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A sabedoria dos limites e dos desafios do professor sócio-interacionista no processo ensino aprendizagem |
Escrito por João Alfredo Carrara |
Qua, 13 de Abril de 2005 21:00 |
Aprender é tomar conhecimento de algo, retê-lo na memória, graças ao estudo, a observação e a experiência (FERREIRA, 1993) e a aprendizagem é fruto da construção daquilo que se aprende. Para que isso ocorra faz-se necessário pensar, julgar e argumentar, uma potencialidade que precisa ser desenvolvida nos nossos educandos. Algo que precisa ser retomado pelos educadores de todos os nÃveis do conhecimento - da educação infantil ao ensino superior, e por quê não, da pós-graduação, também? Pensando dessa forma não resta dúvida de que a construção do conhecimento é algo inerente ao ser humano, porém há de se pautar alguns pressupostos para que, de fato, observemos. Precisa-se buscar o novo, uma vez que para assimilá-lo exige esforço, força de vontade e despojamento do velho. É preciso lembrar de que a criança é um ser em construção que age sobre o mundo, que traz, vive e revive experiências a cada novo dia. É preciso aprender com elas... Um outro pressuposto importante está na assimilação do conhecimento e na ação do indivÃduo sobre o mundo. Sem ação não haveria pensamento, não haveria argumentação, nem tampouco julgamento. "É agindo no mundo, interagindo com o mundo, que se impõe aquilo que Piaget chamou de assimilação e acomodação das estruturas do pensamento" (GROSSI e BORDIN, 1993, p. 32). Os efeitos das ações que as crianças têm sobre o mundo fÃsico e as interações que mantêm é que impõem uma organização interna do pensamento, uma vez que a ação em pensamento não é outra coisa senão a ação refletida, interiorizada nas estruturas mentais. Por isso, somos chamados de indivÃduos (o indivisÃvel), singulares. Somos produtos do meio, co-estruturados pelas estruturas macro e micro-sociais, com expansão de autonomia e liberdade em cada um. Não se pode esquecer, também, do conflito, outro dado importante no mecanismo de construção do ser. Assim, a contradição é o tempero, o oxigênio das relações sociais, do potencial democrático; para Piaget é o alimento indispensável e necessário à construção do pensamento, da capacidade argumentativa e julgadora da criança. A ação do pensamento é a ação refletida, interiorizada nas estruturas mentais. Se ela não age, não se pode pensar, porque se não internalizada, interiorizada, não se concretiza o que se desejava aprender. Adentra-se, então, no mundo da contextualização. Sem ela não há aprendizado porque não se vivencia, não se trabalha na zona de desenvolvimento proximal proposta por Vygotsky. O aprendiz somente se apropriará dos valores e conteúdos éticos se estes forem apresentados de forma contextualizada, dentro de uma vivência histórica, cultural e da maneira como a sociedade os define. Em suma, só aprende aquilo que tem significado para ele. Se pensarmos nas razões para esse tipo de aprendizado chegaremos à conclusão de que nele está o sentido da vida como regra geral: ser feliz. Porque se de fato aprendemos, o fazemos para podermos viver bem, para podermos ser felizes. Acredita-se que o comportamento racional é que nos permite agirmos assim. Proceder de maneira racional, significa descobrir qual é o modo mais eficaz de sobreviver, não egoisticamente, mas de sobreviver com os outros e de sobreviver no mundo. "Sobreviver não somente com idéias, mas com relações éticas, de ligações com os outros, de investimento afetivo e emocional" (GROSSI e BORDIN, 1993, p. 38). Portanto, fica claro que o conhecimento é produzido na interação com o mundo. E o que os educadores fazem com toda essa teoria? É preciso que se explore as questões da aprendizagem para buscar novas tentativas de melhor colaborar com o processo de ensino-aprendizagem. Se por um lado a aprendizagem é construção, não se pode negar que ela precisa da técnica como instrumento, mas deve-se buscá-la na expressão polÃtica, pois "muito mais relevante do que dominar tecnicamente a natureza é saber que fazer da vida. Os fins trazem sentido aos meios e não o contrário" (DEMO, 2000, p. 9). Todavia, a aprendizagem é marcada profundamente pelo trabalho. Trabalhar os limites em nome dos desafios e os desafios dentro dos limites. É justamente este o paradigma: da passagem da inovação e da provisoriedade. A aprendizagem exige que se forme sujeitos crÃticos, conscientes da sua historicidade, éticos, repletos dos valores em que se aninha o processo de educação. Afastemo-nos, portanto, dos termos instrução, ensino, treinamento, não porque sejam procedimentos apenas técnicos, mas porque, por de trás da visão tecnicista, escondem interferência polÃtica prepotente, de poderio do maior sobre o menor, do dominante sobre o dominado, do ensinante sobre o ensinado, do professor sobre o aluno. Esse modo de agir não visa a autonomia do sujeito, pois querem a subalternidade. O processo ensino-aprendizagem mediado pelo educador é o exercÃcio da profunda competência do co-ensinar a desenhar o destino próprio, de favorecer a descoberta de um sujeito crÃtico e criativo, dentro das circunstâncias dadas e sempre com sentido solidário. Não se pode negar que é um grande desafio para todos os educadores. O que definirá esse desafio será a sua tessitura polÃtica, visualizada facilmente na necessidade de "inventar" cidadania capaz de mudar a história. O educador que age assim trabalha com inteligência as incertezas; promove uma nova realidade: propõe um caminhar lado a lado com seu aluno, com a autoridade daquele que já andou um caminho mais longo, mediando a vontade de caminhar daqueles que querem aprender com o seu estilo. Tem, portanto, função facilitadora do processo: começa a prevalecer o argumento bem construÃdo sobre a simples instrução - isto é, competência! Sem sombra de dúvidas o educador pós-moderno é aquele que se inclina para ver na aprendizagem a sabedoria dos desafios e dos limites, mais do que a obtenção de conhecimentos já feitos e definitivos. É aquele que promove a aprendizagem com competência para a formação humana, a fim de que os indivÃduos que estão sob sua responsabilidade possam desenhar futuros, conviver com os limites para transformá-los em desafios que serão enfrentados e superados. Afinal, de que adianta dominar tecnologias, espaço, mapear o genoma se não conseguirmos manter relações pacÃficas com o nosso próximo? É desse tipo de educador que precisamos para mudar a sociedade: para que seja mais justa, fraterna, solidária e humana. E que não seja utópica essa nossa visão! REFERÊNCIAS BORDIN, J.; GROSSI, E. P. (Org.). Construtivismo Pós-Piagetiano - um novo paradigma sobre a aprendizagem. 2. ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1993. DEMO, P. Conhecer e aprender - sabedoria dos limites de desafios. Porto Alegre: Artmed, 2000. FERREIRA, A. B. de H Dicionário da LÃngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. |
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