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Um Coordenador Faz Aquilo Que Ele É PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Aguinaldo Conrado Pinto   
Ter, 17 de Março de 2009 00:00

 

                                 Aguinaldo Conrado – Senai/Cetiqt       

 

A disposição moderna de instituir racionalmente as fronteiras de cada ciência e dispor de um lado ao outro os campos específicos de atuação, os âmbitos de competência de cada saber, produziu a ilusão de que o melhor profissional era, sem sombra de dúvida, o especialista.

 

Ainda hoje, quando levantamos uma questão a respeito de qual venha a ser o papel de um coordenador de um curso superior, desejamos saber, no final das contas, quais os novos contornos, que novas competências e habilidades deve dominar esse sujeito que intenta aplicar-se ao ofício especializado da coordenação de cursos superiores. Ou seja, buscamos identificar quais as especialidades desse especialista. Identificamos a “novidade” das demandas do mundo contemporâneo, entendemos que precisamos de um novo tipo de coordenador para responder a essas demandas, mas nosso campo de investigação permanece preso aos antigos modelos do técnico especialista

 

Delimitar o papel do coordenador no âmbito do ensino superior contemporâneo esbarra nas dificuldades gerais de toda determinação em nossos dias. A perda dos “fundamentos objetivos” e dos limites de campo “claramente determinados” nos impede de reduzir a especificidade do trabalho de coordenação à um conjunto mínimo e universal de tarefas ou “competências”.

 

A mudança que se efetiva não está, ao que tudo indica, na ordem do quid - não se trata de saber o que um coordenador deve saber [ou poder] fazer para se sair bem no seu trabalho, para realizar bem sua ocupação – e sim, na ordem do quali – qual a qualidade de ocupação do espaço de coordenação que deve ser esperada.

 

Usamos o termo ocupação, não por acaso, para determinar que, mais do que uma série de procedimentos ou, práticas profissionais, trata-se de pensar os modos de ocupar o espaço social da coordenação. O espaço da coordenação sempre foi pensado nos termos de uma função e, como tal, facilmente reduzido à termos absolutos, subordinados aos modelos e perspectivas estabelecidos pela instituição de ensino, Ministério da Educação, mercado etc.

 

A novidade, de mais de cinqüenta ou sessenta anos, é que, postos por terra os limites e fundamentos “objetivos” que regulavam as certezas científicas da modernidade, não só os ideais da metafísica religiosa foram ao chão. Também os fundamentos da metafísica moderna e, no que poderia ser uma referência a Nietzsche, todas as ficções da razão.

 

Vivemos num mundo complexo, difícil de definir, e sempre que tentamos pacificar nossa angústia cientificista com a determinação de algum limite, nos deparamos com experiências que nos recolocam frente à fragilidade e relatividade, a mobilidade das definições e dos sentidos que podemos empregar às coisas. Perdida a noção de verdade absoluta, não há mais como garantir a vigência de nenhuma verdade.

 

A dificuldade de compreender o mundo, então, não se dá pelo fato de o mundo não fazer mais sentido, mas pelo fato de que todos os sentidos estão abertos e se nos oferecem como real possibilidade. Nossa imobilidade, nosso labirinto, o que nos prende e paralisa é menos o fato de termos alguma dúvida, do que o fato de podermos ter todas as certezas, em idêntico grau de valor e verdade.

 

Essa dinâmica [haverá alguma dinâmica?] que marca o que julgamos poder chamar de pós-modernidade ou de mundo pós-metafísico, manifesta na filosofia de um século [ou pouco mais que isso], está longe de ser um problema para filósofos, um problema, diríamos, meramente teórico. Ela expressa um novo modo de consciência, um novo “sistema” de relações e de inter-pessoalidades.

 

O menino, nosso aluno, é um ser humano “conectado”. Telefone celular, “MSN”, Orkut, não são ferramentas de comunicação, são extensões de suas casas e espaço (virtuais) de “convivência”. Assistir TV, conversar no MSN, Ouvir Música, falar ao telefone, discutir com o irmão, enquanto pesquisa no Google um tema ligado à uma disciplina, não é dispersão, mas uma nova qualidade de atenção.

 

Nesse ambiente polissêmico, nessa explosão de sentidos, a perspectiva instrumentalista que extrairia a definição do “perfil” ideal de um coordenador, do conjunto de suas atribuições e tarefas específicas, perde todo o sentido.

 

Ocupar um cargo de coordenador não equivale mais a ocupar uma função, mas a ocupar um lugar ou os vários lugares abertos à existência contemporânea. Em outras palavras, o coordenador deve ser um “especialista” em pessoas. Ouvi-las, buscar compreendê-las, saber fazer-se ouvir, prospectá-las, atraí-las para um projeto em comum (os comuns ainda são possíveis), dividir e aprender.

 

Mais do que uma função ou série de funções adaptáveis, um coordenador precisa “atento” ao mundo. Não há nenhum truque novo a aprender, exceto o de ser o que nós “já-necessariamente-somos”, contemporâneos a nós mesmos. Sendo assim, e invertendo a velha máxima instrumentalista, segunda a qual um sujeito é aquilo que ele faz, diríamos que um coordenador faz aquilo que ele é.

 

 

Autor deste artigo: Aguinaldo Conrado Pinto - participante desde Qui, 12 de Março de 2009.

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