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Edições Anteriores 28 Potencial empreendedor desperdiçado
Potencial empreendedor desperdiçado PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Magno de Aguiar Maranhao   
Qua, 01 de Setembro de 2004 21:00

Aqueles que, neste momento, estão iniciando um negócio próprio, contribuirão para elevar o índice dos 12,9 por cento da população econômica ativa brasileira que são donos ou gerentes de empreendimentos com menos de 42 meses. Mas, também, arriscam-se a engordar um índice bastante negativo: o de 70 por cento de novas empresas que morrem antes do quinto aniversário. Isto porque, apesar de ser a sexta maior nação empreendedora do planeta, o Brasil, contraditoriamente, faz parte do grupo que possui os piores indicadores quando se aferem as possibilidades de sucesso de um novo negócio. Além da falta de apoio governamental, excessiva burocracia e alta taxação que sufocam micro e pequenas empresas, constata-se a ausência de uma cultura empreendedora, baixa escolaridade de boa parcela dos que trabalham por conta própria e dificuldades de acesso a informações que impediriam empreendedores iniciantes de se lançarem no mercado às cegas.

O Brasil possui imenso potencial empreendedor. Desperdiçado. Os dados acima são de um projeto de pesquisa, iniciado em 1999, envolvendo 31 países e 2,4 bilhões de indivíduos, intitulado Global Entrepreneurship Monitor. Coordenado, no Brasil, pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Paraná, em parceria com Sebrae, PUC/PR e IEL/PR, o GEM é atualizado ano a ano e, no Brasil, já detectou as razões pelas quais nossa alta taxa de atividade empreendedora não se traduz em desenvolvimento econômico e social.

Vale abrir parênteses, porém, para as incubadoras de empresas, geralmente mantidas por universidades, com apoio do setor público e empresas. De acordo com a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas, Anprotec, criada em 1987, elas já são mais de 200. Sua função: oferecer a empresas nascentes infra-estrutura (telefonista, internet etc.) e assessoria. Elas ficam incubadas até cinco anos, acumulando experiência e capital bastante para andarem com as próprias pernas. Cerca de 52 por cento são de base tecnológica e contam com a providencial ajuda de agências de fomento à pesquisa.
As incubadoras traduzem a preocupação das instituições de ensino superior de não mais formar empregados - e desempregados. Hoje, as IES têm buscado inserir o empreendedorismo, de alguma forma, em suas grades curriculares, sintonizadas com a difícil realidade que seus formandos enfrentarão: segundo levantamento do Grupo de Indústria e Competitividade do Instituto de Economia da UFRJ, a modernização tecnológica eliminou 10,76 milhões de empregos no Brasil, na década de 90, e as importações, 1,54 milhão. A demanda doméstica gerou, no período, 11,96 milhões de empregos, e as exportações, 3,58 milhões, totalizando 3,24 milhões de postos criados. Pouquíssimo, já que 1,8 milhão de indivíduos entra, todo ano, no mercado.

Assim, parabéns às incubadoras. Contudo, sua clientela é restrita. A massa de novos empreendedores brasileiros não é ligada a universidades, não conta com aporte de recursos do CNPq nem está preparada para arcar com o risco que implica a abertura de um negócio. Cerca de 70 por cento dos empreendimentos nascentes são gerenciados por pessoas que ganham menos de seis salários mínimos mensais; 40 por cento, menos de três salários; apenas 21 por cento recebem de seis a 15 salários. Além disso, embora a maioria dos empreendimentos seja iniciada por pessoas cujas famílias têm renda de R$ 906, os que ficam pertencem àquelas cujas famílias têm renda superior a R$ 2.266. Ou seja, a escora financeira não vem do governo, mas dos parentes.

Quanto à escolaridade, a maior incidência de criação de empresas está na faixa da população com escolaridade média, seguida pela faixa com escolaridade superior e pela faixa sem instrução formal. A maior taxa de sobrevida, porém, é de empreendimentos iniciados por quem tem formação superior. Se considerarmos os indivíduos que trabalham por conta própria e, portanto, são candidatos em potencial à abertura de negócios, somente 20 por cento têm o ensino médio. A maior parte, assim, começa em desvantagem.

De imediato, percebemos dois problemas relacionados à educação. O primeiro é a escolaridade insuficiente que estreita os horizontes dos novos empreendedores. O segundo é que a educação escolar, em nível básico, além de ser de baixa qualidade, está longe de incentivar, nos mais de 30 milhões de alunos dos níveis fundamental e médio, a atitude empreendedora, o que é grave, considerando que um entre oito destes alunos tentará abrir um negócio ao chegar à idade adulta. Mesmo assim, os objetivos da educação escolar parecem imutáveis e o ideal mais alto a que os jovens podem aspirar é o de ser "aproveitado", "empregado", "efetivado". A sexta maior nação empreendedora do mundo é, paradoxalmente, uma nação de "funcionários".

No Brasil, cerca de 43 por cento de novos empreendimentos surgem porque o empreendedor não consegue emprego. Normalmente, não têm credibilidade (só dois por cento da população adulta investe em negócios no nascedouro) ou apoio governamental. A tributação é alta e a burocracia, exagerada. O BIRD, após pesquisar 133 países sobre o assunto, concluiu que o governo brasileiro deve valorizar a função social das micro e pequenas empresas e reduzir a burocracia a que estão sujeitas. Com isso, seriam criados cinco milhões de postos de trabalho (a título de comparação: aqui, leva-se, em média, 152 dias para vencer as etapas de abertura de uma empresa; no Canadá, bastam 24 horas).

Para piorar, como apontou o GEM, não há um sistema de disseminação de informações sobre oportunidades de negócios. Assim, não importa que existam grandes oportunidades, se a população as desconhece e nem tem know how para explorá-las.

A luta dos micro e pequeno empresários brasileiros por melhores condições de sobrevida está organizada. Esta luta, porém, pode se fortalecer, e as dificuldades vencidas com maior facilidade, se, insisto, investíssemos na educação para empreender. Quando estimulamos nos jovens a mente empreendedora, eles acham soluções onde, antes, só enxergávamos problemas, e o mundo dos negócios, distante e arriscado, passa a ser aqui e agora, repleto de chances que podem ser agarradas por quem estiver devidamente preparado para identificá-las, e aproveitá-las.

 
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