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Edições Anteriores 40 A concepção de educação para Paulo Freire uma trajetória na contra-mão mercadológica capitalista
A concepção de educação para Paulo Freire uma trajetória na contra-mão mercadológica capitalista PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Alexandre Augusto Cals e Souza   
Qua, 24 de Novembro de 2004 21:00

"... A educação não é um processo de adaptação do indivíduo à sociedade. O homem deve transformar a realidade para ser mais, isto é, em sua busca constante pela humanização..." Paulo Freire


INTRODUÇÃO
Qual é o papel da educação na sociedade pós-moderna (1) capitalista? O que significa, nas dimensões educacionais e de acordo com a LDB (2), "preparar para a vida" e "preparar para o mercado de trabalho?" Qual é a função das Instituições de Ensino e dos educadores em um mundo tecnológico, veloz e globalizado? Educar ou instruir: o que é a Escola, afinal, para as pessoas? Qual o sentido da corrida pelas profissionalizações cada vez mais especializadas? A formação humana, onde se enquadra nessa atual realidade? Quais os valores humanos que as escolas desenvolvem atualmente com seus alunos. Os professores ensinam ou "formam" as pessoas para o mercado de trabalho?

Essas questões que, de alguma maneira, manifestam uma faceta da atual realidade educacional, nos motivou a refletir sobre a função da educação e, conseqüentemente do educador na realidade em que vivemos.

LENDO A REALIDADE...
Atualmente é comum vincular o processo educacional de uma pessoa à sua inserção no mercado de trabalho, por meio de uma atividade profissional que o identifique dentro de uma determinada sociedade. As pessoas com essas perspectivas caracterizam-se pela sua identidade profissional e não pela sua vocação humana que ama, respeita, dialoga com o outro.

Desde cedo, a pergunta mais freqüente que ouvimos é "o que você quer ser quando crescer?". As crianças quando iniciam sua trajetória educacional começam a buscar entender essa pergunta e elaboram na sua ingênua consciência a profissão que almejam seguir quando forem adultas.

A verdade é que, quando crianças, respondemos a essa pergunta a partir de um mundo de sonhos ou dos exemplos que temos em casa e/ou das pessoas mais próximas e adultas que conhecemos. Contudo, com o passar do tempo, outras situações interferem em nossas respostas. O poder aquisitivo, a remuneração, o retorno monetário das diferentes profissões, a demanda do mercado de trabalho, entre outras, são algumas delas.

É muito comum percebermos em épocas destinadas aos vestibulares universitários a presença de revistas e/ou periódicos que procuram acentuar a existência de profissões muito bem remuneradas aos olhos e conceitos do mercado de trabalho capitalista.

A intenção explícita de fazer com que a rentabilidade de determinadas profissões, num futuro não muito distante, seja uma das únicas estratégias de escolhas para uma trajetória universitária funciona, muitas vezes, como objetivo de atrair adeptos aos cursos e, conseqüentemente às Instituições de Ensino, principalmente as particulares.

O critério de cada curso a serem desenvolvidos e oferecidos por essas Instituições de Ensino Superior, quase sempre estão colocadas para responder uma necessidade imediata do mercado de trabalho, que atualmente transforma-se rapidamente e acentua cada vez mais a necessidade de saber-fazer em detrimento do Ser Mais.

O professor Paulo Freire, educador e lutador contra as desigualdades entre classes sociais, nos vêm alertando desde o fim da década de sessenta, aproximadamente, o que poderia vir a ocorrer com a educação nesses tempos atuais. Sendo assim, é necessariamente importante aprofundarmos o diálogo com Freire para entender melhor essa realidade.

O QUE NOS ENSINA PAULO FREIRE...

O cão e a árvore também, são inacabados, mas o homem se sabe inacabado e por isso se educa. Não haveria educação se o homem fosse um ser acabado. O homem pergunta-se: quem sou? de onde venho? onde posso estar? O homem pode refletir sobre si mesmo e colocar-se num determinado momento, numa certa realidade: é um ser na busca constante de ser mais e, como um ser inacabado, que está em constante busca. Eis aqui a raiz da educação.

Iniciamos esse diálogo com Freire citando acima o que o educador nos coloca como ponto de partida para nossa reflexão sobre a educação e sobre o próprio homem.

Para ele, educar não é uma mera transmissão de conhecimentos, um simples "depositar" de conteúdos que os educandos vão deixando fazer em suas cabeças. Educar vai, além disso, é uma busca, busca constante de sua humanização, portanto, o homem não pode ser objeto dela, por isso, ninguém educa ninguém.

A nossa busca nessa discussão com o autor é perceber a importância por ele dada à educação, através de uma formação humana, onde as pessoas estejam em constante imbricamento com valores ontológicos para uma melhor relação entre os homens, diferenciando-se, portanto, de uma educação voltada somente para o mercado de trabalho, onde as pessoas se utilizam da educação para adquirir habilidades para o mercado de produção capitalista.

Deixemos claro aqui que não somos contra o mercado, mas sim, contra a forma que esse sistema - o mercado capitalista, se utiliza da educação para benefícios próprios.

O caráter humanista educacional freireano, centraliza seus esforços na desmitificação do mundo e da realidade, onde os homens não são coisas, objetos, mas pessoas que podem transformar o mundo. Diferentemente da visão capitalista de mercado, onde as pessoas são meros objetos de manipulação dos detentores do poder e, por isso, são coisas que não pensam, não dialogam e não buscam sua humanização.

Freire numa de suas obras fala do trabalhador social que na sua perspectiva: não pode ser um homem neutro frente ao mundo, um homem neutro frente à desumanização ou humanização, frente à permanência do que já não representa os caminhos do humano ou à mudança destes caminhos. O trabalhador social, como homem, tem que fazer sua opção. Ou adere à mudança que ocorre no sentido da verdadeira humanização do homem, de seu ser mais, ou fica a favor da permanência. O trabalhador social tem que está constantemente em busca de sua humanização, caso isso não ocorra, sua única opção será o de mantenedor do status quo.

A nova concepção de mercado, nos mostra que a educação serve somente para "capacitar" e desenvolver "competências e habilidades" nos homens para sua inserção na economia de uma sociedade.

Os homens nesta concepção são "formados" desde o início de sua socialização a interagirem com diferenças entre classes, onde uns tem o poder sobre os outros. Nas escolas, isso não é diferente, as crianças são desde pequenas orientadas pelos "tios e tias" das escolas, a conviverem com diferenças entre classes, no decorrer de sua vida acadêmica, são orientados para escolher uma profissão de acordo com a colocação de sua família nos divisores de classes. Outra questão relevante nesta discussão, é que existem, técnicos especialmente "formados" para a elaboração dos currículos adotados nas Instituições de Ensino, o que não é mera coincidência é que esses currículos estão voltados para a economia, deixando, de lado, a formação do ser mais, da humanização de cada ser.

O que importa para os mantenedores do poder é formar cada vez mais pessoas que sabem-fazer e fazer o mais rápido possível, pois somente assim a geração de lucro será maior.

Destaca-se também, que até o Estado está envolvido pela "mão invisível" do capitalismo, pois ele elabora diretrizes educacionais para corroborar com tais atos de mercados.

Paulo Freire percebeu isso ao longo de sua trajetória como educador e como exilado onde foi possível conhecer diversos países e diferentes formas de educar para ser mais, diferentemente da educação bancária, conceito este, que ele mesmo elaborou no seu mais conhecido livro Pedagogia do Oprimido - livro conhecido no mundo todo, onde se destaca o seu diálogo com os esfarrapados do mundo, os oprimidos por este sistema voraz e aniquilador que é o sistema capitalista de mercado.

Na obra Pedagogia do Oprimido, Freire enfatiza que a busca do ser mais, não pode realizar-se no isolamento, no individualismo, mas na comunhão, na solidariedade dos homens, daí que seja impossível dar-se nas relações antagônicas entre opressores e oprimidos.

Então, para que se efetive uma verdadeira educação entre os homens é preciso superar a dicotomia opressor-oprimidos, buscar uma humanização acima da exploração e neste sentido, o de mercado. Para Freire todas essas questões colocadas neste diálogo perpassam por uma grande categoria de dominação que é a ideologia.

Para superar esta categoria, Freire nos coloca que o opressor - detentor do poder de mercado, para oprimir, precisa de uma teoria de ação opressora, os oprimidos - a maioria das pessoas trabalhadoras, para se libertarem, igualmente necessitam de uma teoria de sua ação. Esta é uma discussão central nas obras de Paulo Freire.

Precisamos, nós educadores buscar cada vez mais, nos conscientizarmos da importância de nosso ato de educar, buscar cada vez mais entender o processo de mudança que ocorre dentro de nossas Instituições Escolares e fundamentalmente continuarmos nosso processo de ser mais, numa busca constante do compromisso com os homens.

Com certeza, este diálogo não se esgota por aqui, mais o que desejamos é que partindo desta reflexão possamos dar continuidade ao pensamento freireano.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 31. ed. Rio de janeiro: Paz e Terra, 2001.
______. Ação cultural para a liberdade. 9. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
______. Educação e mudança. 24. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
______. A educação na cidade. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1999.
______. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. 11. ed. São Paulo: Olho d'água, 2002.
______. Política e educação. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2001. (Coleções Questões da Nossa Época; v. 23).
______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa 14. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. (Coleção Leitura).


NOTAS:
(1) Utilizamos a expressão pós-moderna segundo a concepção de Paulo Freire.
(2) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

 

Autor deste artigo: Alexandre Augusto Cals e Souza - participante desde Sex, 12 de Novembro de 2004.

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