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Edições Anteriores 48 A escola e os jovens em desarmonia
A escola e os jovens em desarmonia PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Magno de Aguiar Maranhao   
Qua, 16 de Março de 2005 21:00

Já conhecíamos os resultados do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2004, que aferiu os conhecimentos de 1.035.042 concluintes: média 48,95 na redação e 45,58 na prova objetiva, constituída de 63 questões, sendo que 46,8% tiveram desempenho entre insuficiente e regular, 41,6% entre regular e bom e apenas 11,6% entre bom e excelente. O que não conhecíamos era a opinião destes jovens acerca das escolas em que estudaram. A pesquisa foi feita através de um questionário socioeconômico preparado pelo INEP com 205 perguntas e o que conclui, em suma, é que nossa rede de ensino (pública, sobretudo) está distante de responder aos anseios dos alunos, não estimula seus talentos e nada faz para que se sintam acolhidos.

Um dos itens mais interessantes do questionário referia-se à capacidade da escola de levar em conta problemas pessoais dos jovens - 44% se disseram descontentes. Um dado relevante. Hoje, qualquer empresa que se pretenda eficiente procura sintonizar com gostos e necessidades dos trabalhadores, já que o bem-estar e a segurança aumentam a produtividade. Estabelecimentos de ensino devem fazer o mesmo, pois é impossível atrair a atenção dos indivíduos se estão desconfortáveis e sentem que a instituição, simplesmente, não se importa. Não sabemos, porém, se as escolas não proporcionam um ambiente acolhedor porque ainda seguem a prática da "educação bancária", como dizia Paulo Freire (os alunos são, meramente, "contas" bancárias onde se "depositam" informações), ou por não disporem de infra-estrutura para suprir as carências dos alunos. A última hipótese é mais provável.

As falhas do ensino médio brasileiro, que reúne 9,1 milhões de matrículas (mais de 80% na rede pública) são graves, e a maior está no fato das escolas não se adaptarem à clientela real. Para se ter idéia, mais de metade dos alunos têm um histórico escolar acidentado e estão atrasados (de 1,85 milhão de concluintes registrados no último censo, apenas 950 mil tinham entre 17 e 19 anos; 105 mil tinham mais de 29), estudam à noite (de 191 mil turmas das redes estaduais, 101 mil são noturnas) e 44% também trabalham, o que afeta o rendimento. Embora a taxa de escolarização na faixa de 15 a 17 anos ultrapasse 80%, 50% estão no ensino fundamental e só 33,3% no ensino médio, aonde chegam despreparados para desenvolver as competências exigidas nesta fase - tanto que, segundo o último censo escolar, 785 mil o abandonaram logo na primeira série, em um ano. Mas a situação dos que chegam à terceira e última série não é das melhores: o último exame do Saeb (que avalia a educação básica), em 2003, revelou que, em Língua Portuguesa, 38,6% dos alunos estavam em estágio crítico e muito crítico de aprendizado e não mais que 6,2% no estágio adequado; em Matemática, 68,6% estavam nos piores estágios e 6,9% no adequado.

Apesar dos pesares, de acordo com o questionário do Enem, 49,6% dos concluintes pretendiam ingressar no ensino superior (não espanta que se reserve vagas para egressos de escolas públicas), 47,1% consideravam-se aptos para o mercado e 50,8% classificaram suas escolas de regulares a excelentes. Mas há contradições ao cruzarmos esse e outros dados do questionário. Se mais de 50% achavam sua escola, no mínimo, regular, por que 63% apontaram falhas graves de infra-estrutura, como acesso insuficiente a computadores e laboratórios, e 35,4% queixaram-se da falta de bibliotecas? Por que 56,4% reclamaram de poucas atividades extraclasse? Por que 45,8% queixaram-se do ensino de línguas estrangeiras? Por que 60% declararam que a escola pouco ou nada lhes influenciou na escolha da carreira (a TV teve peso maior)? E, voltando ao ponto de partida, por que 44% achavam que a escola desconsiderava seus problemas pessoais? Na pesquisa, só um ponto positivo: 76% elogiaram a dedicação dos professores.

A rede pública parece oferecer um ensino médio pró-forma. Não dispõe dos recursos pedagógicos mínimos requeridos, atualmente, por este nível; não facilita o acesso a bens culturais e, mesmo concentrando enorme massa de alunos com grandes necessidades educacionais, não os ajuda a superá-las e muito menos a desenvolver sua autoconfiança, descobrir seus talentos e vocação. E não vai, aqui, nenhuma crítica a estabelecimentos e docentes, mas a um sistema educacional que comprime jovens que lutam por uma chance de inclusão em turnos apertados, dentro de escolas desaparelhadas, onde o ensino das disciplinas básicas só não é mais difícil que a formação de um cidadão para o trabalho e para a vida.

 
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