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Edições Anteriores 231 Educação para o combate a miséria: uma estratégia para a sustentabilidade planetária
Educação para o combate a miséria: uma estratégia para a sustentabilidade planetária PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Nilton Bruno Tomelin   
Qua, 07 de Julho de 2010 00:00

A caminhada histórica que conduziu a humanidade ao século XXI alinhou-se a diferentes paradigmas. Os mais recentes são a predação e a competitividade. O primeiro concebe e difunde a idéia de que a relação do homem com a natureza é de exploração e destruição percebendo-a inclusive como obstáculo ao desenvolvimento e ao progresso. O segundo reconhece que não há espaço para todos e assim, ascende social e economicamente aquele que se impõe com superioridade em relação aos outros. Coube a educação em todos os níveis, neste contexto, consolidar,  difundir e dar sustentação a estes paradigmas ao longo dos últimos tempos. Entretanto os frutos desta postura não tardaram a aparecer. Desastres ambientais e sociais tornam-se sempre mais evidentes e intensos fazendo vítimas em número cada vez maior. A predação e a competitividade geraram e concentraram renda produzindo uma cruel tradição de organização social de forma piramidal. Esta é constituída por uma ampla base de pobres e miseráveis e um ápice estreito em que se concentra um reduzido número de pessoas e a maior parte da renda.

Assim, num contexto predativo e competitivo, base e ápice desta pirâmide apostam na continuidade deste modelo. A base para sobreviver e o ápice para consolidar sua posição, gerando uma espécie de conformismo. A educação tem uma contribuição histórica impressa nesta estruturação, especialmente quando controlada por regimes elitistas, conservadores e reacionários. Por esta razão pode-se atribuir à educação a tarefa de estabelecer novos paradigmas alicerçados em valores éticos e solidários no sentido de estabelecer os paradigmas da proteção e da cooperação.

Pela proteção considera-se a possibilidade de explorar a natureza de forma equilibrada, utilizando-se o conhecimento em favor da otimização no uso de recursos renováveis e não-renováveis. Além da preocupação com o uso destes recursos há uma série de atitudes em relação a sua exploração para que a vida possa seguir nas mais diversas formas de expressão. Quanto a cooperação entende-se como princípio fundamental alimentado pelo inconformismo e pela capacidade permanente de indignação diante daquilo que não é justo e ético.

Uma das maiores causas de indignação que deve permear os adeptos da proteção e da cooperação é a miséria que condena, milhares de seres humanos. Entretanto, esta indignação deve representar uma mudança de atitudes, especialmente no campo educacional, através do qual será possível construir um futuro possível e por isso sustentável. Enquanto o direito de não passar fome for uma utopia para um grande contingente de seres humanos, não há sequer como sonhar com sustentabilidade. Mas por que esta utopia insiste em se estabelecer se do ponto de vista teórico vive-se num tempo de mudanças e transformações? O fato da proposta de transformação ter sido pensada num contexto de desenvolvimento pautado numa concepção capitalista mercadológica, que prima entre outras coisas pelo lucro, torna-se um tanto difícil assimilar e aplicar a teoria da sustentabilidade à prática das relações econômicas.

Assim há uma tentativa, pouco frutífera, de imprimir sustentabilidade a um modelo de desenvolvimento, que tem em sua essência além do lucro, a acumulação ilimitada e restrita de bens e recursos e a exploração do trabalho. Eis, outro grande espaço de ação da educação. Sensibilizar as pessoas para a inviabilidade do modelo ou padrão e para a construção coletiva de um novo paradigma econômico e social que busque a solidariedade, a cooperação e a paz planetária. Não se trata de inserir mais pessoas na seleta classe dos ricos, mas de promover um aumento e melhora da qualidade de vida de todos e todas.

Assim, a pregação pelo chamado desenvolvimento sustentável, torna-se inócua enquanto alguém no mundo não puder encerar seu dia com dignidade para si e para os seus. Combater a miséria revela-se como um dos desafios ecológicos do século XXI e para a consolidação da sustentabilidade como princípio vital. Se o século XX testemunhou uma incessante construção de superconceitos e invenções, o XXI  tende a se voltar para a utilização destes como garantia de dignidade a todos os seres humanos. A sustentabilidade gera um desenvolvimento complexo, equânime e solidário. Assim pode-se dizer que se o século XX corresponde ao período tecnozóico da era moderna, o XXI certamente será o ecozóico.

Mas é importante dizer que apesar da sustentabilidade ter sua gênese no pensamento referente a preocupação ecológico-ambiental, não se restringe a este. Ao contrário, a sustentabilidade ambiental é apenas um dos elementos do tripé que estabelece um modelo sustentável de vida, que conta ainda com a sustentabilidade social e a econômica. Este tripé demanda uma educação que se apresente como instrumento de consolidação de práticas éticas e sustentáveis de geração e distribuição de renda, de respeito e tolerância aos diferentes e de combate a miséria.

Conviver com um modelo que gera miséria e fome e supor possível convertê-lo em sustentável sem mudar sua matriz teórica e prática transita entre o demagógico e o infame. A proposição desta mudança se dará por homens e mulheres (trans)formados por uma educação que lhe possibilite exercer dialeticamente sua indignação. Uma indignação que se volte contra princípios, pessoas e entidades que por atos ou omissões, preguem a tolerância ao que é injusto, imoral, opressor e desumano. Trata-se pois de uma educação tomada de coragem, conflitante, desafiadora. Uma educação voltada a interesses de defesa incondicional à vida planetária.

 
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