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Escrito por Maria de Fátima de Sousa Moreira Fonseca   
Qua, 17 de Junho de 2009 00:00

 

Os trabalhos de conclusão de curso podem servir para qualquer coisa, exceto iniciar o aluno na pesquisa científica e avaliar seu conhecimento acerca de determinado assunto.  Ainda que existam trabalhos realmente bons, a maior parte deles é um mosaico de textos retirados de livros ou de outros trabalhos do mesmo gênero. Neles encontramos desde erros gramaticais que colocam em risco o sentido do texto até erros metodológicos grosseiros, tais como citar um autor no corpo do texto e não incluí-lo nas referências bibliográficas. Sem falar na monotonia de idéias repetidas, às vezes desconexas, e do uso indiscriminado de citações. Mas, e os professores? Como se posicionam frente ao problema? Estão preparados para lidar com ele? Recebem apoio institucional para cortar o mal pela raiz?

 

Órgãos governamentais têm partido do princípio de que a crise do ensino pode ser superada melhorando-se a formação acadêmica dos professores. Em conseqüência, o Ministério da Educação fixou condições mais rigorosas para que os profissionais do ensino sejam considerados habilitados ao exercício do magistério. Além de curso superior, os professores precisam especializar-se após a graduação, conquistar títulos e produzir uma considerável cota de “conhecimento científico”. É aí que o problema, em vez de ser contornado, avança. A experiência vem revelando que esses quesitos, embora sejam importantes, não constituem condição intrínseca para que um professor exerça sua função com eficiência. Sucesso na arte de ensinar não é algo que possa ser obtido exclusivamente com títulos e produções textuais - nem sempre científicas, acrescente-se. Conhecimento não pode ser produzido em série como se fosse alfinete, e uma universidade não pode ser tomada por uma fábrica erguida sobre pilares tayloristas. Conhecimento não pode ser pesado em quilogramas ou medido em metros e seu tamanho corresponde ao do próprio homem. O conhecimento é fruto de trabalho intelectual árduo e, embora o sistema econômico de mercado empurre-o para baixo de suas leis, a realidade tem sua própria lógica, impermeável ao idealizado. Muito do que se rotula como produção acadêmica ou científica é repetição de coisas já discutidas, elaboradas e consagradas.

 

Outro problema é o cientificismo, enraizado em nossa cultura, e que, paradoxalmente, é  um dos grandes obstáculos à sabedoria e à realização da ciência de fato.  Uma vez que os frutos do pensamento humano só passam a ter valor de verdade se forem passíveis de serem cientificamente comprovados, tudo o que os professores produzem têm que ser, obrigatoriamente, científicos para que tenham credibilidade. O que fazer na ausência de idéias, teses e experimentos originais e científicos? Frente a essas dificuldades surgem, então, os neologismos vazios, criados para causar impacto e diminuir o desgaste natural sofrido pela repetição dos mesmos enunciados e conclusões. O pior é que acabamos acreditando neles e esquecemos o óbvio: se queremos fabricar parafusos, podemos fazê-lo, pesquisando maneiras de melhorar a qualidade do material utilizado, sua funcionalidade e custo, mas sem ter que reinventá-los diariamente para dar ao mundo mais uma notável “descoberta científica”. 

 

Mas, o que isso tem a ver com os trabalhos de conclusão de curso de que estávamos falando? Tudo. Trabalhos de conclusão de curso podem ser copiados, plagiados ou comprados. Muitos cursos nem fazem essa exigência.  Além dessa verdade, temos as duas hipóteses que levantamos no início. A primeira é a de que muitos professores caíram, sem perceber, na armadilha da “produção do conhecimento”, ficando eles próprios sem condições de exigir dos alunos trabalhos originais. A segunda hipótese é a da ausência de apoio institucional para que o professor ataque o problema de frente, especialmente nas instituições particulares onde prevalece com mais força a velha mentalidade do “pagou, levou”.  Pensadas essas duas hipóteses, e considerando que Taylor não é Sócrates e que, portanto, categorias não se misturam, surge ainda uma terceira: a de que o problema da qualidade da educação brasileira ainda não foi sequer  identificado.

      
 
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