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Formação Docente e Profissional do Professor PDF Imprimir E-mail
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Qua, 20 de Abril de 2005 21:00

Introdução
Ser professor não é nunca foi e talvez nunca será fácil. Por muito tempo era esperado de quem trabalhava como professor, que fosse alguém inspirador, cheio de virtudes, uma pessoa que merecia o respeito de todos. Atualmente, além de se exigir que o professor transmita e ensine conhecimentos técnicos, espera-se que ele seja capaz de mudar comportamentos e atitudes dos alunos . Outra coisa interessante a respeito de ser professor pode ser sentida pelo dito popular "Você dá aulas, mas e o trabalho! Você não trabalha? Teria Freud, razão ao dizer ser a profissão de professor, uma profissão impossível?

Em filmes como "Professor - Profissão Perigo", "Adorável Professor" e "Nenhum a Menos", observa-se em diversas cenas, situações que corroboram a dificuldade em ser professor. Muitos de nós, provavelmente lembram-se de diversos de seus professores: de alguns se lembra passagens interessantes, aulas formidáveis e de outros, passagens que sequer gostaríamos de lembrar.

Entretanto, conforme Imbernón a profissão docente precisa mudar sua concepção de mera transmissora de conhecimentos, para a educação de futuros cidadãos na nova sociedade. e a instituição além de ser o lugar onde se aprende o essencial deve passar a ser, também, uma manifestação de vida em toda sua complexidade. A educação, segundo reivindicação de amplos setores da sociedade precisa se aproximar mais dos aspectos éticos, coletivos, comunicativos comportamentais e emocionais. Dessa forma estará a serviço de uma educação democrática dos futuros cidadão.

Ser professor será uma profissão, um ofício, que se aprende como as demais, que tem um conjunto de práticas definidas tal como poderíamos observar em um marceneiro, um encanador, um motorista, um engenheiro, um analista de sistemas, um médico e tantos outros? Na maioria das profissões, o profissional produz, há um produto final, na maioria das vezes concreto que pode ajudar a aquilatar a qualidade do profissional. Mas, e do professor?

Para os que decidem atuar como professores no magistério infantil e no magistério das séries iniciais do ensino fundamental existem, embora em fase terminal, os chamados cursos "Normal", existem os cursos de Pedagogia e agora, os cursos intitulados "Normal Superior", a para de um movimento de grande fôlego, no sentido de dotar todos os professores das redes governamentais, de um título de graduação universitária. Entretanto e para os demais níveis de ensino? Especificamente para o professor universitário, como é ele formado, se é que ele é formado?

Mas, então, por que a educação vai mal? Por que quando os jovens chegam à universidade, seus professores dizem que eles são analfabetos funcionais? O que ocorre com a profissão de professor? Como deve ser um professor e como deve ele ser formado? Que dificuldades existem para o exercício da profissão? É uma profissão ou não? Qual a missão do professor?

Na vida social ou profissional, depara-se atualmente com exigências que ultrapassam os conhecimentos específicos de qualquer pessoa. Tais exigências demandam diversas competências, tais como saber expressar-se por meio da fala e da escrita, saber liderar grupos, relacionar-se, analisar, criticar e lidar com conflitos. E o professor, como é preparado para enfrentar este novo quadro, estas exigências da sociedade?

Ainda conforme Imbernón, as enormes mudanças nos meios de comunicação e na tecnologia da informação, na vida das organizações fazem com que a mera transmissão de conhecimento seja questionada. Por outro lado, a educação deixa de ser algo exclusivo de professores para ser uma tarefa de toda a sociedade.

Mas, o que é ser professor, o que este profissional precisa saber para exercer tal profissão, como executar as tarefas que lhe cabem? Quais deveriam ser as características de tais profissionais, o que deveriam eles saber fazer bem e como deveriam ser. Em outras palavras, quais as competências que um professor precisa ter?

A questão da Profissão
O termo profissão, de forma ampla, significa a "ocupação" ou o "emprego" que uma pessoa tem, mormente se considerarmos a influência anglo-saxônica, que o emprega, principalmente para denotar as profissões ditas liberais tais como "médico", "advogado" entre outras. Tais profissões apresentam certos atributos1 que se constituem em requisitos para as atividades profissionais que constituem a profissão e que incluem:

" um saber especializado que o profissional deve dominar e práticas específicas adquiridas na formação profissional,
" uma orientação de serviço - o profissional escolhe a profissão por motivos, normalmente, não pessoais mas altruísticos,
" um código deontológico que determina e regula o conjunto de deveres, obrigações, práticas e responsabilidades da profissão,
" associação profissional - com objetivo de manter e velar pela conduta de seus membros no que se refere aos padrões estabelecidos.

A profissão professor apresenta duas especificidades que nos parecem diferenciá-la das demais. A especificidade acadêmica que trata dos saberes e do saber fazer, que remete à transmissão, ao ensino de conhecimentos, técnicas e seu emprego. Por outro lado, há a especificidade pedagógica que nos remete às formas de ensinar, as metodologias e técnicas utilizadas no exercício da atividade profissional.

Nos escritos de Perrenoud, nota-se que no ensino básico, as competências pedagógicas são tidas como de maior valor em relação às acadêmicas, o que muda de posição quando o assunto é o ensino médio. Neste, as qualificações acadêmicas que são à base do prestígio do professor e de afirmação de sua autonomia o que cresce em importância quando se trata do ensino universitário. Neste, as qualificações pedagógicas são, simplesmente desprezadas e, também, na maioria dos casos, no nível da pós graduação. De forma geral, saber ou possuir um certo conhecimento formal era assumir a capacidade de ensiná-lo (Imbernón). Mas, além do conhecimento formal, acadêmico um profissional precisa de autonomia na tomada de decisão, na regulação das situações que se apresentam no exercício profissional. Tal autonomia é, atualmente mais necessária. O contexto atual da educação exige do professor adequação metodológica ao contexto, a visão de um ensino não técnico apenas, mas de um conhecimento em construção que traz em seu bojo comprometimento político, valores éticos e morais, o desenvolvimento da pessoa. Tudo isto nos remete à questão da aprendizagem, inclusive da aprendizagem da relação, da convivência, a cultura do contexto e da interação entre os componentes de um grupo - "professor-professor, professor-aluno, aluno-professor e aluno-aluno".

Na questão do exercício profissional, deve-se considerar, também outros aspectos tais como as instituições de ensino, as políticas públicas, a remuneração, as origens e oportunidades anteriores que os estudante tiveram, a motivação dos alunos, a concentração de populações de risco nas regiões menos favorecidas, a diversificação cultural e étnica dos alunos, a heterogeneidade dos saberes escolares, a falta de participação da família no processo educativo, a renovação rápida dos saberes que além de desorganizar os conteúdos exige formação permanente do docente, a escola paralela, constituída pelos meios de comunicação social e pela tecnologia da informação que formam e informam, a situação relativa ao emprego, a crise de valores sociais e de forma especial, a indisciplina escolar tratada por diversos autores, inclusive Aquino .

Será a profissionalização, a solução dos problemas educacionais, da qualidade do ensino nos diversos níveis de educação? Considerando a complexidade que se delineia para o exercício da profissão docente, uma formação adequada do docente, provavelmente não será garantia de sucesso profissional. O fracasso, segundo Perrenoud faz parte da profissão docente, mas o fracasso dos alunos é, também, de certa forma, o fracasso dos professores e do sistema educativo. Nas profissões liberais, técnicas, a competência não exclui nem o erro nem o sucesso, mas, ambos, teoricamente, são exceções. Entretanto nas profissões que trabalham com pessoas e cujo produto / resultado não pode ser preestabelecido, torna-se necessário aceitar como "inevitáveis" semifracassos ou mesmo, fracassos graves.

A profissão docente é complexa, sendo sua característica marcante, a incerteza e a ambigüidade. O professor depende, basicamente, de si próprio - ele á ator e observador da relação pedagógica. Ele pode, para contornar as incertezas e as necessidades, utilizar o conhecimento das boas práticas, mas, elas raramente são transferíveis para outros contextos. Assim, seria conveniente que, em grupo se desse o trabalho de formação, baseado nas reflexões de forma a que, num processo de construção e desconstrução se elabore a concepção do grupo sobre a profissão e as boas práticas, num contexto compartilhado que é a instituição, considerando as comunidades que dela participam e o que se acha no seu entorno.

O professor, na sua atividade profissional deve trabalhar para que o aluno desenvolva certas competências, mas, para isso ele precisa de outras competências. Segundo Machado vivemos uma volta às origens, quando na Grécia a educação visava à formação do cidadão e um aperfeiçoamento da mente. Segundo ele as ciências precisam servir às pessoas e a organização da escola deve visar, fundamentalmente, o desenvolvimento das competências pessoais, mas não teremos caracterizado um professor de competências.

Provavelmente, muitos dos que se dispuseram a ser professores, não se deram conta de ser esta uma profissão que se diferencia das demais. As situações enfrentadas no dia-a-dia têm características diferentes, o resultado final do trabalho talvez nem venha a ser conhecido, principalmente em função dos sistemas de avaliação ou dos processos que examinam os alunos e culminam com os processos seletivos às universidades.

Apesar das necessidades ou exigências atuais e da idéia de que disciplinas e competências disputam os mesmos espaços e tempos na escola e que se contrapõe, segundo Machado, uma dicotomia inadequada e descabida, a escola continuará sendo orientada pelas disciplinas na visão do desenvolvimento científico, os professores continuarão a lecionar disciplinas e não haverá um professor de competências. Estas serão desenvolvidas, acrescentamos nós, pelos mesmos professores. Aquele autor sugere uma revisão do papel do professor que atuará num cenário onde as idéias de conhecimentos e de valores estarão, de uma vez por todas, imbricadas e as competências serão desenvolvidas pela integração entre as disciplinas, pela contextualização.

A questão das Competências
Fala-se muito e neste texto já aludimos às competências que deve ter o professor. Fala-se também no ensino por competências. Entretanto, o que é competência? Como definir quais as que os professores precisam ter? Vejamos então, a conceituação com base em Perrenoud : "uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles" - Segundo este autor, para enfrentar uma situação da melhor forma possível, é necessário colocar em ação e em sinergia diversos recursos cognitivos que incluem conhecimentos, nossa experiência e nossa formação. É, podemos dizer, a capacidade que o indivíduo tem de resolver as situações problemáticas que surgem no exercício profissional. Apropriando-nos das idéias de Machado, podemos completar que as competências, pois as pessoas não têm uma apenas, são os potenciais desenvolvidos em contextos disciplinares significativos que permitirão a execução de ações específicas em um dado cenário, um determinado âmbito de atuação. Vê-se, portanto que competência é algo da pessoa numa determinada situação. Mas, acrescentam os autores referenciados, Perrenoud e Machado, a questão da mobilização: a competência implica em mobilizar saberes. Uma pessoa, numa dada situação ou âmbito, mobiliza saberes para estabelecer uma solução, um comportamento, etc.

"Uma competência está sempre associada a uma mobilização de saberes. Não é um conhecimento "acumulado", mas a virtualização de uma ação, a capacidade de recorrer ao que se sabe... incluindo as experiências pessoais - imanência da dimensão tácita do conhecimento - para realizar o que se deseja, o que se projeta.... " (Machado op. citada).

A escola é o lugar onde os professores trabalham para ensinar os alunos diversos conhecimentos e, também, conforme o ciclo, ajudar a formar a pessoa isto é desenvolver certas competências que vão desde as básicas tais como a capacidade de se expressarem diversas linguagens, a capacidade de argumentar, de compreender os fenômenos físicos naturais e sociais, enfrentar situações problemas por referência com os conceitos aprendidos nas disciplinas, capacidade de negociar significados, de projetar ações, de intervir na sociedade até as competências profissionais decorrentes da profissão escolhida. Como no mundo atual o desenvolvimento tecnológico é de uma velocidade singular, os conhecimentos científicos e práticos obtidos tornam-se obsoletos rapidamente e passado algum tempo, os conteúdos que não foram fixados por contextualização e uso se apagam da memória restando as competências que ajudaram a desenvolver. Verifica-se que muitas pessoas graduadas em faculdades, em certas especialidades terminam por desenvolver atividades em outras: aprendem os conhecimentos e as práticas num contexto específico. Entretanto, as competências foram desenvolvidas durante os tempos de banco escolar.

"... a formação escolar deve prover as pessoas de competências básicas, ... capacidade de expressão, de compreensão do que se lê, de interpretação de representações; ... de mobilização de esquemas de ação progressivamente mais complexos e significativos ... a capacidade de construção de mapas de relevância das informações disponíveis, para a tomada de decisões, a solução de problemas ... a capacidade de trabalhar em equipe e, sobretudo, a capacidade de projetar o novo, de criar em um cenário de problemas valores e circunstâncias no qual somos lançados e no qual devemos agir solidariamente" (Machado, in, Perrenoud, 2002).
Assim, nossos professores que trabalham para formar cidadãos profissionais competentes pelo ensino de conhecimentos específicos de disciplinas, deverão ajudar os estudantes a terem suas competências desenvolvidas precisarão ter as mesmas desenvolvidas e, além disso, diversas competências pedagógicas que lhes permita trabalhar, atingir sua missão no cenário complexo em que se dá a escolarização no Brasil, em todos os níveis.

"quais são as competências necessárias para que o professor assuma uma profissionalização na escola e tenha uma repercussão educativa e social de mudança e de transformação?" (Imbernón, 2000).
Competências profissionais decorrentes de dificuldades Aprender Permanentemente

Vivemos num ambiente tido como a nova economia, altamente marcada pela evolução da tecnologia da informação (uso de computadores) de forma que o que acontece num ponto qualquer do mundo é passível de conhecimento em todo o restante desse mesmo mundo, praticamente em tempo real.

As possibilidades oferecidas por tal tecnologia criam novos espaços de aprendizagem, Não aprendemos mais apenas na escola, mas, ao assistirmos um noticiário na TV, ao acessarmos a Internet, ao lermos um jornal, ao conversarmos com outras pessoas. A TV oferece, com acentuada freqüência, programas culturais que difundem o saber de modo mais eficaz que os livros escolares e que muitas escolas. O tempo todo estamos em condições de aprender, bastando que o queiramos... Aliado a isto, temos uma outra variável que também apresenta uma situação diferente para os professores. O conhecimento científico não é mais imutável. Novas pesquisas derrubam paradigmas estabelecidos há muitos anos. Novos conhecimentos surgem.

Isto posto, podemos dizer que o professor precisa desenvolver uma competência para aprender permanentemente. Estar sempre alerta, aprender em função de leituras, de reflexão, de cursos, de conversas, de modo a se manter atualizado sobre o que ocorre no mundo e nas suas disciplinas específicas. Isto se torna mais contundente se lembrarmos que, com o passar do tempo e devido às mudanças na sociedade decorrentes do progresso tecnológico, os empregos futuros serão os do tipo intelectual criativo (De Masi, 2000) .

Gestão da Sala de Aula: ambiente ensino-aprendizagem, instrução e comportamento
As mudanças tecnológicas, inclusive na agricultura, as mudanças econômicas, as de costumes e muitas outras impuseram o desemprego estrutural. Segundo De Masi (2000) em função da modernização o trabalho de execução decresce em progressão geométrica e o trabalho de tipo criativo cresce em progressão aritmética. Temos aí o caldo de cultura que favorece o êxodo rural, as migrações, na busca de condições de sobrevivência, em direção à metrópole que se faveliza e traz consigo a pobreza urbana com suas diversas conseqüências, entre elas a violência, a perda de valores sociais, a influência nefasta dos traficantes. Tudo isso favorece a indisciplina e a violência escolar que também deve parte de sua existência a fatores internos da própria escola: para muitos professores o aluno é visto, de forma geral, como um marginal, um indivíduo que não está a fim de coisa alguma, um garoto "capeta" o que produz matizes especiais no comportamento desses mesmos professores. - história de vida dos próprios indivíduos (professores e alunos); os estilos de liderança e gestão da escola, os currículos ocultos decorrentes de regras e paradigmas de gestão.

No sentido de enfrentar tal situação, o professor precisa desenvolver competências específicas relacionadas com a estruturação das tarefas acadêmica - preparação da aula, gestão da aula e avaliação do rendimento do estudante; a gestão das relações e do poder na aula - as regras na aula, o clima na aula, a atuação face aos problemas disciplinares e a ética da atuação pedagógica; o entendimento das particularidades e diversidades de alunos e de turmas - representações, perspectivas e expectativas que os professores elaboram sobre seus alunos e turmas, compreensão de seus problemas, valorização das histórias de vida; o reconhecimento do aluno como pessoa - auto-conscientização do professor pelo seu modo de estar na vida e pela sua prática pedagógica, ética da autonomia, solidariedade e respeito pelos projetos, saberes, aptidões, direitos dos alunos e os processos particulares de aprendizagem de cada um .

Suscitar o desejo de aprender
Freqüentemente, os estudantes se mostram apáticos em relação aos ensinamentos que o professor pretende proporcionar, resistem e não se esforçam para aprender e tão pouco se comprometem com as atividades extra-classe. O professor precisa então dispor de competência para incentivar os alunos, mobilizá-los e suscitar neles o desejo de aprender. É possível que a questão esteja em o professor dar significado aos conhecimentos e outros temas do aprendizado, isto é contextualizar o ensinamento considerando as necessidades dos alunos, suas origens, condições sociais e seus projetos pessoais. O professor precisa ajudar os alunos a darem sentido aos saberes e aos trabalhos escolares. Esta seria mais uma das competências necessárias ao professor.

Entender e agir em conformidade com a vida do aluno
Dependendo do ciclo de escolarização, podemos encontrar alunos que apresentam, como diz Perrenoud , vida dupla: são alunos na escola e trabalhadores/adultos, fora dela. Tal situação exigirá do professor competência específica para lidar com o estresse que acompanha tal situação, com a escassez de tempo para estudar e para as tarefas escolares.

Adaptação curricular
Por diversas razões, alguns alunos não apresentam, plenamente desenvolvidas, certas competências básicas, tidas como pré-requisitos, para acompanhar um programa preparado em função de padrões ou de considerações apenas teóricas. Assim, o professor precisará adaptar os programas de forma a criar condições de aprendizado e evitar o desânimo. Esta seria, também mais uma competência do docente profissional. A capacidade de regular suas ações em função da situação que se apresenta.

Competências gerais
Passado algum tempo após o estudante deixar a escola, seja ela de qual nível for, muito do conhecimento disciplinar, dos conteúdos é apagado da memória por não terem sido contextualizado (Machado, 2002), não se constituíram em significados ao longo da vida. O que resta então, são as competências desenvolvidas tacitamente por intermédio das disciplinas. Constata-se isso, conforme já colocamos anteriormente, pelo fato de muitas pessoas exercerem atividades em áreas diferentes daquelas em que se formaram. Considerando também a velocidade das transformações no quadro das ocupações é mais útil aprender a ler e interpretar manuais, aprender as lógicas fundamentais de certas tecnologias como a informática, por exemplo. Assim, o professor precisa desenvolver sua competência para, com ela, ajudar os alunos a desenvolverem as competências básicas como a capacidade de expressão, de compreensão do que se lê, interpretar representações e mobilizar esquemas cada vez mais complexos e significativos. Para tanto o professor precisará acatar a idéia de resgatar o conhecimento pulverizado pelas disciplinas estanques, buscando uma integração e os relacionamentos entre as disciplinas que é o que se chama de interdisciplinaridade, visto estar o conhecimento a serviço da inteligência e o foco disciplinar se deslocando para os projetos das pessoas.

Desenvolvimento da Cidadania
Verifica-se, em função de muitas condições, várias das quais já mencionadas anteriormente tais como situação familiar, favelização das cidades, situação econômica entre outras que as pessoas têm comportamentos que, na realidade, não se consideram comportamentos de pessoas cidadãs. Entre eles podemos citar, a guisa de exemplo, jogar lixo na rua, baixo interesse pelas ações dos políticos, desinteresse pelas causas coletivas. Neste sentido, o professor deverá ativar práticas que considerem valores e atitudes, conhecimentos e comportamentos e propiciar experiências diretas, vivências que permitam o desenvolvimento da responsabilidade social . Será necessário também, desenvolver atividades que favoreçam o desenvolvimento do sentido de fazer parte da sociedade como base para a participação no processo democrático e no bem público de modo a dignificar a qualidade da vida comunitária e evitar o conformismo., incentivar o gosto pela discussão de temas de interesse comunitário e a obtenção de consenso.

Além de desenvolver as competências acima referidas e outras que, sem dúvida também são necessárias, há algumas questões que precisam ser enfrentadas pelos próprios professores individualmente e em grupo e algumas ações que precisam que escola apóie. Vejamos então.
A profissão de professor encontra-se um tanto massificada, segundo Imbernón. Há muitas pessoas atuando como professor, nos diversos níveis de ensino. Muitas, cremos, lá estão por pura falta de oportunidade em outras áreas, outras em função de escolhas livres ou induzidas em tempos passados e, no ensino universitário encontramos muitos profissionais oriundos dos processos de enxugamento das empresas, cuidando da sobrevivência e o padrão que são profissionais que fazem bico para aumentar a renda mensal, para melhorar o status ou por outras razões. De um modo geral todos eles carecem de formação profissional. Os que atuam no ensino infantil e fundamental tiveram nos cursos de magistério ou pedagogia, alguma indicação e prática no assunto, mas, sabemos como são a maioria de tais cursos. No que tange ao docente universitário, nada lhe é exigido a não ser o diploma de graduação e em alguns casos aderência com a disciplina que lecionam.

Neste contexto, os professores precisam querer transformar a atividade em profissão, realmente e mudar de postura quanto à participação no processo de mudanças, inclusive para que o prestígio profissional possa ser resgatado. De forma genérica e principalmente em grupo, nas instituições em que trabalham e isto é um novo complicador visto que muitos professores trabalham em diversas instituições, precisam se ver e agir como profissionais, discutir os problemas e as soluções e inovar em práticas pedagógicas e formalizar uma deontologia para a profissão. Precisa ser um agente de mudanças e não apenas um executor de decisões tomadas por outros profissionais. Isto que aqui se disse refere-se às atitudes individuais.

Por seu turno, as instituições de ensino precisam, também, propiciar condições para que a transformação possa, ao menos iniciar

Para Imbernón, a escola precisa deixar de ser um lugar onde se aprende o básico e se reproduz o conhecimento dominante, para assumir que precisa ser, também, uma manifestação de vida em toda sua complexidade, em toda sua rede de relações e dispositivos com uma comunidade e, portanto, ensinar o mundo e todas as suas manifestações.

Cremos que a escola deve cuidar da formação de seus professores. Entretanto, ela precisa ter clara sua missão como instituição de ensino de forma a, por intermédio de alguns projetos, facilitar ou mediar a formação, de forma a dotar o professor de instrumentos intelectuais que possam auxiliar o conhecimento e interpretação das situações complexas com que se depara.

Não acreditamos em programas formais de treinamento. Preferimos o lançamento de alguns projetos que façam com que os professores se movimentem e se integrem de forma a, coletivamente, refletirem sobre os problemas as dificuldades e proponham soluções. Tais projetos devem envolver os alunos, pois assim cria-se um comprometimento e uma cobrança real. Nesses projetos poderiam, os professores, serem envolvidos em tarefas de formação comunitária para dar à educação escolarizada a dimensão de vínculo entre o saber intelectual e a realidade social, com a qual deve manter estreitas relações. Tais projetos não deveriam ser entregues aos professores, formatados. Deveriam ser mais que projetos, idéias alinhavadas, mas com a decisão de serem executados. Assim, a instituição, de certa forma se constituiria num espaço real para o exercício da profissão e não simplesmente para que aulas fossem ministradas e os professores seriam reconhecidos como agentes sociais, pessoas capazes de planejar e gerir o processo ensino/aprendizagem.


Notas 1. FONTES, Carlos. www.educar.no.sapo.pt/PROFS2
2. INBERNÓN, Francisco. Formação Docente e Profissional. São Paulo: Cortez, 2000.
3. AQUINO, Júlio Groppa (org.) Indisciplina na Escola - Alternativas Teóricas e Práticas. São Paulo: Summus, 1996.
4. PERRENOUD, P et alli. Formando Professores Profissionais. Porto Alegre: Artmed, 2001.
5. MACHADO, Nilson J. Sobre a Idéia de Competência in Perrenoud, P. e THURLER, Monica G. As Competências para Ensinar no Século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2002.
6. PERRENOUD, P. Construir as Competências Desde a Escola. Porto Alegre: Artmed, 1999.
7. De MASI, Domenico. O Ócio Criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.
8. AMADO, João. A Indisciplina e a Formação do Professor Competente. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa (www.educ.fc.ul.pt/recentes/mpfip/comunica.htm).
9. Ver também, SANTOS, Bianca. Gestão de Aula para Prevenção da Indisciplina: Que Competências? Q e Formação? Universidade de Lisboa (www.educ.fc.ul.pt/recentes/mpfip/comunica.htm).
10. PERRENOUD, Philippe e Thurler, Monica G. As Competências para ensinar no século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2002.
11. REIS, João. Professores para a cidadania - Elementos para um programa de formação. Universidade de Lisboa, 2001 (www.educ.fc.ul.pt/recentes/mpfip/comunica.htm).

 

Autor deste artigo: - participante desde Sáb, 04 de Maio de 2024.

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