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Escrito por Samuel José Casarin   
Ter, 01 de Dezembro de 2009 21:41

EaD – Impressões

Samuel José Casarin[1]

Como é de amplo conhecimento, o ensino superior brasileiro experimentou entre os anos de 2000 e 2005 uma fase exponencial na sua expansão (iniciada na década de 1990) tanto na oferta de cursos/vagas como também no número de instituições de ensino superior (IES) credenciadas. Como marco referencial, podemos tomar 2006 como o ano de início do declínio das IES, rampa baixo, que ainda persiste devido a uma série de fatores combinados, também conhecidos e já muito discutidos. As IES estão à caça de alunos e essa caça está cada vez mais escassa.

 

Em decorrência desse quadro, o ensino a distância (EaD) apresenta-se como uma forma alternativa para as IES captarem novos alunos, ofertando nessa modalidade cursos outrora, tradicionalmente, presenciais. Assim o EaD vem crescendo, em parte, à custa da bandeira da inclusão, focando na oportunidade para milhares de “sem-diploma” (não tem os sem-terra?) se diplomarem em um curso superior (sonho de consumo das classes C e D). O “estude em casa”, “faça seu próprio horário de estudos”, “seja dono do seu tempo” entre outras, propagandeou-se como sendo a grande vantagem (diferencial) dos cursos da modalidade EaD. 

Além disso, a queda no preço de computadores e o aumento do uso da banda larga contribuíram (?) para o maior interesse pelo EaD,  além, é claro, do menor valor cobrado pelas IES nas mensalidades para este tipo de curso.

No Brasil o EaD ainda está em fase embrionária, apesar de existir instituições credenciadas para a oferta exclusiva dessa modalidade de ensino. Então, por quê o EaD ainda é problemático e sofre preconceitos?

No meu ponto de vista, alguns fatores cruciais colaboram muito para isso. Vejamos.

1 – O ensino superior brasileiro passa por uma fase delicada no que diz respeito a sua qualidade. Para verificar e confirmar, basta consultar os resultados das últimas avaliações de cursos e de IES realizadas pelo INEP: ENADE, CPC e IGC. A maioria das IES e dos cursos avaliados apresentaram resultados medíocres.

Prega-se hoje, no ensino presencial, a diminuição da carga horária em sala de aula sob a alegação de dar ao aluno maior autonomia, flexibilidade curricular e tempo para estudos extra-classe.

Isso seria excelente para a educação se a maioria dos alunos estivesse preparada para tal. Mas, infelizmente, os alunos não estão. A maioria dos ingressantes nos cursos superiores, além de não passarem por um processo seletivo rigoroso (são apenas processos classificatórios, nada mais que isso) na entrada, eles vem dos ensinos fundamental e médio com uma formação precária, o que faz com que tenham enorme dificuldade (ou incapacidade) em acompanhar as disciplinas do curso. Para esses alunos, ao invés de diminuir a carga horária presencial, deveria haver um aumento substancial de atividades em sala de aula, com supervisão docente. Programas de nivelamento tem se mostrado inadequados e frustrantes.

Esse aluno deficiente (intelectualmente) não sabe fazer uso dessa suposta autonomia, não tem disciplina de trabalho, não sabe pesquisar e não consegue estudar sozinho.

Imaginemos um aluno com esse perfil em um curso na modalidade EaD? Vai sucumbir.

2 – Analogamente à disputa acirrada por alunos que se constata entre as IES, as vagas de emprego também estão sendo disputadas por um contingente cada vez maior de recém formados inexperientes. Conseqüentemente, as seleções para essas vagas estão cada vez mais exigentes e rigorosas. Só para se ter uma idéia da concorrência por uma vaga no mercado de trabalho, este ano a Unilever recebeu mais de 40.000 currículos para seu processo seletivo anual para trainees, para 30 vagas oferecidas.

Admitam ou não, ainda existe no mercado de trabalho o conceito (ou pré conceito) de que EaD significa “enganação a distância” na maioria dos casos. Salvo, sempre, é claro, as exceções.

E não é para menos! Se os resultados das avaliações dos cursos presenciais mostram-se desastrosos, o que dirá então daqueles não presenciais?

Se por um lado existe de fato preconceito com relação aos egressos de cursos superiores por EaD, esse mesmo preconceito diminui razoavelmente para egressos de cursos de aperfeiçoamento por EaD onde a carga horária é menor, o aluno é mais maduro e por ser geralmente cursos não-estruturados são também mais focados em uma temática.

3 – Tenho vivenciado alguns fatos pitorescos em cursos na modalidade EaD. No material didático de apoio do curso, apresentam-se textos/artigos, formulários com questões, fóruns, pequenas apresentações em PowerPoint e vídeos.

Na outra ponta está o aluno. Geralmente esse aluno provem de um extrato social das classes C e D, tem computador em casa, mas com uma configuração que em muitos casos deixa a desejar. A conexão de internet quando não é discada, é de banda larga de baixíssima velocidade. Daí, assistir vídeos torna-se uma tortura. Fazer download de arquivos é também uma tarefa lenta e desanimadora.

Assim, um desafio a ser superado para um melhor aproveitamento dos cursos por EaD está na qualidade da internet do aluno. Banda larga de alta velocidade, que seria ideal, custa caro e é pouco acessível. Além disso a banda larga no Brasil está longe de ser de boa qualidade.

4 – Há ainda questões culturais, tanto da parte do aluno como da parte da IES. Por incrível que pareça a internet ainda é novidade para muitos. Tem aluno que tem dificuldade em colocar uma simples fotografia para montar seu perfil em uma plataforma de EaD. Outros não sabem postar (anexar) um arquivo em seu portfólio ou um simples comentário em um fórum de discussão. Isso é cultural.

Da parte da IES, não se sabe por que, as mesmas insistem em pagar um valor de hora-aula aos tutores (os professores dos cursos EaD) inferior ao valor pago nas aulas presenciais. O que justifica isso? Além disso, muitas IES ainda pensam que EaD é uma modalidade de curso que exige pouco investimento, vai atender um número enorme de alunos e dar grandes lucros. IES que pensa assim oferece o “Engana a Distância”.

Voltando ao aluno, o sonho de muitos é ter um diploma de curso superior. Se o curso vai ser bom ou não é outra questão. Se eu pagar e ganhar o diploma é o que interessa. Infelizmente muitos pensam assim e vêem no EaD uma forma de enrolar e sair diplomado.

Também por motivos culturais, não se cria um comprometimento com o curso. Estudar e fazer as tarefas passa a ser algo secundário, terciário. O aluno não se disciplina. Assim, cuidar da casa, dos filhos, do marido, do cachorro ou gato, fazer compras, se arrumar para uma festa, ir a igreja, ir ao shopping, assistir ao capítulo da novela etc tornam-se prioridades e o curso por EaD é relegado ao enésimo plano. O aluno pensa: “se sobrar tempo estudo”. Vacilou novamente!

Não há como negar o futuro promissor do ensino a distância, mas até que esta modalidade tenha pleno amadurecimento muitos desafios ainda estão por ser vencidos, seja de ordem tecnológica, social, cultural, pedagógica, econômica entre outras.



[1] Consultor.

 

Autor deste artigo: Samuel José Casarin - participante desde Qui, 16 de Junho de 2005.

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