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Edições Anteriores 25 A relação pedagógica no Ensino Superior e experiência cultural: a transicionalidade do ser
A relação pedagógica no Ensino Superior e experiência cultural: a transicionalidade do ser PDF Imprimir E-mail
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Escrito por Antonio Edimir Frota Fernandes   
Qua, 11 de Agosto de 2004 21:00

Por isso, parto do princípio de que, embora não sendo possível, de uma só vez, intervir em toda a complexidade institucional, estará sempre ao alcance do professor o desenvolvimento de um clima que propicie a construção de um território de segurança ontológica e de desenvolvimento pleno dos atores envolvidos na relação pedagógica.

É na educação que existe a possibilidade do desenvolvimento das relações harmônicas plenas de todas as faculdades do ser humano, capacitando-o a interagir com o meio físico, moral, espiritual, social, científico, tecnológico, de forma: crítica, pensante, criativa, ética, propiciando a auto-realização do ser humano, em cuja existência enalteçam os elevados princípios cristãos.

Com isso a educação está alicerçada na concepção totalizadora que o ser humano tem do universo e da vida sobre a qual orienta a sua existência, e que através da sua liberdade tem por finalidade o desenvolvimento pleno em todas as suas dimensões, preparando-os para o exercício consciente da cidadania. O exercício da capacidade do homem relacionar-se com sua experiência cultural, possibilita-lhe agir segundo um comportamento adquirido, dando origem ao processo que denominamos de relações pedagógicas e suas experiências culturais.

A educação, portanto, pode ser entendida como o processo pelo qual o ser humano, através de sua capacidade de aprender, adquire experiências culturais que do ponto de vista externo cria condições de desenvolvimento sensório-motor, afetivo, social, ético, intelectual, etc e que internamente, alcança autonomia no desenvolvimento destas dimensões para tornar-se condutor do seu processo de humanização.

Segundo Meirieu ( 1998, p. 24).

Educar não é só desenvolver uma inteligência formal capaz de resolver problemas de gestão da vida cotidiana ou ao se deparar com dificuldades de ordem matemática. Educar é, também, também, desenvolver uma inteligência histórica capaz de discernir em que heranças culturais se estar inserido.
I - A INTERAÇÃO DO SER HUMANO COM O OUTRO NA SALA DE AULA
Se o professor valoriza somente a técnica e os seus resultados imediatos, convém lembrar que isso se constroe no cotidiano, ele não pode perder de vista que os especialistas observam que as relações pedagógicas e as experiências culturais, fazem partem das questões elaboradas pela psicologia, filosofia, sociologia, antropologia, como práxis. Portanto, as relações pedagógicas e as experiências culturais, exige a utilização de teoria/prática com respeito a interação do ser humano com o outro e observa-se que haja interesses comuns para obtenção de resultados satisfatórios e positivos, na sua capacidade de pensar, interagir, relacionar, conhecer-agir, buscando a origem e a causa de determinadas situações ou fenômenos nos seus cotidianos.

As relações pedagógicas e as experiências culturais deve sempre estar comprometida a uma relação de confiança para alcançar uma realidade concreta, abrindo caminhos para as inquietações da humanidade, uma vez que a educação se encontra na vida humana.

Segundo Winnicott ( 1975, p. 142).

O espaço potencial entre o bebê e a mãe, entre a criança e a família, entre o indivíduo e a sociedade ou o mundo, depende da experiência que conduz à confiança. Pode ser visto como sagrado para o indivíduo, porque é aí que este experimenta o viver criativo.
Quanto a citação de Winnicott, ela encontra-se no seio da vida humana, na busca de alternativas e solução dos problemas da sua existência, através de questionamentos, relacionamentos, causas e efeitos de determinadas situações-problemas , mostrando sua capacidade de conhecer um saber instituinte e aberto para com o outro, sobretudo com uma atitude que se pode tomar perante os problemas da sua realidade presente.

Portanto, todo ser humano precisa buscar uma forma de compreender o outro, isso é uma necessidade e um significado à vida do homem. Esse fato é tão evidente que, faz sentido o encontro das pessoas ao discutirem suas experiências culturais nas relações pedagógicas.

Essa relação pedagógica cabe suprir as experiências que permitem as pessoas educar-se num processo ativo de construção do objeto comum, numa interação entre estruturas cognitivas do indivíduo e a experiência cultural do outro, permitindo uma aprendizagem que resulta da ação dos interesses e necessidades, que são estabelecidas de desafios e situações do "aprender fazendo" com o outro.

A interação do ser humano com o outro consiste no "aprender a aprender", quando valoriza-se as tentativas de : experiências culturais, estudos dos meios naturais e sociais, grupo de discussões, práticas educativas, interação constante entre dois saberes ( alunos e professores, pais e filhos, indivíduo e sociedade, etc) isso é uma condição básica do desenvolvimento mental, emocional, cultural, de sí e do outro.
Essa relação desenvolve-se quando existe situações desafiantes, respeito mútuo, responsabilidade, estímulos positivos, informações corretas, instruções que lhes permitam pesquisar, interagir, discutir, soluções provisórias ou até definitivas, chegando até o espaço da transicionalidade do ser, a fim de determinar se existem utilidades para ambos.

II - ESPAÇO POTENCIAL ENTRE ALUNOS E PROFESSORES
Para garantir um clima harmonioso da "transicionalidade do ser" que é com o outro, é indispensável instaurar a "vivência cultural", tal qual deve ser a vida em sociedade. E os pressupostos dessa relação, depende das disposições e interesses das pessoas relacionadas, quando torna-se uma atividade de descoberta entre olhares transicionais. A troca da experiência cultural tem demonstrado um rico instrumento de diagnóstico nesse processo, devido ser uma caminhada para o progresso um do outro. A culminância da transicionalidade do ser, pelos quais são enfatizadas através de teorias pedagógicas, práticas pedagógicas, reflexões filosóficas, etc, não pode-se esquecer que ambos devam estar aberto a mudanças e respeito a autonomia do outro.

A transicionalidade do ser se caracteriza por acentuar o ensino humanístico, no qual existe um impulso de realização plena dos envolvidos nessa relação, pois, não existe predominância imposta na transicionalidade, devido não haver imposição no ensinar ou no aprender, pelo contrário, temos uma realização de satisfação plena de troca de conhecimentos adquiridos, pois, ambos estão fazendo parte de um espaço potencial comum, desde que considerem desenvolver uma interação de relação pedagógica através de suas experiências culturais entre alunos e professores.

Quando acontece a "transicionalidade do ser", observa-se a capacidade de: discernir, corrigir, refazer, redirecionar, de modo que o ensino e aprendizagem estão mais aptos a uma melhor qualidade através da linguagem verbal, visual e corporal, e assim por diante.

Porém, toda a relação de "transicionalidade do ser" existe uma expectativa (ilusória) de um para com o outro. Esse momento se caracteriza como uma motivação de ambos. Podemos citar a relação de um professor que tem a expectativa que o aluno quer aprender e o aluno tem a expectativa que o professor tem conhecimento do conteúdo programático e sabe ensinar, no entanto, quando essa expectativa é rompida, ambos ficam decepcionados e quebram o espaço potencial da "transicionalidade do ser", causando um impacto negativo na vida de ambos. Essa expectativa frustrante causa desinteresse, desmotivação, indisciplina, irreverência, desgaste emocional , etc.

III - O EDUCADOR FRANKSTEIN
A literatura nos conta uma estória ( mito) sob a criação de Frankstein, pelo qual foi uma criatura abandonada pelo idealizador e que aprendeu a socializar-se por conta própria. Somente depois de descobrir quem o criou e o fez sofrer, por aprender processos da vida sem a presença de um educador é que Frankstein revolta-se e vira um monstro.

Segundo Meirieu ( 1998, p. 28).

O educador estrutura seu trabalho na práxis ( uma ação educativa que não tenha fim nela mesma) ou seja, o educador não deve fazer de seu aluno o seu reflexo como se estivesse frente ao espelho, deve sim transmitir uma confiabilidade na capacidade de o aluno aprender e a partir do aprendizado ser crítico, para ampliar a sua aprendizagem.
Portanto, todas as relações pedagógicas e suas experiências culturais representam de forma geral a relação educador e educando como uma situação vivenciada na pessoa do líder (professor) e os educandos que, na evolução de cada vivência, atitudes, expectativas individuais ou coletivas de aprendizado possa derrubar barreiras e preconceitos que a priori pode ou não ir de encontro às expectativas do líder.

O professor é contextualizado nessa ficção para evitar não ser um Educador Frankstein, devido ele ter uma missão sócio-educativa-cultural de ensinar uma vivência através de uma troca de situações educativas entre a aprendizagem e o ensino.

Esta exposição torna necessário um exame do destino desse espaço potencial, que deve entrar em evidência como área vital no desenvolvimento de um educando.
A construção da confiança é o início de um espaço potencial entre o educador e o educando, porque demonstra a compreensão do outro pela construção da confiabilidade baseada na experiência e da independência como fator altamente variável de indivíduo para indivíduo.

IV - CONCLUSÃO
Com esse fim, proponho para relação pedagógica o recurso a processos de comunicação autêntica, que permitam criar espaços de conhecimento e de experiências culturais, sem negar a partilha de valores e a expressão de afetos e de emoções, tão necessários à estruturação da identidade e ao reforço da auto-estima - numa palavra: ao equilíbrio do professor e do aluno.

A obtenção da "transicionalidade do ser", deve ser autêntica, sem barreiras para não dificultar a compreensão e a partilha na relação pedagógica. Para que isto seja possível não basta desejá-lo; é igualmente necessário que o professor desenvolva juntamente com o seu aluno um conjunto de atitudes, que Rogers define como congruência, atenção positiva incondicional e empatia.

Ser congruente na relação com o aluno significa , que o professor é ele mesmo, que se faz sentir na relação, sem máscaras. Significa, finalmente, uma autenticidade que marca a relação pedagógica.

Ser empático, à semelhança de Max Weber, significa não ter pena ou ser simpático, mas compreender o aluno à luz do seu quadro de referência interno, como se o professor fosse o aluno, sem no entanto perder a sua condição ou deixar de ser quem é.

Ser empático na relação pedagógica não é, no entanto fácil. Tal, exige um movimento de vai-e-vem constante, na procura do movimento de aproximação para compreender e agir sobre todo o envolvimento relacional em presença.

Finalmente, para que a relação pedagógica se caracterize pela comunicação autêntica é imprescindível que se dê um salto qualitativo do patamar discursivo para o patamar Ser em e com.

Se o professor conseguir ser ele próprio, apesar das contingências do seu desempenho, tornar-se-á facilitador do processo expressivo do aluno. Uma vez facilitada a relação com o aluno, este sentirá condições de tornar-se ele próprio, com o mínimo de constrangimentos.

Por sua vez, melhorando a relação pedagógica, aumentará não só a eficiência do desempenho do professor, como também o sucesso do aluno e, por conseqüência, a satisfação de ambos.

Acredito que essa é a forma mais fecunda de experiência e de aprendizagem.
Enfim, há um lugar para a criação de um espaço potencial e criativo : o espaço transicional.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Rubem. Conversa com quem gosta de Ensinar. São Paulo : Cortez, 1981.
BORGES, Fábio. Da transmissão de um dever ao dever de uma transmissão, In. FORBES, Jorge ( Org). A escola de Lacan: a formação do psicanalista e a transmissão da psicanálise. Campinas: Papirus, 1992.
FILHO, João Batista Mendonça. A psicanálise escuta a educação. São Paulo: Autentica, 1992.
GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organização da cultura, 4ª ed. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1982.
GURDSDORF, Georges. Professores para quê? Para uma pedagogia da pedagogia. São Paulo : Martins Fontes, 1987.
LARROSA, Jorge. Pedagogia profana : danças, piruetas e mascarados. São Paulo: Autentica, 1995.
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PERRENOUD, Philippe. Ofício de aluno e sentido do trabalho escolar. Porto : Porto Editora, 1995.
PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia : a resposta do grande psicólogo aos problemas de ensino. São Paulo: Forense, 1970.
VYGOSTSKY, L. A formação social da mente. São Paulo : Martins Fontes, 1998.
WINNICOTT, D.W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro, Imago, 1975.

 

Autor deste artigo: Antonio Edimir Frota Fernandes - participante desde Dom, 08 de Fevereiro de 2004.

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