ed. SP; Ed. Nacional, vol. 59; 1990. MANACORDA, M. A. História da Educação: da Antiguidade aos nossos dias. 8.ed. São Paulo: Cortez, 2000. MARROU, H. I. História da educação na antiguidade. Trad. Mário Leônidas Casanova. SP: EPU, Brasília, INL, 4ª reimpressão, 1975. NUNES, R. A. da C. – História da educação no renascimento. SP – EPU- Ed. Universidade de São Paulo, 1980 História da educação na idade média. SP - EPU- Ed. Universidade de São Paulo. 1980. OLIVEIRA, Dalila Andrade. A reestruturação do trabalho docente: precarização e flexibilização. Revista Educação & Sociedade, vol. 25, nº 89, Campinas set/dez, 2004. Disponível em:< http://www.scielo.com.br>. Acessado em: 28 de abril de 2009. PIMENTA, S. G. e GHEDIN, E. (orgs.) – O professor reflexivo no Brasil: gênese e critica de um conceito. SP: Cortez, 2008. SANTONI RUGIU, A. Nostalgia do Mestre artesão; trad. Maria de Lourdes Menon. Campinas –SP: Autores Associados, 1998. SAVIANI, D. A Função Docente e a Produção do Conhecimento. v. 11 n. 21/22, p. 127-140, jan./dez., 1997. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/889/806. Acessado em: 24/Junho/2009.
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