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Edições Anteriores 222 As marcas implicitas no discurso: Violação das máximas no filme o "Auto da Compadecida
As marcas implicitas no discurso: Violação das máximas no filme o "Auto da Compadecida PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Wellington Neves Vieira   
Qua, 05 de Maio de 2010 00:00

RESUMO:

 

Este artigo pretende discutir a teoria da interação verbal dos personagens do filme o Auto da Compadecida, demonstrando que a comunicação deve acontecer por princípios cooperativos. Observa-se nos diálogos do filme Auto da compadecida de Ariano Suassuna a interação entre os personagens a fim de verificar a cooperação existente entre os personagens e os desvios de sentidos quando há violação das máximas. Para constar isso, nos embasamos na teoria da cooperação e nos princípios das Máximas conversacionais postulados por Grice, (1975).

 

Palavras Chaves: 1.Teoria da interação Verbal; 2.Comunicação; 3.Violação das máximas implícitas.

 

ABSTRACT:

 

This article intend to discuss the theory of verbal interaction of the characters in the movie ‘Auto da Compadecida’, demonstrating that the communication should happen by cooperative principles. It watch the dialogues of the movie of Ariano Suassuna interaction between characters to ensure cooperation between the characters and the deviations of the senses when there is violation of the maxims. For the record that, in the basement in theory of cooperation and the principles of the Maxims conversational postulates of Grice. (1975).


Key Words:
theory of verbal interaction; Communication; violation of the maxims Implicit.

 

INTRODUÇÃO

 

Violação das Máximas no filme “Auto da Compadecida” é o tema do presente trabalho que tem o intuito de apresentar e explicar as conversações entre seus personagens. Primeiramente, serão apresentadas as questões teóricas sobre o assunto em questão, seguido de exemplos sobre a Máxima de Quantidade, Qualidade, Relevância e Modo. A sessão posterior, há uma breve explicação sobre a metodologia usada para a realização das análises de cada cena. Foi utilizada a teoria do princípio de Cooperação, que envolve as máximas de quantidade, qualidade, relevância e modo, já que essa teoria subentende que as pessoas fazem contribuições, na comunicação, procurando ser as mais cooperativas umas com as outras, para assim terem uma comunicação mais eficiente. Para isso, seguem “sub – regras” como: fazer perguntas, responder às questões feitas, esperar sua vez de falar, dar informações quando solicitado.

 

 Nossa análise se baseia na construção dos diálogos do filme o “Auto da compadecida” que tem como enredo o sertão da Paraíba, local pobre e árido, onde o esperto João Grilo (Matheus Nachtergaele) tenta sobreviver tendo por companheiro Chico (Selton Melo), um confuso acompanhante na sua vida. A trama começa a ser hilariantemente tecida quando os dois amigos se empregam numa padaria e passam a se relacionar com o avarento padeiro (Diogo Vilela) e sua mulher, Dora (Denise Fraga), muito namoradeira. Explorados pelos patrões, que lhes concedem tratamento inferior aos animais da casa, os dois, aturdidos pela irresistível compulsão que fundamenta a ambição, vêem uma chance de ganhar alguns trocados quando a cadelinha de estimação da mulher morre e os dois organizam um enterro de luxo, em Latim – o que vai criar um conflito no âmbito da igreja, entre o padre (Rogério Cardoso) e o bispo (Lima Duarte), assim como o coronel (Paulo Goulart), todos engabelados por João Grilo, na sua tentativa deslavada de emendar o mau – feito, sempre obtendo vantagens.

 

 

A situação ainda seria agravada, já que chicó se apaixonaria pela filha do coronel, que tem como pretendente o cabo valentão da cidade. As peripécias destes personagens parecem acabar, entretanto, quando eles são mortos durante uma invasão de cangaceiros da localidade, comandado pelo rude Severino (Marco Nanini). Do outro lado da vida todos são sujeitados a um julgamento, tendo por acusador o diabo (Luis Melo), disposto a todo custo levá-lo para o inferno. João recorre a sua inteligência para convencer o Juiz, Jesus Cristo ( Maurício Gonçalves) a salvá-lo das chamas do inferno e evoca Nossa Senhora (Fernanda Montenegro) para socorrê-lo.

 

  1. Fundamentação teórica

 

É no estudo da pragmática que encontram-se elementos essenciais para a fundamentação deste trabalho, porque a Pragmática é o ramo da lingüística que busca a descrição do uso da linguagem em diferentes enunciados e a forma de como  esses enunciados são na comunicação. Como já foi visto na introdução é o modelo teórico de Grice (1975) que vai acompanhar durante toda a produção desta investigação, uma vez que, este modelo consiste em “determinar do significado do falante a partir da interpretação das intenções deste ao realizar o proferimento de uma sentença. Esse método baseia-se na noção de implicatura conversacional” ( MARCONDES,2005,P.30)

A questão das implicaturas tenta explicar o problema dos conteúdos implícitos, e foi estudada pela Pragmática de várias maneiras. O lingüista francês Oswald Ducrot, procurando descrever as diferentes formas como os significados são produzidos publica, em 1972, Princípios de Semântica lingüística: dizer e não dizer. Segundo Zandwais (1990, p.15),

 

O autor opõe, em primeiro lugar, as significações explícitas às implícitas, na tentativa de demonstrar que, se por um lado a língua pode se representar como um objeto atestado e transparente, por outro, pode se constituir num lugar que se configura por ocultamentos, resistência, negligências, camuflagem, ambigüidades, ou, ainda, enfrentamentos.

Portanto, essas informações precisam ser interpretadas através de alguma lógica para que façam o efeito pretendido pelo seu locutor.

 

Nas cenas analisadas no “AUTO DA COMPADECIDA” há uma violação das máximas que determinam significados. Por conseguinte apresentaremos estes desacordos minuciosamente mais á frente depois de embasamento teórico.

 

De acordo com Grice “toda expressão lingüística deve ser interpretada levando-se em conta seu contexto de uso” (Grice apud MARCONDES 2005,p.30).

 

Se um professor diz a um colega: Neste semestre meus alunos são verdes. Esse o interpretará como fazendo um comentário sobre a imaturidade dos alunos e não sobre sua cor. A palavra verde neste sentido está sendo usada com o significado do falante e não com o significado literal. O ouvinte entende isso porque interpreta a hipótese do significado do falante e não como menos plausível e decide - se, assim, pela do significado do falante. Já sabemos que para haver uma comunicação, é necessário ocorrer um acordo entre os interlocutores, uma suposição do que o outro deseja cooperar durante o ato comunicativo [...] (MARCONDES, 2005, P.30).

 

Esses princípios cooperativos denominado por Grice mostra que deve ocorrer um acordo durante o ato comunicativo, pois essas combinações são divididas em: máxima de quantidade, qualidade, relevância e modo.

 

Parte-se, nesse instante para a análise de alguns exemplos que estão fora dos textos teóricos. Exemplos retirados do site: http://www.pucrs.br/letras/pos/logica/implicat.html.

 

I.A máxima de quantidade: refere-se à contribuição do locutor para com o receptor, visando a ambos um bom entendimento da mensagem, ou seja, a informação em quantidade suficiente:

 

a)     Faça sua contribuição tão informativa quanto é requerida!

 

b)     Não faça sua contribuição mais informativa que o requerido!

 

EX: (A) Qual foi o resultado do jogo de hoje?

 

       (B) – O Grêmio perdeu de dois a zero e, agora, está com três pontos atrás      do Inter e saldo de gols negativos.

 

A resposta de (B) é mais informativa do que o requerido para que possa implicar que o Grêmio, além de perder, está em má situação na tabela de classificação.

 

              I.      A máxima de qualidade: diz respeito a se falar somente o que se acredita ser verdadeiro:

 

a)     Não diga do que você acredita ser falso!

 

b)     Não afirme aquilo para o qual você não tenha evidência adequada.

 

EX:  A) o que você acha do governo militar?

 

       B) Democrático demais.

 

 

Este exemplo evidencia o que costumeiramente se entende por ironia. (A) e (B) sabem que a grande acusação feita aos governos militares é não serem eleitos pelo povo, na maioria dos casos, e obstaculizarem as eleições diretas. Nesse sentido, a resposta de (B) é francamente irônica, afirmando algo em que ele não acredita, para implicar que, ao contrário do que se diz, acusa o governo de antidemocrático.

 

 

            II.       A máxima de relevância (relação): diz respeito áquilo que é falado e é importante para aquele momento: Seja relevante!

 

 

EX: (A) Você vai me dar uma aliança de brilhante de presente?

 

       (B) – Puxa! Como está quente, hoje.

 

       (A) – Eu perguntei se você vai me dar á aliança?

 

       (B) – Em compensação, acho que finalmente vai chover.

 

 

Neste contexto, poder –se – ia supor que marido e mulher dialogassem e que o marido (B) estivesse quebrando a máxima de relevância para implicar que não quer enfrentar a pergunta de sua mulher objetivamente. A sua segunda resposta é relevante em relação a sua primeira afirmação e continua quebrando a máxima no que se refere á pergunta de sua mulher.

 

 

          III.      A máxima de modo, dividida em mais quatro submáximas, refere-se á objetividade e á clareza de conteúdo comunicado:

 

 

a)     Evite obscuridades de expressão.

b)      Evite ambigüidades.

c)       Seja breve (evite prolixidade desnecessária).

d)     Seja ordenado.

 

 

EX: (A) – Sua secretária parece ser eficiente.

 

       (B) – Sem dúvida, é uma mulher muito boa.

 

 

A resposta de (B) explora, voluntariamente, a ambigüidade da expressão “boa” em português, quando aplicada a uma mulher. (B) diz que ela é boa, mas acentua o objetivo para implicar a possibilidade de ela ser muito sensual.

 

3. O Corpus de análise:

 

 

Os matériais utilizados para a pesquisa foram às cenas do filme “O auto da compadecida”, para explicitar a concepção cooperativa definindo um modelo de como deveria funcionar a interação lingüística proposta por Grice (1975). Foram observadas seis cenas, levando em consideração o modelo proposto visando dar conta do que seriam os pressupostos ou expectativas dos interlocutores quando se engajam em processo comunicativo. Vamos então as análises.

 

 

3.1. Análise e discussão dos dados:

 

      

M  Major Antonio Morais: Cena 04 – 00:08:31

 

- Ainda lembra da minha filha Rosinha?

 

Padeiro: - Claro! Cabelos lisos, olhos pretos, ombros largos, seios fartos, cintura...








Máxima de Quantidade
 

Máxima de Quantidade garante que só se devem dar informações em quantidades suficientes, ou seja, não dê mais informações que o necessário. Entretanto, o discurso acima ocorre um abandono na máxima de quantidade, pois a quantidade de informações que o padeiro dá sobre a pergunta do “Major Antonio Morais” é muito maior do que requerida. Essa violação gera uma quebra no discurso entre os falantes, pois o locutor pergunta sobre a lembrança da sua filha e o receptor emite a descrição das belezas físicas que são atribuídas a ela.

 

 

Máxima de Relação

 

A)    Dora: CENA 05 – 00:13:31

- ó cara desmandado, eu não mandei você ficar lá olhando a cachorra.

B) Chico: - mandou

A)    Dora: – E como ela está?

B) chicó: - Está lá com quatro patas, um rabo, um focinho...

 

 

Notamos que Dora pergunta pela saúde da cachorra e Chicó responde a forma de como a cachorra está fisicamente, ele está fugindo da pergunta de Dora. Chicó, faz isso de propósito para não dizer que a cachorra faleceu, então, temos acerta irrelevância da parte de chicó, ocorrendo portanto, abandono na máxima de relevância

 

 Máxima de qualidade

 

 

CENA 06 – 0:21:01

(A)  joão grilo: - Por que foi que o senhor me chamou de safado?

(B)   Padre: - Porque você é um amarelo muito safado.

(C) João grilo:- Há que safadeza é essa? Isso não é nada padre João, muito pior é enterrar a cachorra como se fosse cristã, e nem por isso te chamo de safado. Ainda mais em Latim.

 

 

Na máxima de qualidade o que se visa é a formação que seja, comprovadamente, verdadeira, não despertando nenhuma dúvida a respeito de uma possível falsificação lingüística ou moral. Portanto, no diálogo de João grilo com o Padre, não há nenhuma quebra de máximas. João grilo utiliza argumentos verdadeiros, contra o padre, expressando uma idéia positiva sem infringir a máxima de qualidade.

 

Máxima de Relação

 

CENA 04 – 00:02:05

 

(A)  Padeiro: - Pra onde você vai?

(B) Dora: - E você, donde vem com essa sandália suja de terra melando a casa?

(A)  Padeiro: Eu perguntei pra onde você vai?

(B)  Dora: Eu volto logo.

 

o grilo utiliza argumentos verdadeiros, contra o padre, expressando um idpectativas dos interlocurmaç            

 

 

Na máxima de relação é evidente que ocorra relevância entre o locutor e o interlocutor, portanto, na cena diagnósticada não ocorre esses princípios, pois o padeiro (A) e a sua mulher Dora (B) dialogam e que Dora (B) quebra sempre a máxima de relevância para implicar que não quer responder a pergunta de seu esposo objetivamente. A segunda resposta de Dora (B) para o Padeiro (A) também é irrelevante e continua quebrando a máxima no que se refere à pergunta de seu esposo (padeiro),(A).

 

Máxima de Relevância

 

CENA 07  00: 05:00

(A) Mendigo: Me dê uma esmolinha pelo amor de Deus?

(B) Dora: Não!

(A) mendigo: ajude um pobre mendigo que tem um olho furado.

(c) Padeiro: E eu com isso foi eu que furei o teu olho por acaso?

 

No diálogo acima, nota-se uma certa relevância na comunicação do “Mendigo” (A) com Dora (B), ela responde a pergunta de forma relevante. Ainda na mesma cena o “Mendigo” (A) passa a falar com Padeiro (C), por conseguinte, ocorre um  abandono na máxima de relevância,pois o “Mendigo”(A) pede uma ajuda ao Padeiro (C)  e este o responde de forma completamente irrelevante. Pela resposta do Padeiro (C)  só poderia ser relevante se caso  o “Mendigo” (A)   estivesse culpando de algo,mas a intenção não era essa.

 

Máxima de Quantidade

 

CENA 10   00:00:02

(A)  Chicô: Como vai a senhora já está mais consolada?

(B)  Dora: Consolada!, como!, se além de perder minha cachorra ainda tive que gastar nove contos para ela se enterrar.

(A)  E foi barato, a senhora pagou nove contos pra poder benzer o bicho, eu já vi pagar em quinze contos pro bicho benzer uma pessoa.

(B)  Dora: E que bicho foi esse Chico?

(A)  Chicô: Foi um papagaio que eu tive.

 

Na análise dessa cena foi constatada a presença de uma máxima de quantidade no diálogo de Chicô (A) com Dora (B), ambos ao se comunicarem passam informações em quantidades suficientes, mostrando um bom entendimento da mensagem, entre locutor e receptor.

 

4. Considerações Finais:

 

Esta pesquisa analisou os processos de comunicações, conforme a teoria de Grice, no filme “ O AUTO DA COMPADECIDA”.Foi verificado a forma de como se dá os processos comunicativos presentes nas conversações dessas cenas do filme, levando em consideração que a história, o contexto, o falante e a própria conversação fazem parte de uma simulação guiada por um roteiro,  um diretor e modalizada por todo o aparato cinematográfico. Assim, é possível constatar nesta pesquisa que os seres humanos não se comunicam através de códigos ou interferências de modo exclusivo, mas essencialmente de modo complementar e cooperativo. Isso confirmou a possibilidades de tratar dos fenômenos comunicacionais codificados lingüisticamente ou implicados a partir do código verbal e de outros estímulos não verbais que estão presentes na cena.

 

6.  REFERÊNCIAS BIBLIORÁFICAS

H.P. GRICE. Logic and Conversation, in p. Cole and J.L. Morgan (eds), Sintax and Demantics, vol 3. New York. Academic Press.1975.

 

MARCONDES Danilo. A pragmática na filosofia contemporânea. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar,2005.


ZANDWAIS
, Ana (1990). Estratégias de Leitura: como decodificar     sentidos não-literais na linguagem verbal. Porto Alegre: Sagra.


http://www.pucrs.br/letras/pos/logica/implicat.html. Acesso em 18/05/2008.

 


[1] Discente do curso de Letras habilitação Português/Inglês da Faculdade Sete de Setembro – FASETE – Paulo Afonso - BA

 

Autor deste artigo: Wellington Neves Vieira - participante desde Seg, 16 de Novembro de 2009.

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